A proposta prevê a colaboração brasileira em um programa internacional de melhoramento genético do cafeeiro
Nessa terça-feira (10/2), a Universidade Federal de Lavras (UFLA) sediou uma reunião com a presença dos principais pesquisadores ligados ao programa de melhoramento genético do café brasileiro. A reunião, realizada na Agência de Inovação do Café – Inovacafé, reuniu representantes da World Coffee Research, rede de institutos de pesquisas cafeeiras vinculada à Texas A&M University, e pesquisadores de diferentes instituições brasileiras que participam do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café.
Foram apresentados os programas de melhoramento do cafeeiro em andamento nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, além do Distrito Federal, com o intuito de propor ações conjuntas para o intercâmbio de material genético e manutenção de bancos de germoplasma, desenvolvimento de híbridos F1, realização de estudos básicos de genética em espécies de interesse e o desenvolvimento de novas cultivares de café.
A ideia é que seja criada uma plataforma para a troca de germoplasma, com acessos de diversas origens, para ampliar a base genética da cafeicultura nas regiões produtoras de todo o mundo e criar a oportunidade de realização de nos cruzamentos, com o fortalecimento das pesquisas em várias áreas do conhecimento e utilização de novas estratégias de métodos de melhoramento.
Oportunidade e cautela
De acordo com o melhorista e professor de cafeicultura da UFLA, Antônio Nazareno Guimarães Mendes, esta é uma oportunidade de agregar ações que hoje são executadas de forma isolada, muitas vezes pontuais e sem grandes perspectivas de obtenção de resultados promissores nos diferentes programas de melhoramento genético do cafeeiro em nível mundial.
“Os ganhos científicos são tentadores e esta oportunidade ampliará significativamente o nosso horizonte de exploração da variabilidade genética disponível em espécies de café nas várias regiões do mundo. Há, contudo, a necessidade de se avaliar com muito critério o trâmite burocrático inerente a uma parceria desta natureza, para que todas as instituições envolvidas sejam realmente beneficiadas, numa parceria do tipo ganha-ganha e não numa via única que venha a privilegiar somente uma ou poucas instituições”, considera.
Ainda segundo o professor Nazareno, “esta é uma área delicada e sensível, pois envolve questões que se relacionam ao direito de proteção de cultivares e à proteção intelectual, uma seara ainda imersa em dúvidas e questionamentos mesmo entre instituições que mantém parcerias tradicionais em melhoramento do cafeeiro no Brasil, inclusive no âmbito do Consórcio Pesquisa Café”.
Para o pesquisador da Embrapa Café, Carlos Henrique Carvalho, um dos organizadores da reunião, a proposta é sequenciar os possíveis parentais dos programas de melhoramento do Brasil e utilizar os dados de uma maior diversidade genética para identificar genótipos de interesse para uma cafeicultura mais competitiva. “É uma oportunidade dos pesquisadores brasileiros acessarem materiais genéticos de outros países, além de possibilitar uma nova fonte de colaboração e financiamento”, destacou.
A proposta de colaboração completa outro projeto coordenado pela WCR, que já prevê a participação do Brasil na instalação de um ensaio internacional de cultivares de café. A UFLA é uma das instituições que sinalizaram interesse em sediar ensaios desse projeto, com pelo menos 30 cultivares do cafeeiro arábica amplamente exploradas em diferentes países produtores.
Cooperação internacional
Para conhecer as ações da WCR e debater a proposta de colaboração internacional, a reunião possibilitou o encontro de pesquisadores de diferentes instituições ligadas ao Consórcio Pesquisa Café. Além de professores da UFLA e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), estavam presentes pesquisadores da Embrapa Café, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Fundação Procafé.
Durante o encontro foram apresentadas as ações e atividades da WCR e do Consórcio Pesquisa Café por seus dirigentes, Tim Schilling e Gabriel Ferreira Bartholo, respectivamente. Ainda foram apresentadas ações de colaboração do instituto francês – Cirad, por Benoît Bertrand e, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT – Café), pelo coordenador, professor Mário Lúcio Vilela de Resende.
O diretor executivo da WCR, Tim Schilling, ressaltou a importância da cooperação. “Somos uma rede de institutos de pesquisas cafeeiras com o apoio da indústria internacional do café e temos um objetivo simples: aumentar o volume de cafés de qualidade superior para o mercado mundial”. Ele destacou que as parcerias com institutos internacionais possibilita uma maior base de dados e de material genético.
Para o diretor de Relações Internacionais da UFLA e professor do Departamento de Biologia, Antônio Chalfun Júnior, a reunião colabora não só para possibilidades de crescimento da pesquisa mundial em café, mas também contribui para o processo abrangente de internacionalização da Universidade. “Antes mesmo de uma colaboração internacional, começamos a juntar esforços nacionais, com instituições parceiras presentes, ligadas ao Consórcio Pesquisa Café, o que é muito relevante”, destacou.
O pesquisador Benoit Bertrand (Cirad), reforça que a parceria em discussão poderá possibilitar o intercâmbio de material genético de espécies e progênies de café, bem como o cruzamento de populações. “A ideia da WCR é criar uma plataforma para trocar informações e materiais genéticos, aumentando e compartilhando as bases genéticas”.
Genoma do Café
Cientistas brasileiros concluíram o primeiro sequenciamento em grande escala do genoma do cafeeiro. O Projeto Genoma Café, que teve início em fevereiro de 2002, foi uma iniciativa do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, coordenado pela Embrapa Café, em colaboração com outras instituições de fomento e pesquisa. O projeto resultou na construção de um banco de dados com mais de 200 mil sequencias de DNA.
Em 2014, a WCR, com o auxílio da Universidade Cornell, sequenciou 1000 acessos de Coffea arabica do banco de germoplasma do Catie, Costa Rica, e realizou amplo estudo de diversidade genética.