Em 1950, o Brasil perdeu a Copa do Mundo de Futebol no estádio do Maracanã para a seleção do Uruguai, por 2 a 1. O jogo foi histórico por diversos motivos, inclusive por uma das maiores discussões do futebol nacional: o goleiro brasileiro, Barbosa, teria sido o culpado pelo segundo gol uruguaio? Culpado ou não, Barbosa foi admitido como funcionário do Maracanã após se aposentar como goleiro. Quando a Fifa ordenou a substituição das traves de madeira por modelos de ferro, o arco original foi oferecido ao ex-goleiro – que chegou a afirmar ter feito um churrasco com as madeiras.
Esse fim é contestado pelo historiador Fernando Magalhães, de Muzambinho. Nessa cidade, há traves expostas em um museu que são consideradas aquelas que teriam permanecido no Maracanã. Para confirmar a história, Fernando entrevistou dirigentes desportivos da cidade, funcionários do Maracanã e enviou, à UFLA, um pedaço da madeira da trave, supostamente do Maracanã. Na UFLA, o fragmento está sendo analisado no Laboratório de Anatomia da Madeira, pelo professor Fábio Mori (DCF). Ele estabelecerá uma comparação com as espécies já catalogadas na xiloteca (coleção de amostras de madeiras do Laboratório), analisará microscopicamente as características e enviará microimagens para outros laboratórios, a fim de identificar a espécie.
“É uma madeira muito bonita e durável. Apesar do tempo, não foi atacada por fungos. Desconfio que não seja uma madeira brasileira”, adianta o professor Fábio. As análises laboratoriais não permitirão dizer se de fato aquela era a madeira do gol, mas, se a espécie for identificada, possibilitará saber se era um dos tipos de madeira utilizada pela FIFA. “Chegar até a espécie é um trabalho difícil. Temos esperança que isso seja facilitado por encontrarmos uma xiloteca que tenha uma amostra compatível; estabeleceremos uma comparação com catálogos de madeira de outros laboratórios brasileiros”.
A pesquisa
A transferência das traves da Copa de 1950 para Muzambinho é uma história conhecida na cidade e as supostas traves estão em exposição na Casa da Cultura. De acordo com pesquisa realizada por Fernando, elas chegaram à cidade entre 1959 e 1961: “Verifiquei que foram doadas pela administração do estádio do Maracanã. O goleiro Barbosa dizia que queimou as traves em 52, mas há relatos de que as traves, de madeira, permaneceram no estádio pelo menos até 1958”, analisa Fernando.
Os fragmentos das traves, segundo ele, estão em propriedade da família Sandy (dessa parte veio a amostra para a UFLA), Casa da Cultura (em exposição permanente e adaptada para caber no local) e com o próprio Fernando – este foi autografado pelo jogador Ghiggia, autor do segundo gol uruguaio na final de 1950.
Mas as traves são um dos aspectos da pesquisa, que também ressaltou a vida do goleiro Barbosa e mostrou o lado uruguaio: “Não foi fácil para os jogadores virem. Mesmo convocados, muitos não compareciam. Após a final, eles receberam somente medalhas de prata, sendo as de ouro dadas aos ‘cartolas’. Nenhum dos jogadores uruguaios fez fortuna”, conta o historiador. Fernando também constatou que houve um grande uso político da Copa no Brasil, devido à proximidade com as eleições; morte de operários na construção de estádios; e um discurso recorrente de que a vitória seria brasileira, resultando em uma enorme pressão sobre os jogadores.
Essas e outras descobertas serão compiladas a um resumo, que ficará no museu de Muzambinho e em outros que se interessarem pelo tema.