Felipe Fortes Braz, estudante da Universidade Federal de Lavras (UFLA), obteve aprovação na sua defesa de Mestrado na manhã dessa quinta-feira (17/3), com a temática “Transformação de decoração quântica para módulos de Spin”. O grande destaque está na sua história de superação. Felipe, natural de Santo André (SP), tem retinose pigmentar, uma doença que causa degenerescência na visão, fazendo com que ele perca a visão ao longo do tempo.
“Eu descobri com 14 anos e fui perdendo até os meus 20, quando realmente agravou. Quando comecei a ficar bem prejudicado, necessitei de uma bengala, aprender a andar, pegar um ônibus. Na minha cidade comecei a fazer curso de mobilidade, o que me deu autonomia. Tive que reaprender a estudar, ouvindo o material, com ajuda de monitores e colegas, que sempre foram fundamentais na minha vida. É emocionante falar, pois em todo lugar sempre tive pessoas do meu lado”, relata Felipe.
Apesar de todas as dificuldades, Felipe passou no vestibular na UFLA, em 2009, no curso de Física, uma área complexa e com poucos recursos para deficientes visuais. E, antes mesmo de concluir a graduação, foi selecionado em primeiro lugar no Programa de Pós-Graduação em Física para a turma de 2014, também na UFLA.
“Na época, não havia muito material acessível, mas, na medida em que fui avançando, os professores foram criando soluções e alternativas para o meu aprendizado. Após um tempo, foi criado o Núcleo de Acessibilidade, no qual tive todo o suporte. Houve muita mudança após a criação do Núcleo, como as rampas, locais específicos na Biblioteca para podermos estudar, os próprios departamentos que agora possuem elevadores. Ainda tem muito o que melhorar, mas já não é como era antes”, comenta Felipe.
Para o Mestrado, Felipe não contou apenas com um orientador, como o habitual. Foi elaborada uma comissão de apoio ao estudante, contando com o apoio dos professores: Onofre Rojas Santos, Sérgio Martins de Souza e Luiz Cleber Tavares de Brito (Departamento de Física – DFI/UFLA), e André Pimenta Freire e José Monserrat Neto (Departamento de Ciências da Computação – DCC/UFLA). Eles desenvolveram com Felipe um trabalho singular de tecnologias de acessibilidade para leitura de textos com fórmulas matemáticas.
“O Felipe também teve o apoio do Centro de Educação e Apoio às Necessidades Auditivas e Visuais (Cenav), uma instituição de Lavras, que ajudou com a produção de material e treinamento para o uso de tecnologias.
“É muito gratificante ver o Felipe chegar hoje na defesa, e ver o resultado de todo esse trabalho. Do ponto de vista da computação, foi um grande desafio para nós pois, na área de Física, o maior problema é que hoje ainda há uma grande limitação para leitura de fórmulas matemáticas em softwares. Tivemos que pesquisar formas de melhorar essa leitura”, conta o professor André Pimenta.
Para o professor Sérgio Martins de Souza também foi um grande desafio orientar Felipe. “No início, fiquei sem saber como lidar. Busquei alternativas em outros lugares, mas percebi que estávamos numa situação em que seríamos referência para todos. Uma das minhas preocupações era de não atrapalhar o entendimento dele. Mas, no final das contas, tudo foi uma agradável surpresa para nós. Percebíamos que a turma de mestrado estava o tempo todo lhe dando apoio. Esperamos que ele prossiga com o doutorado, e que tenha mais recursos”.
O Doutorado é sim a próxima etapa para Felipe. Ele conta que já está pesquisando o ingresso na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para dar continuidade à sua pesquisa. “Sempre tive muito apoio dos professores, monitores e colegas, assim fui vencendo aos poucos. O mestrado me abriu muitos leques, agora é continuar seguindo”, conclui.
Naufla
O Núcleo de Acessibilidade foi fundado na UFLA em 2012, vinculado à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários (Praec). Seu objetivo é garantir todos os direitos das pessoas com deficiência que ingressam na universidade, para que tenham os recursos necessários para desenvolver todo o seu potencial no ambiente acadêmico.
A coordenadora Helena relata que a busca por monitores parte da demanda que o Núcleo apresenta. Sendo assim, no caso do Felipe, foram selecionados estudantes que fossem das áreas afins à Física, para que pudessem auxiliá-lo da melhor maneira possível. O mesmo ocorre com os demais estudantes com deficiências na Universidade.
Texto: Camila Caetano – jornalista/ bolsista UFLA