Na segunda-feira (23/03), os estudantes do curso de Letras Português/Inglês da Universidade Federal de Lavras (UFLA) participaram de uma aula magna com o tema “Ensino-Aprendizagem (LI) em contextos de privação de liberdade: e eu com isso?”, ministrada pela professora de Língua Inglesa e Ensino da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Valdeni da Silva Reis. A coordenadora do evento foi a professora do Departamento de Ciências Humanas (DCH), Tania Regina de Souza Romero.
Valdeni é pesquisadora e atualmente investiga a forma como o ensino da língua inglesa tem sido desenvolvido em uma unidade socioeducativa para adolescentes. Após exibir o clipe “Diário de um detento”, que abordada a realidade dos detentos, Valdeni falou sobre o que presenciou ao iniciar sua pesquisa. “Achei interessante e surpreendente o quanto esses meninos apresentavam um excelente comportamento”, afirmando que “são tranquilos durante a aula e fazem todas as atividades propostas”.
Entre as informações apresentadas durante a palestra, estão os resultados da pesquisa divulgada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) em 2006: dos 39 mil jovens condenados a alguma pena no Brasil, 30% cumpriam medidas socioeducativas em regime de privação de liberdade. A professora apresentou, ainda, a norma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que estabelece punição com medidas socioeducativas para o menor que comete ato infracional.
Outro dado que contextualiza o tema abordado vem da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), artigo 26, que assegura a todos direito à instrução gratuita, nos graus elementares e fundamentais, sendo técnico-profissional ou superior. Segundo a Associação em Educação em Direitos Humanos (HREA), todos os encarcerados têm o direito de participar de atividades culturais e da educação focada no desenvolvimento integral da personalidade humana.
No decorrer da exposição do assunto, Valdeni relatou experiência vivenciada durante sua pesquisa em uma unidade socioeducativa, quando perguntou a uma professora se os alunos haviam gostado da aula. “Gostaram, ficaram quietinhos na sala de aula – foi a resposta”. Ela disse que ficou surpresa com o comportamento dos adolescentes; descreveu a alegria deles e o respeito pelos professores, sempre diante dos agentes.
Na avaliação da professora Tania, o tema abordado na aula é relevante para a formação dos estudantes. “As informações destacam o papel do educador na transformação identitária e sua responsabilização no desenvolvimento social das pessoas”. O objetivo da abordagem feita durante a aula magna foi provocar, conscientizar e promover a reflexão do futuro professor de línguas. “É um conhecimento que permite ao professor trabalhar a partir da realidade que se apresenta e com os interesses do grupo-alvo”, afirmou Tânia.
Outros dados sobre o tema
Números apresentados pelo Ministério da Justiça em 2012 apontam que jovens com idade entre 18 e 24 anos são a maioria nas penitenciárias brasileiras, representando uma fatia de 29,8%, seguida pelos de 25 a 29 anos (25,3%), 30 a 34 anos (19,1%), 35 a 45 anos (17,4%), 46 a 60 anos (6,4%), acima de 60 anos (1%). Um por cento dos presos não informou a idade.
Outros percentuais informados durante a aula magna foi o crescimento de 21,4% da população carcerária entre os anos de 2008 e 2012, chegando-se a 548.003 presos. Desses, 43,7% eram pardos, enquanto os de pele branca representavam 35,7%, negra 17%, amarela 0,5% e indígenas 0,2%. Outras raças e etnias eram representadas por 2,9%.