De fácil manejo, o modelo permite que águas antes não potáveis sejam reaproveitadas para consumo humano
Uma alternativa para populações carentes com dificuldade de acesso à água potável para o consumo humano: o filtro de água agroecológico. Essa proposta é do projeto do Núcleo de Estudos em Agroecologia, Permacultura e Extensão Universitária Inovadora, do Departamento de Engenharia, da Universidade Federal de Lavras (NEAPE/DEG/UFLA), coordenado pelo professor Gilmar Tavares.
Um protótipo do filtro foi construído no NEAPE em 2013; porém, como a aplicação no Brasil poderia ser feita por tecnologias mais avançadas, a proposta ficou esperando uma oportunidade para ser adotada. Foi quando através do Projeto Vozes da África, também coordenado pelo professor Gilmar, os extensionistas passaram a perceber a sua utilidade em Moçambique e outras regiões da África.
Em parceria com a Organização não governamental Fraternidade Sem Fronteiras, um modelo foi construído e está sendo testado desde o final de novembro do ano passado na comunidade de Muzumuia. A intenção, de acordo com o professor, é estender o projeto para outras comunidades, como Madagascar. Antes de ser utilizada nas comunidades africanas, a água do filtro foi testada por laboratórios credenciados, para análises de potabilidade, conforme recomendações de normas internacionais.
O professor explica que o filtro é uma tecnologia socioambiental sustentável que pode ser aplicada em qualquer lugar do mundo. Ele é construído com materiais simples, baratos e fáceis de ser encontrados: cano PVC, areia, brita ou seixos e carvão. “Através da renovação contínua da água no interior do filtro, por um período de carência de 30 dias, a passagem de água lentamente, através da areia, forma um biofilme de microorganismos biófogos, que irão digerir todos os contaminantes, inclusive coliformes da água no interior do filtro, sem a necessidade de nenhum insumo químico. O próprio carvão utilizado, por exemplo, retém muitos desses elementos químicos; já os seixos deixam a água fresca, ideal para ser consumida pelo ser humano”, complementa o professor.
Importante ressaltar, segundo o professor Tavares, que a grande vantagem desta tecnologia socioambiental sustentável é o custo muito baixo. “Nessas comunidades, se usa o fogão a lenha, isso gera uma grande quantidade de cinzas e carvão, as cinzas são utilizadas para a compostagem e a biofertilização; já o carvão vamos usar para a construção dos filtros agroecológicos. Já os outros materiais podem ser facilmente encontrados, até mesmo na falta do tubo de PVC, pode ser utilizado um vasilhame de plástico, usado normalmente como reservatório de água e, às vezes, até mesmo como lixeira”, relata.
Como fazer o filtro
Para a construção do filtro, são utilizados um cano PVC 300mm, com 1 metro de altura, uma tampa de PVC 300mm, veda-rosca, cola plástico, uma torneira para o filtro, tela mosqueteira plástica, suporte para entrada da água e os materiais: areia fina, brita zero ou seixos e carvão vegetal fragmentado, ativado ou comum. O importante é limpar e desinfetar todo o material com água sanitária comercial, antes do uso e secá-los ao sol.
Para a montagem:
Fure o cano de PVC no diâmetro da torneira, aproximadamente 8 cm acima da base inferior do filtro, cole a tampa de PVC 300mm. Na base inferior do filtro, coloque 15 cm de brita ou seixos, como primeira camada, depois adapte 3 discos da tela mosquiteira com o mesmo diâmetro do tubo; sobre esta camada, acrescente 5 cm de fragmentos de carvão ativado ou 10 cm de carvão comum, como segunda camada; colocando novamente os 3 discos da tela mosqueteira, complete como última camada, 25 cm da areia e mais 4 camadas de tela mosqueteira; para finalizar, adapte o suporte de entrada da água bruta e lembre-se de renovar a água bruta a cada 24h, por 30 dias consecutivos, antes de consumir a água filtrada.
Importância do filtro
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que a falta de saneamento básico afeta a vida de 27 milhões de pessoas na África. Segundo a ONU, o consumo de água suja provoca diversas doenças, como diarreia, infecção intestinal, hepatite, entre outras que podem levar à morte. De acordo com o relatório “Água Doente”, divulgado pela entidade, o consumo e o uso de água não tratada e poluída mata mais do que todas as formas de violência, inclusive guerras.
Texto e Imagens: Karina Mascarenhas, jornalista- bolsista Fapemig/Dcom.
Edição: Mayara Toyama, bolsista Fapemig/Dcom.
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.