Cibele Aguiar
Os agentes de guerra química (organofosforados) e biológica constituem uma classe de armas não convencionais, de baixo custo e difícil detecção, capazes de causar uma destruição de vidas sem precedentes, além de terem alto potencial para uso terrorista. Nesse contexto, trabalho desenvolvido na Universidade Federal de Lavras (UFLA), no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica, com foco na avaliação e desenvolvimento de novos inibidores contra o agente de guerra biológica Bacillus anthracis, foi selecionado como destaque do Congresso de Pós-Graduação realizado na UFLA de 26 a 30 de novembro.
O trabalho foi desenvolvido pela estudante de mestrado Juliana Giacoppo, sob a orientação do professor Teodorico de Castro Ramalho, com coorientação do pesquisador do Instituto Militar de Engenharia (IME) Tanos Celmar Costa França. Parte das análises foi realizada no Laboratório de Modelagem Aplicada à Defesa Química e Biológica do Instituto.
Foram realizados estudos de docking e dinâmica molecular de quatro inibidores da Enzima Diidrofolato Redutase (DHFR) do Bacillus anthracis (BaDHFR) e da DHFR humana (HssDHFR), e os resultados obtidos com os dados experimentais e estudos das estruturas dos inibidores permitiram a construção de uma nova molécula com possível atividade e melhor seletividade para enzima da bactéria – o composto 3Y.
Outras pesquisas relacionadas a guerra química tem sido realizadas, com foco no estudo de reativadores da enzima acetilcolinesterase inibida por organofosforados. Esta pesquisa ganha ainda mais relevância levando-se em conta a utilização extensiva destes compostos e de carbamatos como pesticidas para controle de pragas, e até mesmo o uso frequente em tentativas de suicídio, fazendo com que ocorra em todo o mundo um grande número de intoxicações e milhares de mortes por ano.
De acordo com o professor Teodorico, a química computacional contribui de forma significativa nesses estudos, tendo em vista a dificuldade de se testarem esses compostos em humanos, a economia de investimentos com reagentes e materiais e, principalmente, o ganho de tempo.
“Apesar de ainda não termos no Brasil uma indústria química forte, hoje, o fortalecimento de centros já consagrados de Química e o surgimento de novos núcleos de pesquisa no interior do País abrem excelentes perspectivas para jovens profissionais”, enfatiza o professor, reconhecendo a contribuição da UFLA nesse sentido.
Sobre o desempenho da estudante de mestrado, ainda tão jovem e com resultados tão promissores, o orientador comenta: “O Programa acerta ao avaliar os docentes e discentes por meio de critérios claros, objetivos e com estreita relação com a produção científica. O objetivo é a formação de profissionais cada vez mais capacitados e que possam ter carreiras bem-sucedidas. Apesar de essa situação trazer novos desafios, o produto final geralmente é muito positivo”, complementa.