Professor da UFLA caracteriza a carga física de trabalho na cafeicultura do Sul de Minas
O Brasil é o maior produtor mundial de café e também um dos mais importantes geradores de conhecimentos sobre a cafeicultura, porém, os temas de pesquisas são geralmente avaliados sob perspectivas técnicas, agronômicas, econômicas ou ambientais. Tese defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pelo professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Marco Antônio Gomes Barbosa, inova ao apresentar um raio-x do trabalho nas lavouras de café, identificando características da carga física de trabalho, sob uma perspectiva ergonômica.
O trabalho nas lavouras cafeeiras é caracterizado pela reunião de atividades variáveis, em geral, árduas, executadas em posturas inconvenientes, com grandes forças musculares, além do ambiente desfavorável, podendo apresentar um conjunto de riscos ocupacionais. Foi pensando nesta ótica que o professor Marco Antônio decidiu avaliar o trabalhador da cultura do café, atividade rural mais comum na região do Sul de Minas. O trabalho contou com a orientação do professor Roberto Funes Abrahão e coorientação do professor Mauro José Andrade Tereso.
Graduado em Fisioterapia e Educação Física, a ideia de Marco Antônio foi justamente caracterizar a carga física de trabalho para orientar as pesquisas e políticas públicas para a melhoria dessas condições, tanto para a qualidade de vida do trabalhador, quanto para o desempenho da produção, em especial no sistema de produção familiar. De acordo com o pesquisador, quando as condições de trabalho são desfavoráveis, ocorre fadiga, extenuações físicas e psíquicas, diminuição do rendimento, aumento dos erros, dores osteomusculares diversas e riscos de acidentes no trabalho.
O estudo foi realizado em sete propriedades, com a participação de 12 trabalhadores ligadas à Associação dos Agricultores Familiares de Santo Antônio do Amparo – Força Café, localizada no Município de Santo Antônio do Amparo (MG), que se dedicam à cultura do café. Eles foram avaliados durante a realização de diferentes tarefas (adubação a lanço, adubação foliar, desbrota, aplicação de herbicida, colheita – tanto em terreno plano como em topografia acidentada, além de secagem e armazenamento).
Tecnologia facilita a avaliação
A carga física de trabalho foi caracterizada a partir de descritores fisiológicos, biomecânicos e psicofísicos, que incluíram a frequência cardíaca durante o trabalho (FCT), a carga cardiovascular (CCV), as combinações posturais, as manifestações de desconforto e o esforço percebido. Para tanto, as tarefas foram filmadas e avaliadas com a ajuda do software CAPTIV L3000, que possibilitou a obtenção de dados estatísticos, uma análise descritiva básica das tarefas observadas, histogramas, resumo das durações das tarefas, as repetições e frequências.
Para o monitoramento da frequência cardíaca foi utilizado um frequencímetro cardíaco RS 800 cx G3, composto de um sensor transmissor, uma cinta elástica peitoral, um sensor GPS, um adaptador infravermelho e cabos para transferência dos dados ao computador, para processamento dos dados.
Além disso, era apresentado ao trabalhador um diagrama das áreas dolorosas ao final de cada tarefa monitorado, para que fossem apontadas as regiões do corpo onde sentia algum tipo de desconforto. Na sequência, complementando a análise subjetiva, foi solicitado que avaliasse o grau de desconforto que sentia em cada um dos segmentos corporais indicados no diagrama.
Resultados
As tarefas adubação foliar, adubação a lanço, secagem e armazenamento foram as que apresentaram maior exigência cardiovascular. Pela natureza da tarefa, as tarefas de desbrota e colheita apresentaram uma grande variabilidade de combinações posturais. As demais tarefas apresentaram uma menor variabilidade.
Na avaliação do conjunto de tarefas, as principais áreas de manifestação de desconforto foram as regiões dos ombros, pescoço, dorso médio e dorso inferior. Os trabalhadores destacaram a adubação foliar, adubação a lanço e armazenamento como as mais exigentes quanto ao esforço percebido.
Destaca-se que, na percepção subjetiva, os trabalhadores indicaram haver diferença significativa entre as tarefas desenvolvidas em distintas condições topográficas, considerando maior esforço para aquelas realizadas no morro. Entretanto, tanto os indicadores cardiovasculares como os biomecânicos não revelaram diferenças estatisticamente significativas entre as tarefas desenvolvidas em condição de morro e plano.
De acordo com Marco Antônio, espera-se que, além do conhecimento aprofundado das exigências físicas do trabalho da cafeicultura familiar, o projeto possa contribuir para a formulação de políticas públicas destinadas ao setor produtivo e para o desenvolvimento de novas tecnologias orientadas à minimização das dificuldades laborais e ao aumento da produtividade do trabalho.