A casca fina tem cor amarelo claro. A massa carrega o sabor marcado pela leve acidez. Esse queijo, do tipo Minas artesanal produzido na região Serras da Ibitipoca – que pertence à Zona da Mata e ao Sul do estado – era um dos prediletos dos poderosos do Brasil Colônia. A receita tem mais de duzentos anos. Mas foram resultados de uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras (UFLA) que forneceram os requisitos para o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) iniciar o registro da iguaria. A conquista do reconhecimento, que está prevista para julho, deve incentivar a economia de 15 municípios e aumentar a competitividade do produto.
O procedimento foi subsidiado pelo levantamento histórico, caracterização da região e da relevância social do queijo de Minas artesanal na economia local, elaborado pela mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável e Extensão do Departamento de Administração e Economia da UFLA (DAE) Maria Dalva Pereira, em parceria com produtores rurais e prefeituras da região.
“Produzido desde o século XVIII, antes da criação da legislação sanitária e do crescimento dos laticínios no país, o tipo Minas artesanal maturado tinha grande relevância na região das Serras da Ibitipoca. Porém, com a proibição da produção de queijos com leite cru, os produtores da região caíram na informalidade”, explicou.
A falta de uma certificação desvalorizou o produto e desmotivou a produção do queijo tão tradicional. Com a regularização, o preço do tipo maturado vendido na informalidade pode saltar de R$ 25 a R$ 40. “É a forma de agregar valor e fazer justiça social para centenas de produtores. Esse queijo é o único sustento de muitas famílias”, ressaltou.
Desde 2002, normas estaduais possibilitaram a produção do queijo maturado, sem pasteurização do leite. Para se adequar às exigências atuais, os produtores terão que modernizar a produção. “No modo tradicional de fazê-lo empregava-se muita madeira, que hoje pode ser usada apenas na prateleira. São exigidos materiais que permitem a sanitização, como bancadas de inox ou pedra”, informou.
Turismo
O reconhecimento do queijo de Minas artesanal ainda abre um novo nicho para o mercado turístico entre vales e colinas da região das Serras da Ibitipoca: é a rota do queijo. “Para expandir as vendas, os produtores vão poder organizar um tour para visitantes pela propriedade”, frisou a pesquisadora.
Registro
Sonho antigo dos produtores rurais da região Serras da Ibitipoca, o registro beneficiará mais de 450 queijeiros que trabalham na informalidade. O título é concedido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), com a solicitação da portaria que regulamenta a atividade pelo presidente da Emater.
Após a obtenção do reconhecimento, os produtores recebem assistência técnica para regularizar a produção do queijo maturado a partir de boas práticas de ordenha, sanidade do rebanho, sanitização, adequação da infraestrutura local, entre outros. Além de aumentar lucratividade, o selo permite até a comercialização do queijo em outros países.
Sete microrregiões produtoras já se destacam quando o assunto é queijo de Minas artesanal com certificação de origem: Araxá, Campo das Vertentes, Cerrado, Serra da Canastra, Serra do Salitre, Serro, e Triângulo Mineiro.
Pollyanna Dias, jornalista- bolsista Dcom/Fapemig
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.