Muito além do fator preço, os fatores institucionais – como a legislação e os costumes de um país – têm o poder de influenciar as relações econômicas. É isso que comprova a tese de doutorado “Os efeitos dos fatores institucionais sobre o desenvolvimento das economias cafeeiras”, de autoria de Eduardo Cesar Silva, apresentada à Universidade Federal de Lavras (UFLA) em junho de 2018, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA).
Orientada pelo professor Luiz Gonzaga de Castro Júnior, a pesquisa baseou-se nos conceitos da Nova Economia Institucional (NEI) e utilizou como metodologia a detecção de outliers em séries de tempo, ou seja, observações de valor atípico geralmente causadas por intervenções políticas, mudanças econômicas ou fenômenos meteorológicos.
No trabalho, foram analisadas as séries de exportação de café verde de 16 países concorrentes do Brasil: Colômbia, Venezuela, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Congo, Costa do Marfim, Etiópia, Madagascar, Quênia, Tanzânia, Uganda, Índia, Indonésia e Vietnã. Também foram objeto de estudo as séries de produção de café de cinco estados brasileiros: Bahia, Paraná, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais. “Foi possível comprovar que a instabilidade política, entre outros fatores, afeta negativamente a exportação de café. Além disso, programas governamentais de expansão da área cultivada foram responsáveis pela consolidação de algumas das principais regiões produtoras de café atualmente”, explicou o pesquisador.
Os resultados mostraram que, em determinados momentos e circunstâncias, ocorrem mudanças na estrutura das séries de exportação e produção, causadas por fatores institucionais. Como uma das constatações da pesquisa, Silva trouxe como exemplo os países africanos, cuja instabilidade política após a independência, marcada por ditaduras, golpes de estado e guerras, causou diversos outliers nas séries temporais. “Vários autores apontam que a situação precária de muitas comunidades é causada pela estrutura da cadeia produtiva, marcada pelo poder de mercado de algumas poucas empresas de exportação, importação e torrefação que deprimem os preços pagos pelo grão. Os resultados do estudo atestam que o ambiente institucional pode ser o fator preponderante, indicando um novo caminho: como construí-lo de forma inclusiva para que fomente o desenvolvimento não só da cafeicultura, mas da economia”, pontuou.
Com relação aos estados brasileiros, os resultados revelaram que os programas de renovação e ampliação de lavouras realizados nas décadas de 1960 e 1970 tiveram grande impacto sobre a produção das principais regiões cafeeiras do país. Os estados de Minas Gerais e Espírito Santo foram os que mais se beneficiaram desses programas e das novas tecnologias desenvolvidas posteriormente. “Esta pesquisa comprovou que o desenvolvimento da cafeicultura depende de um ambiente institucional estável e inclusivo, que gere segurança aos cafeicultores e fomente a pesquisa”, finalizou o pesquisador.
Ascom Inovacafé
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.