Diversas pesquisas têm buscado alternativas para o uso do amianto na fabricação de telhas. Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu, em todo o País, a produção, a comercialização e o uso do amianto tipo crisotila. O mineral, também conhecido como “asbesto branco”, provoca sérios danos à saúde de trabalhadores das fábricas.
Na Universidade Federal de Lavras (UFLA), diversos materiais, como substituição ao amianto, têm sido pesquisados por pós-graduandos em Engenharia de Biomateriais. Uma dessas pesquisas, a do doutorando Danillo Wisky Silva, analisou a viabilidade do uso de fibras de eucalipto na produção de fibrocimentos pelo processo de extrusão.
Nesse experimento, as fibras de eucalipto foram produzidas por processo termomecânico, sem uso de reagentes químicos. As fibras, juntamente com a matriz cimentícia (cimento e calcário) e a água, passam por uma extrusora, e, através de um processo de mistura e compressão, a massa tomou o formato e tamanho desejados. O fibrocimento é composto por cimento comum e fibras e já são utilizados para telhas moduladas, placas planas, revestimentos, pisos e forros em diversos métodos de produção. Porém, o processo por extrusão ainda é novo e tem algumas vantagens, conforme explica o pesquisador: “Há um menor consumo de água, sendo que a quantidade do liquido utilizada cerca de 30% a 40 % da massa do cimento, enquanto no processo convencional, esse valor é de 60% a 80%, ou seja, você tem uma diminuição de custo. Outro atrativo é que o custo da implantação pelo processo de extrusão é menor; assim, você consegue produzir de maneira eficiente em microrregiões. ”
Em sua pesquisa de mestrado, Danillo utilizou a fibra de eucalipto, um material produzido em grande escala no Brasil. A intenção, segundo ele, foi mostrar que o produto é viável ao mercado: “O objetivo é mostrar que essas telhas podem ser produzidas com materiais livres de amianto, de origem vegetal, renováveis e, ao mesmo tempo, de forma descentralizada (longe das metrópoles,) utilizando o processo de extrusão como alternativa.” Atualmente, a produção de telhas utiliza fibras sintéticas e polpa celulósica, que são tratadas quimicamente. O projeto comparou os dois modelos e mostrou resultados bem promissores: “Com 3% de fibras de eucalipto provindas de processo termomecânico, obtivemos um resultado muito compatível com os da polpa celulose, barateando o custo de produção.”
O estudante explica que o processo de extrusão tem um potencial muito grande, sendo possível seu uso com vários tipos de materiais residuais. “Um produtor de banana, por exemplo, conseguiria produzir fibra através do caule da bananeira, e depois, com a extrusão, montar uma microempresa de produção de telhas moduladas, agregando valor aos seus resíduos regionais.” Para o orientador do projeto, professor Lourival Marin Mendes (DCF), “o estudo mostra uma tecnologia de fácil aplicação, que pode ser absorvida pela sociedade, aproveitando as peculiaridades regionais do Brasil, uma vez que o País é rico em fibras vegetais”, ressalta.
A extrusão, em comparação ao processo convencional, promove uma compactação da mistura, que, por sua vez, aumenta a densidade do fibrocimento. Danillo busca em seu doutorado uma maneira de diminuir essa densidade, sem causar prejuízos significativos na resistência mecânica dos fibrocimentos. Para isso, ele tem usado: polímeros superabsorventes, à base de poliacrilamida (material utilizado em absorventes femininos, fraldas infantis) e hidrogel para plantio de mudas com grande capacidade de absorção e expansão. “O polímero já conseguiu diminuir em 20% a 30% a densidade dos compósitos, com uma perda de 10% a 15% da resistência mecânica, deixando os materiais dentro da classe para telhas onduladas (> 7.0 MPa para módulo de ruptura), possibilitando o processo de extrusão em escala comercial.” Além disso, de acordo com o pesquisador, os polímeros superabsorventes também funcionam como um selador de trincas no concreto.
O professor Lourival acrescenta que a expectativa agora é despertar o interesse das empresas e indústrias para a produção dessas telhas em maior escala através da extrusão: “No Brasil e no exterior, existem fábricas que produzem fibrocimento, mas nenhuma com as características do produto que é desenvolvido pelo Danilo. As informações geradas nesta tese de doutorado serão muito importantes devido ao banimento do amianto.”
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista – bolsista Fapemig/Dcom;
Imagens: Karina Mascarenhas e Mayara Toyama, bolsista Fapemig/Dcom;
Edição do vídeo: Panmela Oliveira, comunicadora – bolsista Dcom/Fapemig.
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.