Lideranças do agronegócio apresentaram diferentes abordagens sobre a importância da agricultura durante o Simpósio Internacional do Agronegócio – Sin-Agro, realizado na Universidade Federal de Lavras (UFLA), nos dias 2 e 3 de setembro. Duas mensagens, porém, foram ressaltadas por todos os palestrantes: O Brasil será um dos protagonistas na necessária ampliação da produção de alimentos e a agricultura deve ser valorizada como um dos instrumentos mais importantes a favor da paz mundial.
Roberto Rodrigues e Alysson Paolinelli abordam perspectivas do agronegócio
O professor e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, apresentou no primeiro dia do Simpósio uma defesa consistente a favor de políticas públicas para amparar o crescimento da agricultura brasileira. Ele citou dados da Organização para a Cooperação Económica (OCDE), que destacam o Brasil como um dos países com maior potencial para alavancar a produção de alimentos em um nível capaz de atender ao crescimento da demanda mundial. “Este é um sinal global e inédito do protagonismo do Brasil”, reforçou.
Entre as vantagens competitivas, citou o desenvolvimento de tecnologias adequadas à agricultura tropical, que foram capazes de ampliar a produtividade com a economia de cerca de 70 milhões de hectares. Além disso, o Brasil é o país com maior disponibilidade de terra agricultável e dispõe de recursos humanos capacitados para o agronegócio.
Aos estudantes, Roberto Rodrigues deixou a mensagem de cabe a eles a tarefa sublime de garantir a paz mundial através da produção sustentável de alimentos, fibras e energia.
Mensagem semelhante a do colega, professor e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli. Ele também chamou a atenção dos jovens estudantes para a responsabilidade de desenvolver tecnologias e inovações que tenham como foco o conhecimento das especificidades dos diferentes biomas.
Em sua palestra, o professor relembrou o tempo em que o Brasil não era capaz de se autoabastecer, conhecido como grande importador de alimentos, e da figura do agricultor como o “Jeca Tatu”, de Monteiro Lobato. Em sua avaliação, a competitividade da agricultura brasileira hoje se deve ao investimento em ciência e tecnologia voltada para o manejo de recursos naturais próprios de cada região produtora.
A força do agronegócio brasileiro
Os professores do Departamento de Ciências do Solo da UFLA (DCS/UFLA), Alfredo Scheid Lopes e Luiz Roberto Guimarães Guilherme destacaram em suas apresentações a força do agronegócio brasileiro e a necessária conscientização popular para valorizar o homem do campo.
O professor Aldredo Lopes, homenageado pelo pioneirismo em desenvolver tecnologias para produção de alimentos em solo de cerrado, desmistificou alguns mitos que persistem no imaginário brasileiro e também sobre o perigo do marketing enganoso. Entre eles, informou que o agronegócio foi responsável por uma involução dos preços reais da cesta de produtos alimentícios básicos, o que significa um custo menor, hoje, comparado aos preços dos produtos em 1975.
A palestra do professor Luiz Roberto tem sido apresentada em diversos países do mundo para a valorização da agricultura brasileira. Por meio de diversos dados que demonstram a evolução da produção, exportação e saldo da balança comercial brasileira, o professor enalteceu o uso de tecnologias que foram responsáveis por elevar o País ao patamar de celeiro do mundo. Ele citou a relação de uma tonelada de fertilizantes para a geração de 10 toneladas de grãos e da crescente difusão do manejo adequado de nutrientes. Como desafios futuros, destacou a segurança alimentar e a necessária incorporação de micronutrientes aos alimentos.
Brasil X África e o exemplo de sucesso da agroecologia
Para demonstrar que o agronegócio não se restringe à monocultura e grandes propriedades, o Simpósio Internacional também ressaltou o caso de sucesso da parceria entre a UFLA e a L’université libre des Pays des Grands Lacs (ULPGL),apresentado pelo vice-reitor da ULPGL, Joseph Wasso Misona e pelo professor do Departamento de Engenharia da UFLA, Gilmar Tavares.
A parceria entre as duas instituições já tem sete anos de experiências exitosas, em especial, no que tange ao compartilhamento de práticas de agroecologia e permacultura, formação de recursos humanos e gestão de resíduos e segurança alimentar. A parceria inclui ainda a troca de informações sobre produção de biofertilizantes, cooperativismo, plantas medicinais, comunicação e esportes.
Para o professor Misona, a UFLA tem sido uma grande parceira em um grande desafio imposto ao Gongo. “A produção de alimentos favorece a paz. A Universidade tem o conhecimento para contribuir para esse processo, tanto na dimensão ecológica, quanto social, incentivando a mobilização e difusão de informações”, considerou reforçando: “Um novo mundo é possível e um novo Congo é necessário”.
Inteligência estratégica
O chefe da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, Elísio Contini, reforçou em sua palestra a necessidade de antecipar e planejar, mas do que simplesmente reagir às mudanças do agronegócio. Em um mundo em profundas mudanças, é preciso um olhar estratégico para o futuro. Entre as áreas ainda pouco exploradas, citou a biotecnologia, nanotecnologia e geociências, como estratégias a serem consideradas. No novo contexto do agronegócio, que tem como diferencial o grande foco na demanda do consumidor final dos produtos.
Desafios e gargalos
O gerente técnico e de Regulamentação de Estados e Municípios da Associação Nacional de Defesa vegetal (Andef), Luiz Carlos Ribeiro, enfatizou em sua apresentação os desafios e gargalos do agronegócio, especialmente quanto à precariedade da infraestrutura, logística e à desvalorização do produtor rural. Além disso, enfatizou a necessidade de se desburocratizar a pesquisa brasileira, com incentivo à inovação. “É preciso enaltecer as instituições de pesquisa que foram responsáveis pelo desenvolvimento de tecnologias capazes de elevar a produção de alimentos da casa de 70 para 180 milhões em 25 anos”, considerou.
Cadastro Ambiental Rural
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi um dos temas abordados no Simpósio Internacional, com a apresentação de três representantes do Ministério do Meio Ambiente. O diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Raimundo Desdará fez uma explanação geral sobre o sistema desenvolvido em parceria com a UFLA, destacando a modularidade e a grande base de dados que está sendo construída com relação às áreas de Reserva Legal, Áreas de Preservação Permanente e Áreas de Uso Restrito, fundamentais para um amplo programa de recuperação ambiental.
O diretor de Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Gabriel Lui, destacou o caráter multiplicador do Curso de Capacitação para o CAR – CapCAR, que visa aumentar a capilaridade em campo por meio de profissionais capacitados que levarão informações tanto sobre a legislação quanto sobre o Sistema.
Para o coordenador-geral de Tecnologia de Informação e Informática do Ministério do Meio Ambiente, César Augusto Soares dos Santos, o papel da UFLA tem sido fundamental para o projeto grandioso que é o CAR. “Esse é o instrumento de política ambiental mais importante do Brasil, sendo que 100% dos aspectos tecnológicos que envolvem o CAR são desenvolvidos pela equipe da UFLA”, considerou.
Veja a galeria de Fotos do Simpósio Internacional do Agronegócio. Clique na primeira foto e siga a seta para abrir as demais em tamanho expandido. Fotos: Cibele Aguiar e Mateus Lima