Estradas econômicas

Com o propósito de promover o desenvolvimento do país, o governo lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Observa-se que uma série de medidas será implantada, visando criar condições para o tão sonhado desenvolvimento brasileiro. Questiona-se: como acelerar o crescimento do país se as estradas econômicas, políticas, sociais e ambientais estão cheias de buracos? Temos o buraco das altas taxas de juros e tributárias, as valas das infra-estruturas rodoviárias, portuárias e ferroviárias, o abismo da educação, a cratera da saúde, o desnível do profissionalismo, a voçoroca da habitação, a erosão da corrupção, o atoleiro das questões ambientais, as rachaduras da burocracia, as barreiras do judiciário, as infiltrações da segurança, o sumidouro da previdência e a lama da política, entre tantos outros.

Um motorista, no processo de obtenção da carteira de habilitação, aprende que, no processo de direção defensiva, só deve acelerar quando não existirem condições adversas de luz, tempo, estrada, trânsito, veículo e motorista. No caso das estradas, essas condições adversas podem estar relacionadas com curvas, morros, largura de pistas, número de faixas, acostamentos, tipo de pavimentação, buracos, desníveis elevações, lombadas, etc.
Como administrador e pesquisador na área de gestão, vejo muitas adversidades nas estradas econômicas, políticas, sociais e ambientais do Brasil. O governo passou o primeiro mandato fazendo remendos em algumas estradas e recapeamentos em outras. Grande parte dessas obras não surtiu o efeito esperado e, em alguns casos, já foi destruída pelas condições do ambiente organizacional e institucional, à semelhança do que ocorreu com a operação tapa buracos nas rodovias brasileiras.

A aceleração do crescimento do Brasil só será possível se o governo, num esforço conjunto com a iniciativa privada, promover a eliminação dos buracos das estradas econômicas, sociais, políticas e ambientais, por meio da sua pavimentação sólida, via democracia e profissionalismo. Se o presidente realmente pretende acelerar o crescimento da nação, deve dar prioridade, dentro do seu programa de governo, às reformas tributárias, fiscais, jurídicas, trabalhistas e políticas. Deve eleger a educação como a mola mestra do desenvolvimento, promovendo uma reforma geral no atual modelo, dando preferência por uma abordagem sistêmica em que os pais, ao matricularem seus filhos na escola, possam prever ou mesmo definir o futuro profissional que eles terão. Deve erradicar a praga da corrupção e a ineficiência do setor público, resgatando o valor moral e ético dos políticos e profissionalizando a máquina governamental. Deve agir para criar, realmente, condições para aceleração.

Se o governo persistir na idéia de promover a aceleração do crescimento do país sem observar as condições de suas estradas, ele poderá, no final de seu mandato, provar que, realmente, não sabe dirigir o país ou simplesmente nos deixar a dúvida de que a sua carteira pode ter sido comprada.

Antônio Carlos dos Santos
Engenheiro Agrônomo, mestre em administração rural, doutor em administração, empresário, chefe do Departamento de Economia e Administração da Universidade Federal de Lavras E-mail: acsantos@ufla.br

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