Em 2018, a Expocafé, a maior feira nacional de transferência de tecnologia e de extensão do agronegócio café, completa 21 anos de existência. Realizado atualmente pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), o evento teve, em seus primórdios, a fundamental contribuição da Universidade Federal de Lavras (UFLA) como idealizadora e realizadora das edições de 1998 a 2009 e, hoje, como parceira e integrante do conselho gestor. Com a intenção de relembrar alguns momentos emblemáticos da história da Expocafé, a UFLA, por intermédio da Agência de Inovação do Café (InovaCafé), desenvolveu um estande, aberto à visitação de 16 a 18 de maio.
O público poderá ter acesso aos principais marcos da feira ao longo dos anos, além de fotos e materiais gráficos que marcaram sua trajetória. E para entender em que circunstâncias se deu o surgimento da Expocafé, é preciso voltar no tempo, mais precisamente ao cenário da cafeicultura no Sul de Minas encontrado na década de 1990.
Em 1997, o projeto “Avaliação de métodos de colheita de café” – capitaneado pelo professor de Engenharia Agrícola da UFLA, Nilson Salvador, em parceria com o também professor da área, Fábio Moreira da Silva – era responsável por avaliar máquinas de arruação, colheita e limpeza. A fazenda do “Sr. Juquinha”, um dos grandes produtores de café da região, localizada em Santana da Vargem/MG, foi o local escolhido para a realização do trabalho. Durante as avaliações, observou-se uma significativa carência em relação aos equipamentos destinados à cafeicultura.
O maquinário existente no mercado era praticamente desconhecido dos produtores, de elevado preço e de baixa eficiência. À época, a colheita era praticamente manual e não havia a preocupação de programar a lavoura para a mecanização de todas as suas etapas. Além disso, as máquinas não eram projetadas para as condições de manejo do café na região, como alinhamento e distância entre ruas, cultivar/variedade de café, número de plantas por cova, declividade do terreno e arruação, por exemplo.
Outra constatação é de que havia um grande interesse por parte dos produtores de resolver os seus problemas inerentes ao alto custo da colheita e à dificuldade de mão de obra qualificada para a colheita do café. “Mediante essas observações, veio a ideia de procurar atender aos anseios dos produtores e auxiliar, ainda, a indústria no que se refere à divulgação dos equipamentos disponíveis”, relata Salvador.
A UFLA, dessa forma, resolveu promover a junção do ensino, da pesquisa e da extensão com o sistema envolvendo a mecanização do café. “A ideia era fazer com que aprendêssemos mais, buscássemos problemas no campo para trazer para a universidade e centros de pesquisa, além de usar a extensão para divulgar o que existia em termos de mercado”, resume.
O professor Fábio Moreira, por sua vez, lembra da primeira pesquisa na área de mecanização realizado no âmbito do programa BIOEx-Café, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1997. A temática envolvia a utilização de máquinas portáteis para manejo e colheita semimecanizada. No ano subsequente, ele participou de visita à Itália, juntamente com representantes de cooperativas da região, e retornou com muitas novidades em termos de maquinário, entre elas derriçadoras de azeitona para serem aplicadas na cafeicultura. Logo, as inovações passaram a integrar a programação da Expocafé por meio de demonstrações diretamente no campo.
O evento
Nilson Salvador conta que logo veio o questionamento de onde fazer um evento que pudesse atender todas as necessidades e alcançar bastante êxito. Até então, as feiras de maior porte estavam restritas aos grandes centros e capitais, locais aonde os cafeicultores não chegavam. Foi então que se decidiu pela realização no campo, que era a verdadeira “casa” do produtor, além de ser um espaço que possibilitaria a demonstração de máquinas diretamente na lavoura. Em abril de 1998, após conversas junto à presidência da União Cooperativa de Agropecuária Sul de Minas (Unicoop), aventou-se a possibilidade de realização do evento no município de Três Pontas/MG.
No mesmo mês, também foi apresentada proposta junto à Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel). Ambas as cooperativas se dispuseram a patrocinar o projeto da feira. Paralelamente, houve visita à fazenda São Sebastião, de propriedade do Sr. Deca Miranda, e o local demonstrou possibilidades de atender à proposta do evento, com energia elétrica, fácil acesso e uma lavoura ao lado. Nilson Salvador relata que saiu de lá com uma responsabilidade enorme: realizar o evento em pouco tempo, mais especificamente em 24 de julho de 1998.
