Amazonense de Manaus, a então recém-formada no ensino médio Helena Cristina Carvalho Soares saiu com a família toda de Sergipe num Fiat Uno, deixando tudo o que tinham para trás. A principal razão da mudança é simples de se entender: o irmão de Helena tinha vocação para a área agrária, então um professor de lá sugeriu que ele tentasse estudar em algum lugar em que esse potencial pudesse ser bem aproveitado. Com isso, Teotônio prestou vestibular e passou em Agronomia. Em consequência, seu pai não só incentivou a vinda dele para Minas como mudou-se com a família toda para cá.
Chegando aqui, a garota seguiu os passos do irmão e, atualmente, cursa o 4º período de Educação Física, mora no alojamento da Ufla (os pais moram há 30Km da cidade) e é bolsista-atividade da universidade. “Lá na moradia todo mundo me conhece porque cumpro minhas atividades relativas à bolsa todas as manhãs na cantina, das 5:15h às 7:30h”, diz ela. Enquanto isso, Teotônio já foi prefeito do alojamento e outro irmão, mais novo, também deve prestar vestibular na Ufla ainda nesse período.
Na verdade, cada um a sua maneira, uns mais e outros menos intensamente, nada menos que 784 (20%) dos cerca de 3800 estudantes de graduação da Ufla ultrapassaram as barreiras sociais e, com o apoio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários, estão conseguindo cursar o ensino superior.
Historicamente, desde antes da construção do alojamento misto, a Ufla já possuía algum tipo de assistência estudantil (ver abaixo), sempre com o objetivo de apoiar o aluno no que diz respeito ao seu ingresso e permanência na universidade. “Isso, sem dúvida, é um dos fatores que faz com que a instituição tenha um dos menores índices de evasão do país (apenas 2,5%)”, afirma o Pró-Reitor de Assuntos Estudantis e Comunitários, Prof. Mozart Martins Ferreira.
ALOJAMENTOS – Para apoiar os estudantes nesse sentido, a Praec possui três coordenadorias. Uma delas, cujo responsável é o Pró-Reitor Adjunto Vitor Fernando Terra, está ligada à moradia e à alimentação. “Ao todo, a Ufla dispõe de 227 vagas em suas moradias estudantis no campus. No alojamento misto, há 36 apartamentos nos quais moram até seis pessoas em cada. Já no alojamento feminino (quartos individuais e duplos), moram 11 meninas, sendo que a prioridade destas vagas é para as estudantes que já moravam na moradia mista”, explica Fernando.
Outro detalhe interessante é que “os dois alojamentos possuem prefeitos, três num deles e dois no outro, que são eleitos pelos próprios alunos, por um período de um ano. Fazemos isso porque na falta de um dos prefeitos, os moradores podem recorrer a outro”, completa ele.
1.300 REFEIÇÕES – Com relação à alimentação, o Restaurante Universitário serve atualmente cerca de 1300 refeições (entre almoço e marmitex). No caso dos alunos com baixas condições socioeconômicas, essas refeições custam apenas R$ 1,00 cada. Quanto à qualidade, a nutricionista responsável pelo R.U., Emília Cristina Mões Oliveira, afirma que “a alimentação oferecida possui os nutrientes necessários para a manutenção da saúde, sendo balanceada no que diz respeito aos macro e micronutrientes. Além disso, trabalhamos respeitando (de maneira geral) os hábitos alimentares dos usuários”.
E quando fala sobre o novo R.U. que está sendo construído no campus, ela diz que estima-se que passem a ser servidas o dobro de refeições quando o restaurante estiver funcionando.
Dentro desse mesmo contexto, a Coordenadora dos Programas Sociais da Praec, Soraya Comanducci da Silva Carvalho, fala dos dois programas de inclusão da Ufla: o de isenção da taxa de inscrição e do cursinho pré-vestibular. Com relação à taxa especificamente, a Assistente Social afirma que “80% dos candidatos interessados costumam conseguir a isenção parcial ou mesmo total do valor. Nesse semestre, 1609 vestibulandos pediram o benefício e 1282 deles o conseguiram”, diz ela.
