Se “a nível de” é uma praga que, de tão ridicularizada, entrou em declínio, “por conta de” está em alta. Se você folhear com atenção revistas e jornais, navegar na internet e ouvir TV e rádio – sobretudo este – encontrará uma impressionante variedade de frases sintaticamente mancas, construções que causam estranheza e outras bobagens com “por conta de” no meio.
Não se trata de exagero. Veja:
Corintianos fazem piada POR CONTA DA derrota do Santos. (Deveria usar a preposição COM).
Atriz Y. está deprimida POR CONTA DA separação. (COM)
Moradores protestam POR CONTA DA situação da estrada. (CONTRA)
Escritor X. é processado POR CONTA DE plágio. (POR)
Morreu POR CONTA DE câncer. (DE)
O craque analisou a equipe adversária, mas POR CONTA DA queda do treinador, preferiu não fazer comentários. (SOBRE)
Mesmo POR CONTA DA epidemia de dengue, as pessoas continuam deixando recipientes de água no quintal. (APESAR)
Portanto, cuidado: “o uso exagerado de uma locução que serve para qualquer situação mais do que empobrecer o vocabulário, instaura um vale-tudo em que a muleta linguística faz o papel de curinga chamado a remendar às pressas raciocínios esfarrapados. É o momento em que a inteligência coletiva paga a conta.”
Paulo Roberto Ribeiro
Ascom
Fonte: Revista Veja 21/3/2012