Em referência ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20/11, o Diretório Central dos Estudantes (DCE – Gestão Por Todos os Cantos) realizou uma série de atividades na UFLA com o objetivo de promover reflexões sobre a questão racial no Brasil. A Semana da Consciência Negra seguiu até o dia 24/11, contando com oficinas, mesas redondas, exercícios de reflexão e apresentações culturais, em uma programação aberta a toda comunidade acadêmica.
Entre os principais assuntos debatidos, estiveram o empoderamento de mulheres e homens negros, a intolerância para com as religiões de matriz africana, os aspectos da desigualdade racial e a implementação do sistema de cotas raciais no Brasil para ingresso nos cursos de graduação em universidades públicas.
Para o coordenador de Diversidade e Diferenças da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários (Praec), professor Renato Belo, a UFLA deve cumprir seu papel no debate sobre a questão racial no Brasil, pois a universidade é um lugar de conhecimento aceito como legítimo pela sociedade e indutora de ações do Estado. “Esse papel se amplia cada vez mais pela demanda interna, pois mais negros e negras adentraram nas universidades nos últimos anos, e, também, pela consciência histórica de um passado nacional que conviveu com as hoje intoleráveis atrocidades, para qualquer cidadão minimamente civilizado, cometidas contra a população negra. A avaliação analítica e crítica desse passado, que deveria nos assombrar, é decisiva para nosso presente e futuro como nação”, ressaltou.
Cotas raciais em pauta
Instituído pela Lei nº 12.711/2012, o sistema de cotas no Brasil prevê que as universidades públicas reservem, no mínimo, 50% de suas vagas na graduação para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, com vagas destinadas a pessoas autodeclaradas pretas, pardas e indígenas, e a pessoas com deficiência. Dos 10.779 estudantes hoje na UFLA, 3.186 são cotistas.
O debate realizado pelo DCE no Centro de Convivência abriu espaço para que a comunidade pudesse levantar questões e esclarecer dúvidas sobre o tema. A mesa redonda foi composta pelo coordenador de Diversidade e Diferenças, Renato Belo, pelo chefe do departamento de Ciências Humanas, Marcelo Sevaybricker Moreira, pelo professor do Departamento de Direito, Gustavo Seferian, e pela estudante do 3º período de Direito e integrante do DCE, Isabela Maria.
O professor Marcelo Moreira apontou os principais argumentos contrários e favoráveis às cotas raciais, normalmente veiculados na imprensa. De acordo com o pesquisador, o sistema de cotas faz parte de um conjunto de políticas de ação afirmativa, que são medidas implementadas com foco na promoção da justiça social. “Essas ações são desenvolvidas após um diagnóstico para detectar grupos que vivem uma situação de injustiça social e, a partir disso, constitui-se uma medida focalizada em cada grupo. Elas têm objetivo de reparação imediata, diferente das políticas universalistas, que têm efeitos a longo prazo. No caso das cotas, as reservas de vagas são direcionadas àqueles grupos diagnosticados como inseridos em uma condição de exclusão socioeconômica”, explicou.
Para o professor Renato Belo, as cotas raciais objetivam reparar parte da injustiça social oriunda de um período escravocrata tão duradouro. “As cotas funcionam no sentido de abrir espaço a populações que estiveram e ainda estão marginalizadas – como é o caso dos negros no Brasil – de lugares de produção do conhecimento. Sua importância também está em pluralizar e diversificar o acesso e a composição das universidades brasileiras, que têm papel fundamental na formação dos quadros e nas decisões políticas do país”, reforçou.
A estudante e representante do DCE, Isabela Maria, mostrou o desejo de ver o aumento de estudantes negros dentro das universidades. “Por muitas dificuldades socioeconômicas vividas pela população negra, o ambiente acadêmico continua sendo um privilégio predominantemente usufruído por brancos. Representamos 54% da população brasileira, mas ainda somos poucos no ensino superior. Precisamos ter mais voz nesses espaços”, defendeu.
Estética negra como empoderamento
O orgulho e a aceitação de ter o cabelo crespo ou cacheado também foi pauta de discussão, durante uma roda de conversa realizada no Anfiteatro da Biblioteca.
Isabela Maria contou sobre seu processo de transição capilar e de como o contexto em que vivia, em determinado período de sua vida, influenciou para que fizesse intervenções químicas de alisamento do cabelo. A estudante relatou que era difícil a convivência social com os colegas de escola por causa do cabelo considerado “diferente” e da falta de referências de pessoas negras que utilizavam o cabelo crespo ou cacheado.
O estudante de Educação Física e organizador do coletivo Orgulho Crespo, Cleyson Duarte, também apresentou suas experiências. Para além da transição capilar e a aceitação do cabelo crespo/cacheado, o debate envolveu assuntos como o racismo, a sexualização da mulher negra, os estereótipos comuns à população negra, e a dificuldade de socialização dentro das escolas e universidades.
Colaboração: Mayara Toyama- estagiária Dcom/UFLA
Confira as fotos da Semana da Consciência Negra: