A Universidade Federal de Lavras (UFLA) sediou pela primeira vez o projeto International Masterclasses – Hands on Particle Physics, que visa à divulgação do ensino da Física de Partículas para estudantes e professores do Ensino Médio. Entre os objetivos do evento, está a integração com pesquisadores da área de Física de Partículas Elementares – campo que estuda a matéria e suas interações – estimulando novas vocações científicas.
Nos dias 21 e 22 de março estudantes e professores de escolas de Lavras e região estiveram na UFLA, sob a coordenação dos professores Luiz Cleber Tavares de Brito (DFI) e Helvécio Fargnoli Filho (DEX). “Nos encontros realizados no âmbito do Masterclasses, os participantes também têm a oportunidade de vivenciar a rotina de trabalho de pesquisadores e das relações que envolvem as colaborações científicas internacionais, característica da pesquisa em Física de Partículas Elementares”, relatou o professor Luiz Cleber.
O International Masterclasses é organizado anualmente pelo International Particle Physics Outreach Group, em parceria com a European Organization for Nuclear Research (Cern), tendo como diferencial a promoção de uma experiência inusitada. Os participantes tiveram acesso a um conjunto de dados reais coletados nos experimentos do Large Hadron Collider (LHC) – o maior acelerador de partículas, construído em 2008.
Programação
No primeiro momento, o professor Helvécio realizou uma palestra introduzindo a temática das partículas elementares, para que os estudantes pudessem compreender melhor o que seria retratado durante o International Masterclasses.
O evento teve como convidado especial o professor Marcelo Munhoz, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador da colaboração internacional Alice do LHC-Cern. Em sua palestra, ele abordou o tema aceleradores de partículas, contribuindo, posteriormente, para as atividades em grupo. O professor explicou que os aceleradores de partículas são equipamentos com capacidade de acelerar (levar do repouso até altíssimas velocidades) diferentes tipos de partículas e provocar colisão entre elas. Há milhares no mundo todo, sendo utilizados nas mais variadas aplicações.
“A curiosidade para descobrir como funciona o mundo que nos cerca já seria suficiente para justificar o investimento na ciência, mesmo em estudos que não apresentam perspectiva de uma ‘utilidade’ a curto prazo. Porém, mesmo estudos como esses trazem inovação e desenvolvimento tecnológico devido sua elevada demanda por soluções tecnológicas”, complementou o professor Marcelo.
O professor Marcelo também mostrou que diversos desenvolvimentos tecnológicos tiveram origem ou participação decisiva dos pesquisadores do Cern. “Quando você propõe a estudar do que é feito a natureza, começa-se a cobrança pela tecnologia e suas aplicações. Hoje em dia, há muitos aceleradores para fins práticos e aplicados, como para tratamento de câncer”, relatou. Outro exemplo é o cientista da Cern Tim Berners-Lee, que inventou a Word Wide Wed (WWW), em 1989. A ideia era facilitar a comunicação entre os cientistas.
Os estudantes ainda tiveram a oportunidade de realizar atividades com levantamentos de dados que seriam analisados no Cern. Após a coleta e interpretação, eles participaram de uma videoconferência internacional, que contou com a participação de pesquisadores na Suíça, França, Alemanha, e Eslováquia.
Talita de Souza Carvalho, estudante do 3º ano do Instituo Gammon Lavras, que pretende fazer Engenharia de Energia, disse que o evento possibilitou aprofundar um pouco mais sobre a Física e confirmar o curso que pretende cursar. “Fiquei muito empolgada com a simulação. Cheguei à minha casa e já fui mostrar para o meu irmão, que cursa Engenharia de Controle e Automação, tudo o que havia aprendido aqui”, comentou.
Até mesmo aqueles estudantes que desejam cursos em outras áreas do conhecimento também ficaram empolgados com toda a abordagem dada ao evento. “Desperta muito a nossa curiosidade. Apesar de querer fazer Direito, eu gostei muito da experiência. Além disso, para mim foi algo mágico poder participar, pois eu ainda não conhecia a UFLA. Fiquei maravilhada”, relatou a estudante de Ingaí Gabriela Eduarda da Silva, 2º ano na Escola Estadual Ramiro de Souza Andrade.
Anualmente, o programa reúne, no intervalo de um mês, cerca de 10 mil estudantes do Ensino Médio, em 42 países, envolvendo cerca de 200 universidades e instituições de pesquisa. Na UFLA mais de 60 estudantes participaram do evento. Além do Intituto Gammon e da Escola Ramiro de Souza Andrade, também estiveram presentes os Colégios Sei (Boa Esperança), Losango (Lavras), e Padre Julio Maria (Boa Esperança). “Mostrar a Física como modelagem da natureza. Nada como pronto e acabado. É importante de ser apresentado isso ainda no Ensino Médio”, comentou o professor Helvécio.
O evento na UFLA contou com o apoio do Programa de Pós-graduação em Física, dos Departamentos de Física e de Ciências Exatas, do Centro Acadêmico de Física, além da Diretoria de Relações Internacionais, e da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários. Os professores Luiz Cleber e Helvécio também tiveram o apoio do pós-doutorando do DFI Jean Felipe e da mestranda em Física Ana Luiza Costa, além de estudantes da Licenciatura em Física.
Curiosidades
- O LHC é o maior acelerador do mundo com 27 km de circunferência. Sua profundidade varia entre 50 a 175 m;
- Para construir o LHC foram gastos 3 bilhões de euros;
- A velocidade de um próton acelerado nessa energia é 99,9999991% da velocidade da luz (a frequência de rotação de cada próton: 11245 voltas por segundo – uma viagem da Terra a Netuno a cada 10 horas);
- São 600 milhões de colisões por segundo, e 150 milhões de sensores adquirindo informação 40 milhões de vezes por segundo;
- Os experimentos do LHC vão produzir 700 Mb/s de dados, ou seja, 15.000.000 Gb por ano, que equivale a uma pilha de 20 km de altura de CDs.