Acordo Brasil-União Européia financiará pesquisas sobre biocombustíveis

Fonte renovável de energia, de baixo custo e grande disponibilidade na natureza, a biomassa é uma importante promessa no campo das energias alternativas, especialmente no que diz respeito à produção de biocombustíveis. A fim de fomentar pesquisas sobre o tema, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Comunidade Européia e oito Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) brasileiras, entre elas a de Minas Gerais (FAPEMIG), acaba de lançar o Edital 06/09 – Programa de Cooperação Brasil e União Européia na Área de Biocombustíveis de Segunda Geração.

A iniciativa vai contemplar grupos de pesquisadores brasileiros, em cooperação científica com pesquisadores europeus, que trabalhem em questões voltadas para o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de biocombustíveis de segunda geração. Elas devem propor, por exemplo, melhorias e avanços tecnológicos em relação às matérias primas oriundas da biomassa, às técnicas de conversão, à integração de processos e à sustentabilidade.

Os projetos devem ser coordenados por doutores de reconhecida competência nacional e internacional, além de incluírem ação coordenada com um projeto europeu submetido ao edital da Diretoria Geral de Pesquisa da União Européia (FP-7-Energy-2009-Brazil:Energy Second Generation Biofuels – EU Brazil Coordinated Call). As propostas devem ser redigidas em português e inglês e só serão aprovadas se o projeto equivalente também for selecionado na União Européia.

Serão investidos recursos federais no valor de R$11,6 milhões, sendo R$6 milhões do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e R$5,6 milhões do CNPq, que serão liberados em parcelas, de acordo com a disponibilidade orçamentária e financeira das duas instituições. Caso as propostas aprovadas sejam sediadas em entidades localizadas nos estados das Fundações de Amparo à Pesquisa participantes, poderão receber recursos das respectivas FAPs, em substituição aos que seriam aportados pelo CNPq. Além da FAPEMIG, estão na parceria as FAPs dos estados do Amazonas (Fapeam), Distrito Federal (FAPDF), Piauí (Fapepi), São Paulo (Fapesp), Rio de Janeiro (Faperj), Ceará (Facepe) e Rio Grande do Sul (Fapergs).

O julgamento das propostas brasileiras e européias ficará a cargo do Comitê Assessor para Julgamento do Edital Bilateral Brasil – União Européia, composto por pesquisadores e especialistas do Brasil e do exterior. O Comitê Assessor BR-UE poderá recomendar a associação de projetos que sejam considerados complementares e a reformulação orçamentária ou de equipes. As FAPs participantes do Edital também avaliarão as propostas sediadas em seus estados e decidirão sobre a possibilidade de aporte dos recursos substitutivos aos do CNPq.

As propostas devem ser enviadas até 12 de julho em dois arquivos independentes, um em português e o outro em inglês, nos formatos “doc”, “pdf”, “rtf” ou “post script”, limitado a 1.5 MB. Os arquivos devem ser anexados ao Formulário de Propostas on line, disponível na página do CNPq. O resultado dos julgamentos será divulgado até 30 de outubro e as propostas aprovadas serão contratadas até março de 2010. Para visualizar o edital, clique aqui. Mais informações pelo e-mail cocmi@cnpq.br

Fonte inesgotável

O biocombustível de segunda geração é aquele formado por biomassa, principalmente a celulose, gerando etanol ou óleo. A vantagem é o baixo custo de sua matéria-prima, que também é abundante e renovável. Atualmente, poucos países, como Canadá e Estados Unidos, produzem o biocombustível de segunda geração, mas todos com a ajuda de subsídios governamentais. Segundo o pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Marcelo Ehlers Loureiro, contemplado no Edital de Biocombustíveis lançado pela parceira FAPEMIG-FAPESP, o problema desse tipo de produção é o custo elevado. “Atualmente, o procedimento não é rentável economicamente devido ao alto custo, principalmente, das enzimas utilizadas no processo”, diz.

De acordo com o pesquisador, uma solução seria o desenvolvimento de novas variedades de matéria-prima (como, por exemplo, de cana-de-açúcar) mais adequadas à produção do etanol, que tenham menor teor de lignina ou m-celulose, substâncias resultantes da produção do biocombutível que têm efeitos negativos na transformação de celulose em álcool. Outras propostas seriam a redução dos custos das enzimas de sacarização (processo de transformação da celulose em etanol), a melhoria da eficiência da fermentação e a criação de mercados para os subprodutos da produção do biocombustível, como a m-celulose e a lignina, que pode ser aproveitada na indústria química.

Para Ehlers, o financiamento de pesquisas sobre o tema e iniciativas como o acordo entre Brasil e Comunidade Européia são fundamentais nessa questão. “Devido à falta de recursos, existem poucos grupos de pesquisa no Brasil trabalhando com a produção de álcool a partir da biomassa. Visto o grande potencial do País e a ausência de tecnologia adequada, esse tipo de fomento à pesquisa vai tornar viável o desenvolvimento de competência científica e tecnológica no Brasil para uma produção mais eficiente do etanol de biomassa, além de integrar grupos brasileiros mais qualificados e experientes com grupos expoentes na Europa”, conclui o pesquisador, que pretende concorrer no novo Edital.

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