Crianças com deficiências, ou com necessidades especiais físicas ou psíquicas, encontram na Universidade Federal de Lavras (UFLA) uma forma prazerosa de desenvolver sua força muscular, aperfeiçoar sua coordenação motora e seu equilíbrio, além de aumentar a autoconfiança e a autoestima. Esses benefícios são gerados pelo projeto de extensão “Equoterapia como recurso pedagógico”, em curso desde 2008.
As cavalgadas feitas no Centro de Equoterapia são, hoje, rotina para mais de 70 pacientes de Lavras e região. A fisioterapeuta que acompanha as atividades, Regilane Vilas boas, explica que o cavalo é o único animal que tem movimento semelhante ao do ser humano. Então, para a criança com deficiência, é como se estivesse andando com as próprias pernas enquanto cavalga. Há um estímulo do sistema nervoso central e também do periférico, levando à chamada neuroplasticidade, que é a reorganização dos neurônios, processo que estimula o aprendizado e a adaptação ao ambiente.
Esse método terapêutico, conjugado a outras formas de reabilitação, pode melhorar muito as condições físicas e psíquicas do paciente. O pai do paciente Afonso Celso de Souza, que frequenta o Centro de Equoterapia há dois anos, confirma os benefícios para a saúde do filho de 6 anos. “Ele já progrediu mesmo”, ressalta Celso de Jesus Souza. Maria Helena de Souza, avó do paciente Andrenilson Souza Silva, de 13 anos, também reconhece a importância do tratamento: “vale a pena sairmos de Ijaci para trazê-lo aqui – ele gosta muito também”, diz. Já Valmira Silva Vieira Naves acompanha a única filha, Marine Conceição Vieira Naves, de 16 anos, e destaca a adaptação da jovem a essa terapia. “É bom para tudo: para a cabeça, para o corpo… Ela adora animais”. A mãe também relata satisfação com os progressos de Marine ao longo dos anos. “Ela tinha a cabecinha muito caída e o pezinho bem virado; ainda depende muito da gente, mas já faz muitas atividades sozinha (liga a TV, pega água, troca de roupa)”, diz Valmira, demonstrando que valeu a pena investir nas diversas formas de reabilitação.
” (…) é um exercício que mexe com a autoestima, com a disposição, e dá a sensação de liberdade, por estarmos em contato com a natureza”. Uma Rosa de Oliveira.
Apesar de o maior número de atendimentos ser prestado a crianças, o Centro também recebe adultos. Um dos exemplos é Uma Rosa de Oliveira, que também frequenta o local há cerca de dois anos por causa de sintomas neurológicos. Ela diz que ainda não tem diagnóstico preciso para seu problema, mas garante que a equoterapia só colabora. “É muito importante, para mim, manter o equilíbrio; e o cavalo ajuda nisso”, relata. “Além do mais, é um exercício que mexe com a autoestima, com a disposição, e dá a sensação de liberdade, por estarmos em contato com a natureza”. A terapia oferecida pelo projeto atua de forma interdisciplinar, abrangendo as áreas de saúde, educação e equitação.
Regilane chama atenção para os acessórios utilizados durante a sessão: argolas; bolas de diferentes tamanhos, pesos e texturas; livros; materiais com emissão de sons; espelho, entre outros. Os recursos têm fins pedagógicos. “Fazemos perguntas para estimular a memória, a fala, a concentração, a compreensão”, conta. A área coberta onde as sessões acontecem tem também um espelho onde o paciente pode ver de longe seu reflexo sobre o cavalo. “No espelho, o paciente tem a percepção do próprio corpo; quando ele visualiza que tem um problema de postura, a informação para o cérebro torna-se mais forte”, argumenta Regilane.
O coordenador do projeto é o professor Jackson Antônio Barbosa. Ele lembra que a iniciativa surgiu a partir de discussões que se formaram durante as comemorações do centenário da UFLA. “Seis meses depois, em fevereiro de 2008, as atividades tiveram início”, diz.
Informações relevantes sobre o projeto
O Centro de Equoterapia fica na região do Câmpus Histórico da UFLA. Entrando pela Portaria Principal, o acesso está à esquerda. O local fica abaixo do nível da pista. As sessões para cada paciente duram trinta minutos. Atualmente, os trabalhos são conduzidos por uma equipe composta de dois fisioterapeutas, uma psicopedagoga, dois educadores físicos, dois auxiliares-guia e doze mediadores, sendo esses últimos alunos de cursos de graduação como Educação Física, Zootecnia e Medicina Veterinária. Dois cavalos são utilizados nas atividades.
Os recursos para manutenção do projeto vêm das parcerias estabelecidas com a Prefeitura de Lavras e com as Apaes de Lavras e de Ijaci. Os pacientes atendidos são encaminhados por essas mesmas instituições, passando por uma seleção prévia para identificação daqueles para os quais há indicação para a equoterapia. A partir deste mês de maio, a parceria com a Prefeitura, anteriormente restrita à área da saúde, estendeu-se também à Secretaria Municipal de Educação. Crianças que estão matriculadas no ensino regular da rede pública municipal e possuem deficiência intelectual, mental ou motora foram selecionadas para frequentar o Centro.
Atualmente são 45 estudantes da rede municipal de ensino. Em agosto o número passa a 60, e chegará a 100 em 2015, de acordo com o professor Jackson.