Cibele Aguiar
Na semana passada, cerca de 40 integrantes do Núcleo de Estudos em Cafeicultura (Necaf) participaram de uma apresentação diferente. O congolense Mukeshambala Franchement, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), foi muito além da ciência agronômica para descrever o objetivo de estar em uma universidade no Brasil. Ele tem a missão de se capacitar para ser um multiplicador do conhecimento em seu país, como uma semente de esperança em meio a inúmeras adversidades.
Franchement foi um dos selecionados para participar de um amplo programa de cooperação Brasil/África, que inclui uma parceria entre a UFLA e a Universidade Livre do País dos Grandes Lagos (ULPGL), localizada na cidade de Goma, no Congo. Essa parceria, que ao todo trará ao Brasil 60 professores do Congo para capacitação, tem a coordenação do professor do Departamento de Engenharia (DEG), Gilmar Tavares. No mestrado, Franchement tem como orientador o professor de Cafeicultura, Rubens José Guimarães.
O congolense simpático que aprendeu a falar Português em menos de um mês não se limitou a falar sobre a cafeicultura do Congo, mas deu uma aula sobre a determinação de um povo sofrido por guerras, vulcões, massacres e doenças. Falou sobre um país de extrema pobreza, em que cerca de 75% da população vive com menos de um dólar por dia, com educação precária e dificuldades de acesso à água e à sanidade básica. De um povo que tem uma expectativa de vida de 43 anos e convive com mais de 2,6 milhões de cidadãos portadores do HIV (Aids).
Mas a diferença de Franchement e da nova geração que ele representa é que, em meio a tantos problemas, existem também oportunidades. Há uma nova geração empenhada em reconstruir um país de solo rico, de minerais preciosos e disputados e de áreas agricultáveis, com flora exuberante e fauna diversa. São mais de 120 milhões de hectares agricultáveis, predominantemente de solo fértil e vulcânico, mas que só 10% é cultivado.
O café está entre as atividades de maior importância de exportação, com uma produção, em 2010, na casa das 350 mil sacas. O problema está na rentabilidade da atividade, que sofre não apenas de pragas e doenças, mas ainda de fraudes e atravessadores, responsáveis por reduzir a receita anual da atividade, que saiu de 350 milhões na década de 80, para em torno 2,5 milhões nos últimos anos. O cultivo é sombreado e não utiliza fertilizantes. A província de Franchement é conhecida pela produção do Café Kivu, café especial muito apreciado na Europa.
Foram muitas informações apresentadas, sobre geografia, sociologia, economia e história do Congo. Mas a lição apreendida foi de solidariedade e perseverança. Um exemplo de um jovem congolense que acredita na educação e na transferência de tecnologias para mudar o futuro de seu povo.