Em maio daquele ano, comitiva do evento sul mineiro, composta por integrantes da UFLA, de representantes regionais e de grandes cooperativas, encaminhou-se à Agrishow, em Ribeirão Preto/MG, com a incumbência de atrair expositores e provar que havia mercado consumidor na região. “O primeiro contato foi com uma empresa fabricante de colhedoras automotrizes de café, que se mostrou muito resistente. As próprias empresas não acreditavam que as máquinas poderiam trabalhar por aqui, somente no Cerrado Mineiro. Mas saímos de lá com parcerias no segmento de máquinas em geral, de agroquímicos e insumos, transportes, máquinas agrícolas e embalagens”, enumera.
Com a proposta concreta e a iminência de realização de um evento de porte nacional, a equipe de colaboradores da UFLA foi crescendo. Foi montada, na ocasião, uma completa estrutura, com acessibilidade, estacionamento, restaurantes, água potável, sanitários, recepção, energia e segurança. O saldo foi muito positivo, com um público estimado de 5 mil pessoas e a garantia de continuidade em próximas edições. “Não posso deixar de mencionar importantes parceiros que auxiliaram na construção dessa história, como cafeicultores e instituições como Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/MG), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Prefeitura Municipal de Três Pontas, cooperativas agrícolas, entre outros”, cita.
A Expocafé foi realizada na Fazenda São Sebastião até 2002. A estrutura passou a ser insuficiente para o porte do evento, que foi crescendo ao longo do tempo e apresentando novas exigências, com a migração para novo local, que é a Fazenda Experimental da Epamig, utilizada até hoje para sediar a feira. A UFLA manteve-se como realizadora da Expocafé até 2009. Em 2010, foi concedido o direito de realização do evento à Epamig, uma das empresas parceiras e membro do conselho gestor.
Contribuições para a cafeicultura
Segundo o professor Nilson Salvador, a Expocafé foi uma alavanca de desenvolvimento da cafeicultura nacional. “Estamos falando do maior evento de café do mundo em relação à mecanização da cafeicultura”, destaca. Para ele, as principais contribuições da feira são inúmeras, a saber: estímulo para que os produtores tenham uma visão mais empresarial e competitiva, produção de cafés de melhor qualidade, manejo adequado da cafeicultura nacional e no exterior, ampliação do cenário de oferta de máquinas agrícolas e melhoria da eficiência operacional e na redução de custos. Salvador cita, ainda, o aumento da demanda de cafés especiais, o desenvolvimento de insumos relacionados à pós-colheita do café e sua comercialização, o incentivo ao desenvolvimento de políticas públicas para o agronegócio café, o desenvolvimento de novos produtos derivados, o direcionamento de pesquisas voltadas às necessidades do segmento e o incentivo à formação de núcleos de pesquisa no país.
O ex-reitor da UFLA (2004-2012) e também coordenador do programa BIOEx/Café, Antônio Nazareno G. Mendes, reconhece a importância estratégica da idealização da Expocafé pelos pesquisadores e professores da universidade há pouco mais de 20 anos. “Nos orgulhamos da participação que a UFLA tem nesta parceria, como organizadora do evento por mais de 10 anos e como colaboradora, juntamente com a Epamig, Cocatrel, Prefeitura de Três Pontas e outros parceiros. São incontáveis as contribuições que ela deu à cafeicultura brasileira, particularmente no tema ‘mecanização da lavoura cafeeira’, tornando a produção dos cafés do Brasil ainda mais sustentável”, opina.
O ex-presidente da Cocatrel, Francisco Miranda de Figueiredo Filho, em cujo cargo esteve por 21 anos, ressalta que a história da Expocafé se mistura à história da mecanização do Sul de Minas. “Com a feira e a disponibilização de conhecimentos e informações ao produtor, foi possível desmistificar a ideia de que a região era acidentada e inviável para o uso de máquinas. Nossos terrenos são ondulados e, com os tratos adequados e a melhoria das condições de declividade, a mecanização mostrou-se muito possível. A vontade do produtor uniu-se, assim, às possibilidades, fazendo com que mais de 60% das lavouras da região contem, hoje, com algum tipo de mecanização”, afirma.
Ascom Inovacafé