A acerola é muito rica em nutrientes e o que se faz com os resíduos provenientes do seu processamento? Será que eles possuem substâncias benéficas? A partir dessas questões, pesquisadoras do Programa de Agroquímica da Universidade Federal de Lavras (UFLA) iniciaram um estudo para analisar esses resíduos, provenientes do processamento da fruta em diversas indústrias de alimentos, em especial da polpa congelada.
A acerola possui uma rica composição química, destacando o seu potencial de uso e desenvolvimento em produtos farmacêuticos e/ou agroquímicos. Sendo assim, agregar valor ao resíduo industrial, que, a princípio, é descartado pelas indústrias foi o principal objetivo da pesquisa realizada pela pós-doutoranda Tamara Rezende Marques, orientada pela professora Angelita Duarte Correa.
“A acerola é uma fruta que se perde rapidamente. Quando vamos ao supermercado, é raro encontrar a fruta in natura para a venda, ou seja, na maioria das vezes consumimos essa fruta já processada, como sucos, geleias, o que gera uma grande quantidade de resíduos. Diante do grande valor nutricional apresentado na fruta, pensamos se o resíduo também possuiria esse benefício, principalmente na semente e no bagaço; além disso, possibilitaria a redução dos custos no processo fabril e evitaria o seu descarte no meio ambiente”, explicam as pesquisadoras.
O primeiro passo foi realizar a caracterização química dos resíduos da acerola, na qual as pesquisadoras constataram que o bagaço apresenta um grande valor nutricional, constituído por minerais, proteínas, vitaminas, fibras e um alto teor de substâncias antioxidantes, como os compostos fenólicos. Para a análise, foi selecionado o bagaço de acerola com alto teor de compostos fenólicos, substâncias com potencial antioxidantes, que trazem benefícios à saúde. Posteriormente, foram observadas as suas aplicações nas áreas farmacêutica, cosmética e agroquímica.
As pesquisadoras constataram que esses extratos inibem enzimas digestivas, que atuam na quebra de carboidratos, sugerindo, então a sua utilização como auxiliar no tratamento da obesidade, e controle do diabetes tipo 2, além de apresentarem propriedades antioxidantes, atuando no combate de radicais livres no organismo e também propriedades hepatoprotetoras, que direcionam o seu potencial de uso na prevenção de algumas doenças, inclusive câncer e envelhecimento precoce.
Também foram testados os extratos no controle de insetos, pragas, verificando que os resíduos de acerola possuem ação inseticida contra a lagarta-do-cartucho, uma praga muito comum encontrada nas plantações de milho, soja e algodão, que causa grandes prejuízos econômicos ao País. “Esses compostos fenólicos apresentam diferentes atividades biológicas, com aplicação tanto na saúde como na área de agroquímicos”, comentam.
A pesquisa foi realizada na UFLA em nível de mestrado e doutorado; atualmente Tamara Rezende Marques realiza o seu pós-doutorado, dando sequência aos estudos referentes às aplicações dos resíduos dessa fruta.
Reportagem: Camila Caetano, jornalista UFLA
Imagens e Edição: Mayara Toyama, bolsista Fapemig/Dcom
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.