Que tal falar de mulheres na Ciência para fechar o mês de março? Essa foi a proposta do Departamento de Física (DFI) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). A primeira edição do “Mulheres na Ciência” contou com uma expressiva programação, voltada para os desafios e as conquistas das mulheres no mundo científico, reconhecendo e difundindo o trabalho desenvolvido por pesquisadoras de destaque.
Diversas palestras e debates ocorreram nos dias 26/3 e 27/3, além de atividades culturais. Para abordar a temática e compartilhar experiências, professoras da UFLA estiveram presentes, ministrando palestras. Édila Vilela Resende Von Pinho, vice-reitora da Instituição, falou sobre as conquistas e os desafios das mulheres na Ciência; Cláudia Maria Ribeiro discutiu as multiplicidades de desafios para as mulheres na produção de vidas como obra de arte; Fátima Maria de Souza Moreira abordou as mulheres na UFLA; Maria das Graças Cardoso falou um pouco mais sobre a sua área de atuação em cachaças e óleos essenciais, assim como Jenaína Ribeiro Soares que apresentou seus estudos de estrutura de novos nanomateriais bidimensionais.
Também participaram do evento mulheres de outras instituições, como Maria Teresa Climaco dos Santos Tomaz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que abordou as mulheres nas ciências exatas; Fernanda Tonelli, do Instituto Nanocell, que apresentou um pouco sobre sua área de atuação (transgenia a serviço da vida) e Tânia Maria de Souza Castro, da Expresso Nepomuceno, que mostrou a história da sua empresa familiar.
As conquistas e os desafios das mulheres na Ciência
A vice-reitora da UFLA, durante a sua palestra, apresentou um pouco da história das mulheres na Ciência. “Embora diferentes matérias e artigos científicos façam menção da participação da mulher na Ciência a partir do século XIX, nós sabemos que isso não é verdade. Um exemplo importante é a egípcia Ísis, que compartilhou com os povos do Nilo conhecimentos da medicina, agricultura, navegação, e gastronomia. Além disso, foi ela que inventou o processo de embalsamento”.
Desde o primórdio da história as mulheres estão presentes na construção do conhecimento. Professora Édila destacou ainda, que muitas ficavam no anonimato em pesquisas de extrema relevância. Como Rosalind Franklin, responsável pelas pesquisas e descobertas que levaram à compreensão da estrutura do DNA. Mas, que até recentemente não possuía seu nome associado a esse grande marco.
Na ocasião, a professora destacou ainda algumas pesquisadoras que marcaram presença na UFLA. Como Arlete Veiga Pádua, primeira mulher a formar em Agronomia na Instituição, em 1951; Janice Guedes de Carvalho, que atuou na UFLA na Ciência do Solo e a professora Fátima Moreira, influente professora na Universidade e destaque na Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, entre outras.
Os dados apresentados pela professora Édila reforçaram a forte presença das mulheres atualmente. Hoje, o universo de estudantes das universidades é em sua maioria composto por mulheres. Além disso, 50% dos docentes nas instituições públicas também já são dominadas pelo sexo feminino. Na UFLA, não é diferente, a quantidade de mulheres vem crescendo a cada ano, e com um trabalho excepcional.
Entre 1971 e 2007, as mulheres docentes da UFLA representavam 27%. Hoje, já são 42%. São 256 professoras coordenando 473 projetos de pesquisa. A relação é de 1,85 projetos por professoras e 1,78 por professores. “Há de considerarmos que o trabalho como cientista envolve múltiplas dimensões que nem sempre aparecem no produto final: as longas horas de estudos, experimentos, dedicações, atribuições, as orientações de estudantes. Além, é claro, das exigências de publicações dos processos de pesquisa em revistas conceituadas e com fatores de impacto”, destacou Édila.
Professora Édila, além de ocupar o cargo de vice-reitora também leciona aulas na pós-graduação e coordena projetos de pesquisa. Já são 22 anos só de UFLA. Antes de iniciar a sua história na Instituição, ela consolidou a sua carreira em grandes empresas. “A caminhada foi longa para chegar até aqui. Mas, histórias como a minha são muitas. É uma luta e tem que ter muita persistência e disciplina. Como profissional e mulher, me ocupo com lealdade às atividade na UFLA, enquanto sigo questionando o tempo todo sobre as mazelas ordinárias e extraordinárias da vida; relacionamentos, familiares, casamento, filhos etc. Gosto de arte, de música, de cozinhar e de me encantar com os mistérios ainda não desvendados. Pode parecer paradoxal, completo e difícil. No entanto, o que me faz caminhar como cientista é o desafio de perseguir a melhoria e vislumbrar dias sempre melhores”, finalizou a vice-reitora.
Mulheres destaques 2017
A tarde de terça-feira (27/3) foi dedicada as mulheres da UFLA destaques no ano de 2017. A comissão do evento prestou uma homenagem às professoras: Maria das Graças Cardoso, do Departamento de Química (DQI); Fatima Maria de Souza Moreira do Departamento de Ciência do Solo (DCS) e Jenaina Ribeiro Soares, do Departamento de Física (DFI).
Para a professora Maria das Graças fazer o que se ama é a chave do sucesso: “Realmente o ano de 2017 foi um marco, foram vários acontecimentos, como a titulação por 1A do Cnpq. Mas só o dom de viver, de estar sempre rindo, a ponto do pessoal perguntar qual a receita do bom humor constante. Não poderia deixar de fazer alguns agradecimentos. Primeiro a Deus que guia os meus passos. A minha família por fazer de conta que entende as minhas ausências. Aos produtores de cachaça que são meu porto seguro. Aos meus queridos alunos, que fazem parte do meu coração. Eu não sou mãe, mas eu tenho os meus alunos. Aos meus amigos aqui presentes, que são aqueles que estão vendo o meu sucesso e compartilhando comigo. Queria deixar o agradecimento especial a uma pessoa que sempre me apoiou na UFLA, o professor Maluf e de forma especial a professora Édila. Então esse prêmio que estou recebendo não é meu, é de todos vocês e do meu departamento”.
A homenagem à professora Fátima se deve ao seu destaque na pesquisa e na área administrativa. “Eu quero agradecer a minha família, meus alunos, minhas alunas, meus colegas, a instituição e a sociedade. Pois é ela que paga o meu salário, é ela que a gente deve o nosso trabalho, o nosso conhecimento também. Neste ano estou fazendo 25 anos de UFLA e 40 anos de serviço público. Jamais imaginaria que ganharia um prêmio do Departamento de Física. E com certeza vai agregar muito. Muito obrigada”.
A terceira homenagem foi à professora e pesquisadora Jenaina Ribeiro Soares. Esta homenagem se deve ao seu destaque como jovem cientista por sua pesquisa de excelência. Em 2017, ela foi uma das premiadas pelo Programa Loreal para Mulheres na Ciência. “Para mim é uma honra poder estar aqui, no meio dessas mulheres que tem uma trajetória incrível de inspiração para nós. Gostaria de agradecer ao Departamento de Física, que realmente tem sido um espaço extremamente acolhedor. Quando prestei o concurso e vim para Lavras, não imaginava que teria esse tipo de apoio, tanto do departamento, quanto a nível institucional. Isso está sendo muito estimulante. É um estímulo para continuar e trabalhar cada vez mais forte, agregando mais ao departamento e à UFLA. De uma forma muito intensa você não faz nada sozinho, tem que ter colaboração e assim dá para conseguir fazer ciência”.
Matéria realizada com a colaboração da estagiária da Dcom Luciana Tereza
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.