Folha de São Paulo, 21/01/08
Eduardo Scolese
Alagoas é o Estado líder da exclusão, com 46% dos jovens com o curso incompleto ou analfabetos; São Paulo tem menor taxa
Para educadores, faltam políticas públicas eficientes que alfabetizem os alunos de verdade e atuem na formação de professores
Um em cada cinco jovens entre 18 e 29 anos e que vivem na zona urbana abandonou a escola antes de completar o ensino fundamental, segundo trabalho feito pela Secretaria Geral da Presidência da República com base na Pnad 2006 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.
Segundo o documento, dos 34 milhões dos chamados jovens urbanos do país, 7,4 milhões tiveram de um a sete anos de estudo -período insuficiente para concluir o ensino fundamental. Entre os jovens ‘excluídos’, há ainda um montante de 813,2 mil analfabetos.
No topo dessa lista de exclusão urbana, que leva em conta tanto os que não completaram o ensino fundamental como os analfabetos, estão cinco Estados do Nordeste.
O líder da exclusão é Alagoas, com 46% dos jovens em uma dessas duas situações. Lá, de 432,2 mil jovens, 28,6 mil são analfabetos e 171,6 mil não tiveram sete anos de estudo.
Já na outra ponta do ranking, com o menor índice, está São Paulo (15%). No Estado, entre os 8,3 milhões de jovens, há 99,3 mil analfabetos e 1,1 milhão sem o ensino fundamental (veja quadro nesta página).
‘Somos um país de história recente de letramento. Mas é claro que, nesses últimos 200 anos, não houve políticas públicas eficientes’, afirma a professora Stella Bortoni, da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília).
No país, a região Nordeste é a que possui o maior índice de jovens urbanos ‘excluídos’, 35%. Na seqüência, vêm Norte (31%), Centro-Oeste (25%), Sul (19%) e Sudeste (18%).
‘Há 20 anos, quando muitos desses jovens estavam em idade escolar, o sistema de ensino apresentava uma cobertura menor e uma exclusão maior. Havia mais crianças e adolescentes fora da escola, menos vagas e a rede era menos vascularizada’, declara o professor Fernando Tavares Jr., da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais. ‘Por outro lado [há 20 anos], a reprovação e a evasão eram bem maiores. Os dois fatores conjugados produziram uma exclusão educacional maior nessa geração’, completa.
Um quadro geral sobre a péssima situação da educação nacional pôde ser visto em dezembro, com os resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Entre 57 nações avaliadas, os alunos brasileiros obtiveram a 53ª posição em matemática, a 52ª em ciências e a 48ª em leitura.
‘Há uma rejeição brutal à escola normal. O modelo de escola regular no Brasil está sendo repensado, o que tem sido uma preocupação do Ministério da Educação. Um dos problemas da escola regular no Brasil é excluir essa parcela de crianças e de jovens’, afirma Beto Cury, secretário nacional da Juventude, braço da Secretaria Geral da Presidência.
‘Hoje pelo menos temos consciência do tamanho do problema. É preciso uma mobilização da sociedade e uma escola atraente e que alfabetize de verdade, além de uma mobilização na formação de professores. Que ele [professor] seja um agente letrador, para efetivamente letrar os seus alunos’, diz a professora Stella Bortoni.
71% dos excluídos estão na zona urbana, diz IBGE
Com base em dados do IBGE, o governo federal estimou para 2008 um total de 9 milhões de jovens de 18 a 29 anos sem o ensino fundamental. Desses excluídos, 71% (6,4 milhões) estarão nas zonas urbanas e outros 29% (2,6 milhões) na parte rural.
Por outro lado, numa faixa etária maior em relação ao recorte da estimativa, o governo anunciou a meta de atender 4,2 milhões de jovens entre 15 e 29 anos até 2010. O auxílio viria por meio do Projovem, programa de qualificação profissional e de reinserção dos jovens nos meios de educação.
‘A primeira coisa é reconhecer a gravidade do problema [da exclusão]. E quando falo da gravidade, falo do processo perverso de exclusão da escola que, infelizmente, foi produzido ao longo dos anos’, diz Beto Cury, da Secretaria Nacional da Juventude.
O alvo do Projovem são os fora da escola, sem o ensino fundamental e desempregados. Para o professor Fernando Tavares Jr., da Universidade Federal de Juiz de Fora, as políticas específicas para esses jovens são fundamentais. ‘O percentual de jovens que concluem o ensino fundamental a partir dos 18 anos é baixo e, depois dos 20 ou 22 anos, é baixíssimo, revelando os limites das políticas tradicionais.’