Já no que diz respeito ao cursinho, o coordenador Wilson Ferreira Junior, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, explica que “a iniciativa existe desde o 2º semestre de 2004, sendo realizada através da parceria entre a Ufla e várias prefeituras da região. Assim, a universidade participa com os alunos para lecionarem no cursinho e as prefeituras arcam com os custos. De lá para cá, quatro cidades têm feito parte do projeto (Lavras, Ijaci, Bom Sucesso e Itutinga) e, ao todo, esse projeto já chegou a contar com 360 vestibulandos em um ano”, expõe ele. Outro detalhe é que, além de oferecer apoio aos alunos de baixa condição socioeconômica, tais cursinhos ainda incentivam as atividades de docência entre os alunos que já estão na graduação.
BOLSAS-ATIVIDADES – E para aqueles que estudam na instituição, existem 245 bolsas-atividades para ajudar alunos de graduação (há uma triagem para distribuição entre os mesmos). Soraya diz que esses alunos costumam ter excelente rendimento. “Geralmente, o que acontece é que a bolsa-atividade acaba tornando-se um meio que facilita o acesso à bolsas de Iniciação Científica, pois os alunos bolsistas passam a ter mais contato com os diversos setores da instituição e, consequentemente, com os professores. Então, eles ‘passam’ de uma para outra”, explica ela.
O caso do estudante de curso de Sistemas de Informação, Raphael Naves, é um bom exemplo de como a bolsa-atividade pode ajudar. Natural de Ijaci, no primeiro período, ele trabalhava para se manter estudando. Diante das dificuldades e vendo que não estava conseguindo se dedicar ao curso como gostaria, no segundo período, ele participou da seleção e obteve a bolsa. “Hoje, além de ter um apoio financeiro, ainda acumulo parte dos créditos que o meu curso exige”, diz Raphael.
SAÚDE DA MULHER – Na área de saúde, parte do serviço está disposto aos alunos gratuitamente. “Temos um ginecologista, que além de prestar atendimento junto às alunas, ainda coordena um Programa de Saúde da Mulher no campus. Além disso, há dentistas que atendem por taxas mínimas para alunos com baixa condição socioeconômica. Já na área psíquica, temos uma psicóloga e um convênio com a entidade Abraço, que presta esse tipo de serviço na cidade”, explana a Coordenadora de Saúde, Regina Aparecida Teixeira.
Quanto aos outros médicos especialistas, temos um convênio no qual conseguimos 50% de desconto em consultórios da cidade, especificamente para esses alunos”, completa Regina.
AUMENTO DOS RECURSOS – Com isso, observa-se que há uma certa tradição em oferecer apoio aos estudantes da Ufla. “Tentamos ajudar o máximo possível, algumas vezes até fazendo acima das possibilidades”, afirma o Pró-Reitor Mozart. No entanto, ele mesmo explica que só no ano passado o governo federal criou o Programa Nacional de Assistência Estudantil. A estudante Helena parece entender bem isso, “em relação a outras universidades, acredito que a Ufla está bem na frente nesse sentido. Além disso, não sei como eu faria se não tivesse apoio, mesmo assim, em alguns momentos, ainda acabo encontrando dificuldades, especialmente por questões burocráticas”, comenta ela.
Então, conclui o Prof. Mozart, “o Ministério da Educação está prometendo dobrar os recursos para assistência estudantil no ano que vem, especialmente por conta desse provável novo formato de ingresso dos estudantes nas universidades. Como a intenção é aumentar o número de estudantes em função de uma maior mobilidade dos mesmos pelo país, o MEC também pretende aumentar os recursos em relação a esta nova demanda. Isso, com certeza, nos dará margem para ampliarmos ainda mais nosso trabalho”, finaliza.