Seguindo os fundamentos do projeto extensionista participativo ‘Vozes da África’, o professor Gilmar Tavares, com atuação voluntária em projetos de extensão do Departamento de Engenharia (DEG/UFLA), promoveu uma capacitação técnica com ênfase em Agroecologia, Agricultura Familiar e Extensão Universitária Inovadora em Moçambique. O treinamento, 14 a 26 de outubro, foi feito por meio do convite da Organização Fraternidade sem Fronteiras, que desenvolve amplo projeto de segurança alimentar com os agricultores familiares da comunidade moçambicana de Muzumuia, distrito de Gaza.
De acordo com o professor Gilmar Tavares, muitas ações de capacitações socioambientais foram desenvolvidas durante o treinamento, atendendo aos anseios da organização Fraternidade Sem Fronteiras, que deseja iniciar a fase de autossustentação de produção de alimentos e segurança alimentar. Atualmente, a FSF oferta diariamente cerca de sete mil refeições às crianças da comunidade atendida, muitas delas com graves problemas de deficiência alimentar. “O próximo passo será produzir esses alimentos em parceria com os agricultores familiares regionais, com práticas agroecológicas”, reforçou o professor.
Representantes das comunidades apoiadas pela ONG participaram de cursos de capacitação para produção de compostagem, alimentos alternativos, filtros de água agroecológicos e plantas medicinais. Também foi lançada a proposta de produção e consumo de leite de cabra.
“Um projeto piloto de irrigação por gotejamento foi instalado como modelo na sede da ONG e, em apenas quatro dias de gotejamento, as sementes germinaram, provocando grande euforia entre os comunitários, uma vez que a região é assolada por secas severas que limitam drasticamente as produções agrícolas de subsistência”, comentou Gilmar. O equipamento protótipo e as orientações técnicas tiveram o apoio do professor Luis Lima e da equipe do Laboratório de Irrigação da UFLA.
Durante o treinamento, o professor também destacou a importância de uma ‘Ecofossa’ (Bacia de Evapotranspiração), que foi construída colaborativamente, para tratar dejetos humanos dos banheiros da ONG e servirá de modelo para os projetos em toda a comunidade. A ‘Ecofossa’ é uma tecnologia desenvolvida pela equipe do professor Gilmar Tavares, aprovada e certificada para fazer parte do acervo de tecnologias sociais da Fundação Banco do Brasil – 2011.
Dando continuidade ao projeto de extensão, a professora Soraya Alvarenga Botelho, do Departamento de Ciências Florestais (DCF/UFLA), dará assessoria às comunidades assistidas pelo projeto nas áreas de recuperação de nascentes e viveiro de mudas florestais e frutíferas. Um projeto piloto de recuperação e manutenção racional de nascente será elaborado para aplicação em terreno agrícola para produção familiar (machamba – termo usado em Moçambique) que abastece a ONG. A ação, incluindo o projeto piloto do viveiro que abastecerá os planos de reflorestamento da ONG, deverá ser realizada na próxima missão a Moçambique, prevista para março de 2017.
Neste ponto, o professor Gilmar destaca que a região de Muzumuia, no passado próximo, era tradicional produtora de Amarula, usada tradicionalmente para produção de licores, a partir da maruleira (Sclerocarya birrea). Hoje, o desmatamento e a produção de carvão ameaçam extinguir essa espécie e outras de grande porte.
“Como resultado da agressão humana, as minas d’água, as nascente e os rios regionais estão secando rapidamente, agravando a crise socioambiental. As Canhoeiras – termo regional para as maruleiras – são árvores enormes, lindíssimas e pudemos demonstrar para os comunitários, o microuniverso natural e a biocenose que se desenvolvem na projeção das imensas copas das árvores”, reconhece.
Além das ações extensionistas previstas no projeto, o professor Gilmar fez uma solicitação à Editora UFLA, para a avaliação do conselho da Editora, a possibilidade de doação de material técnico/científico impresso disponível para a Escola Superior de Desenvolvimento Rural de Moçambique – Esuder. O objetivo é dotar aquela instituição de literatura especializada de apoio que possa impulsionar a agricultura daquele país.
As pessoas que quiserem conhecer o projeto Vozes da África podem acessar www.energialternativa.ufla.br e a ONG-FSF em www.fraternidadesemfronteiras.org.br/pt-br