Saber como é a alimentação das diversas espécies animais ajuda os pesquisadores a conhecer as demandas que elas terão do ambiente e o relacionamento que mantêm com outros animais. Tais informações são essenciais para as práticas de conservação da biodiversidade. Essa é a razão que motivou pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) a realizarem um estudo publicado pela “Journal of Natural History” no final de janeiro. A revista científica, que tem como foco a entomologia e a zoologia , é considerada uma das cem publicações mais influentes em biologia e medicina ao longo dos últimos cem anos, de acordo com pesquisa feita pela “Special Libraries Association” (SLA).
O artigo “Dietary variation and overlap in D’Orbigny’s slider turtles Trachemys dorbigni (Dumeril and Bibron 1835) (Testudines: Emydidae)”, traduzido para o português como “Variação e sobreposição da dieta na tartaruga tigre d’água Trachemys dorbigni (Dumeril e Bibron 1835) (Testudines: Emydidae)”, tem como autores Anelise Torres Hahn, Clarissa Alves Rosa, Alex Bager e Ligia Krause. Clarissa é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da UFLA e Bager é professor no Departamento de Biologia (DBI). Já os outros dois autores estão ligados ao Departamento de Zoologia da UFRS.
O trabalho foi feito com a espécie de tartaruga continental mais comum no Sul do Brasil. O objetivo era identificar os tipos de alimentos ingeridos pelo animal. Para isso, foi analisado o conteúdo estomacal de 73 tartarugas atropeladas na BR 392, no sul do Rio Grande do Sul. Entre outros resultados, os pesquisadores descobriram que a dieta desses animais envolvia 26 itens alimentares, sendo que entre as fêmeas a variedade é maior. Também chama a atenção o fato de que, mesmo tendo sido feito em época de desova, a pesquisa identificou conteúdos nos estômagos de todas as fêmeas, contrariando resultados de estudos anteriores, os quais indicavam que as fêmeas dessa espécie não se alimentavam no período.
A doutoranda Clarissa conta que geralmente os estudos são feitos por meio das fezes, o que limita os resultados, já que o processo de digestão pelo qual passam os alimentos dificulta sua identificação. Analisar os conteúdos estomacais é mais eficiente, mas exige, muitas vezes, técnicas invasivas (abate do animal ou regurgito). “Por isso eu acredito que uma das principais contribuições desse artigo é o método de estudo, que se utilizou de estômagos de animais atropelados, já que tais carcaças costumam ser descartados sem o aproveitamento para estudos científicos”, conclui.
Com informações de Lívia Villela, bolsista ASCOM/DBI