Pesquisadores do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia (CBEE), da UFLA, realizaram um estudo sobre o efeito das estradas no deslocamento de pequenos mamíferos roedores no Sul de Minas Gerais. A pesquisa concluiu que indivíduos da espécie Akodon montensis (conhecida popularmente como rato-do-chão), que vivem em fragmentos florestais margeados por estradas, estão confinados a viver nos mesmos.
A hipótese foi comprovada no experimento: alguns ratos-do-chão foram equipados com “carretéis de rastreamento” (um casulo de linha) e soltos em áreas florestais que margeavam estradas. Conforme se deslocavam, os ratos-de-chão iam soltando a linha, o que possibilitou aos pesquisadores analisarem o trajeto (distância e direção) e as tentativas de travessia para o habitat adjacente. A pesquisa foi realizada perto de margens de diferentes tipos de estradas e de solos: pavimentadas, de terra, pastagens e plantações e fragmentos sem influência de nenhum tipo de uso do solo.
Para surpresa dos pesquisadores, mesmo em fragmentos florestais margeados por estradas de terra, os ratos-do-chão estudados não estão aptos a deixar o fragmento que vivem em busca de outro fragmento florestal, mesmo que este seja do outro lado da estrada. Como esperado em estradas pavimentadas, nenhum indivíduo tentou transpor esta barreira. “Em estradas de terra, pensamos que isso não ocorreria porque o substrato da estrada ainda é natural e o tráfego de veículos é baixo”, aponta a pesquisadora Priscila Lucas, do CBEE.
Também como esperado, os indivíduos de rato-do-chão nas bordas dos fragmentos margeados por outro tipo de uso do solo, exclusivamente aqueles com cobertura vegetal (plantações de café), se deslocaram através destes locais. “Nesse estudo, vimos que, mais que o tipo de estrada, a falta de cobertura de vegetação aérea que ela proporciona desencoraja os indivíduos a tentarem atravessar essas infraestruturas”, conclui a pesquisadora.
Monitoramento de atropelamentos
Uma das ações desenvolvidas no CBEE é o monitoramento de atropelamentos nas estradas brasileiras. O coordenador do Centro e coautor da pesquisa, professor Alex Bager, calcula que o número de colisões com animais em estradas de terra é semelhante ao de estradas pavimentadas: “Proporcionalmente, acontecem menos atropelamentos nas primeiras; porém, como há muito mais estradadas sem pavimentação no Brasil, o número de atropelamentos em ambas se equipara”, aponta.
Efeito barreira
“As estradas são clareiras lineares que geram a perda e a divisão do habitat das espécies. Essas espécies ficam restritas ao fragmento remanescente no qual vivem e que está, muitas vezes, isolado de outros. A estrada pode ser vista como uma barreira que impede o seu deslocamento, embora algumas espécies sejam capazes de se deslocar nelas ou próximo a elas”, explica Priscila. A quantidade de veículos que circulam na rodovia ou a diminuição na qualidade do ambiente e de recursos na borda desses fragmentos florestais são fatores que podem contribuir para esse efeito.
A colisão de animais com veículos não é o único impacto que as estradas causam na biodiversidade. Entender os efeitos causados pelas estradas auxilia o desenvolvimento de medidas de mitigação adequadas. Essa pesquisa é o primeiro resultado publicado do projeto “Estrada Viva”, iniciado em 2012 e financiado pela Fapemig. Esse e outros resultados do estudo podem ser acessados no artigo The effect of roads on edge permeability and movement patterns for small mammals: a case study with Montane Akodont, publicado recentemente no renomado periódico na área de Ecologia Landscape Ecology.
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.