Animais errantes, ou seja, que vagam pelas ruas, são frequentes nas universidades. De acordo com a coordenadora de Prevenção de Endemias da Universidade Federal de Lavras (UFLA), professora Joziana Muniz de Paiva Barçante, a instituição tem recebido reclamações relativas ao aumento do número de cães abandonados em circulação no câmpus.
Os cães soltos na Universidade podem causar transtornos à comunidade acadêmica e a visitantes. Segundo a professora, há relatos de animais que cercam professores e alunos, entram nas salas de aulas e até mesmo provocam acidentes, já que avançam à frente dos veículos em trânsito pelas vias. Ela alerta, ainda, para o fato de que a presença de cães errantes pode facilitar a transmissão de doenças (zoonoses) como a leishmaniose, que já apresenta um número elevado de casos na cidade de Lavras.
Uma das ações desenvolvidas pelo Departamento de Medicina Veterinária da UFLA para o controle do aumento de cães é a castração, contudo, Joziana relata que esta medida é pontual. Como os cães possuem uma taxa de natalidade elevada, a medida não é suficiente para o controle.
Para a professora, a busca por alternativas que levem à diminuição da população de animais errantes deve partir de ações conjuntas na comunidade acadêmica. Por isso, em breve, será feita uma consulta pública para discutir essa situação e chegar a um consenso quanto às medidas que devem ser tomadas na UFLA, assim como a possível elaboração e implementação de uma legislação específica sobre guarda responsável.
“Esse problema não acontece apenas na UFLA. Todas as universidades passam pela mesma situação, por isso, estamos sempre em contato com outras instituições, a fim de verificar os trabalhos que vêm sendo realizados para diminuir a quantidade de cães errantes no câmpus. Por esses contatos, já constatamos que medidas como a construção de canis e a promoção de feiras de adoções não têm sido viáveis, nem eficazes”, afirma a professora.
A atuação da comunidade acadêmica
Segundo Joziana, estudantes e frequentadores da Universidade contribuem para o aumento do número de cães errantes no câmpus quando oferecem alimentos ou acolhem animais nos alojamentos. Os alimentos deixados para esses cães acabam por atrair também outros animais, como roedores e insetos transmissores de doenças. Portanto, a orientação é para que não sejam disponibilizados água e alimentos.
Em 2014, a Diretoria de Meio Ambiente realizou campanha para incentivar a comunidade acadêmica a adotar animais abandonados. Joziana diz que a prática continua sendo muito bem-vinda, e lembra que é necessário procurar a assistência de um médico veterinário, para obter informações sobre o estado de saúde do cão, antes de assumir a guarda.
A UFLA tem trabalhado também com a divulgação do conceito de guarda responsável junto à comunidade acadêmica e à população lavrense, com a distribuição de panfletos e cartilhas nas escolas, para que as pessoas assumam os seus deveres no cuidado com seus cães de estimação, evitando assim a situação de abandono.
A Associação Humanitária de Proteção e Bem-estar Animal (Arca Brasil) estabelece dez mandamentos para guarda responsável, como medida informativa das responsabilidades de pessoas interessadas em manter um animal de estimação (Consulte o link e saiba como cuidar adequadamente do seu cão).
O combate à leishmaniose
Com o intuito de controlar as zoonoses, a Coordenadoria de Prevenção de Endemias da UFLA tem realizado trabalhos em parceria com a Prefeitura de Lavras. Os cães recebem vermifugação, remédios para o controle de carrapatos, e vacinas. Contudo, ainda não há na cidade a identificação dos cães por meio da microchipagem (método de identificação eletrônica em que um microchip é colocado no cão, contendo todos os dados relativos ao animal, como espécie, sexo, cor do pelo, idade, raça e cuidados de saúde que já recebeu).
No combate à leishmaniose, há armadilhas luminosas para captura, identificação e monitoramento da ocorrência do inseto vetor da doença. No câmpus da UFLA, há duas armadilhas e a Prefeitura de Lavras disponibiliza outras 20 na cidade, sendo todo o material analisado na Universidade.
As fezes dos cães atraem o mosquito transmissor da leishmaniose e de outras doenças. Desta forma, para manter o ambiente limpo é necessário sempre recolhê-las. Como a UFLA é um local muito utilizado para passeios com os animais de estimação, a Coordenadoria de Prevenção de Endemias implantará, em breve, nos locais mais frequentados da Universidade, 50 dispensers com sacolas plásticas biodegradáveis.
Além dos dispensers, a professora Joziana afirma que haverá lixeiras próprias para serem colocadas as sacolas com as fezes dos animais. A partir dessa atitude, também será possível realizar um estudo de exames parasitológicos tendo como amostra os dejetos dos animais que frequentam a UFLA.
As empresas da cidade devem ficar atentas, pois será publicado edital para aqueles que desejem apoiar o projeto. Os interessados deverão contribuir com a reposição das sacolas e terão suas logomarcas nos dispensers.
Controle Sistemático
A UFLA tem se destacado em diversas avaliações nacionais em razão das ações do Plano Ambiental e Estruturante, iniciado em 2009. Idealizado pelo então pró-reitor de Planejamento e Extensão e atual reitor, professor José Roberto Scolforo, a criação da Diretoria de Meio Ambiente, na qual está vinculada a Coordenadoria de Prevenção de Endemias, foi definida como uma das ações prioritárias do Plano Ambiental.
A Coordenadoria é responsável por um controle sistemático de prevenção de zoonoses e endemias, como dengue, raiva, doença de Chagas, leishmaniose, enteroparasitoses, angiostrongilose, entre outras. Conta com o envolvimento de professores, servidores técnicos administrativos e a contribuição de estudantes para a realização de um trabalho preventivo de identificação de problemas, avaliação dos riscos e apresentação de soluções estratégicas.
Além disso, o Plano Ambiental tem se tornado referência para outras instituições públicas e privadas do País. Destacam-se a implantação de Programa de Gerenciamento de Resíduos Químicos, tratamento dos resíduos sólidos, saneamento básico, Estação de Tratamento de Esgoto, construções ecologicamente corretas, proteção de nascentes e matas ciliares, prevenção e controle de incêndios e uso racional de energia.
Informações da Coordenadoria de Endemias ou aviso de focos – 3829 5247 ou 3829 5250