A experiência do grupo Maracatu Baque do Morro foi fonte de pesquisa para a licenciada em Ciências Biológicas Roberta Carvalho Pereira Campos. Ela concluiu a graduação na Universidade Federal de Lavras (UFLA) em 2015 sob orientação da professora do Departamento de Educação (DED) Rosana Vieira. Entre outras observações, ela verificou em seu trabalho de conclusão que o maracatu, enquanto manifestação da cultura popular brasileira, pode ser uma contribuição ao processo educativo dos jovens que se envolvem nas atividades.
De acordo com o trabalho de Roberta, ao participar do Grupo, os jovens adquirem experiências que vão além da própria prática cultural. A atuação em tarefas necessárias para manutenção do grupo e a forma de lidar com os conflitos surgidos durante os encontros são oportunidades educativas para os integrantes. A organização das atividades e das oficinas, o contato com outras experiências de maracatu para parcerias e intercâmbios de práticas e de informações, o cuidado com os instrumentos, a participação em apresentações e oficinas públicas e a administração das finanças para manutenção do projeto são rotinas que levam ao aprendizado individual e coletivo e contribuem para a coesão do grupo. Essas tarefas são alternadas entre os membros, diversificando o aprendizado.
Outra dinâmica do Grupo que contribui para o crescimento de seus integrantes é a realização de planejamentos e avaliações semestrais, assim como a tomada de decisões, às vezes necessárias durante os ensaios semanais. A construção coletiva desses processos, numa gestão democrática, também tem impactos positivos.
Roberta chama atenção para o fato de que o batuque, o aprendizado rítmico e os baques são elementos que efetivamente atraem e motivam a juventude a se envolver, pois contribuem para o lazer e o bem-estar. Mas adverte que a prática do Maracatu deve estar associada à reflexão crítica e à formação teórica, para que seus praticantes compreendam a história do povo negro e as raízes culturais que o batuque possui. Assim, os jovens podem atuar como transformadores da realidade, a partir da consciência formada acerca da resistência do povo negro no Brasil.
O estudo afirma que a recriação do maracatu, em um grupo universitário como o Baque do Morro, tanto acarreta perdas na tradição (são sujeitos diferentes com histórias diferentes, em contextos diferentes), como guarda em si o potencial de mobilizar a juventude e de resgatar a cultura e a história.
Para a professora Rosana, o trabalho é importante porque foi concebido com uma perspectiva em que os estudantes são sujeitos críticos e sujeitos da história. “O estudo é relevante porque aborda uma formação universitária ancorada no conceito da cultura, história e luta dos negros do Brasil, aliada ao fortalecimento da organização estudantil. Ao desenvolvê-lo, Roberta demonstrou maturidade para lidar com conflitos, frustrações e conquistas”, diz.
A estudante diz que o trabalho foi desafiador. “Foi um TCC diferente dos padrões acadêmicos, que trouxe para a minha formação a capacidade de lidar com sujeitos e ideias distintas, e valorizar o conhecimento que cada participante trazia consigo”. Ciente de que os resultados podem ser complementados por novas pesquisas e reflexões, Roberta demonstra satisfação ao comentar sobre a expansão das atividades do grupo para além dos muros da universidade. “Após a apresentação do TCC, alguns integrantes me disseram que vão começar a popularizar ainda mais o maracatu, no sentido de compartilhá-lo de forma gratuita com sujeitos da cidade, principalmente com jovens da periferia”.
O Maracatu Baque do Morro começou suas atividades na UFLA em 2013, por meio de uma iniciativa do Levante Popular da Juventude que logo ganhou o apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE). No momento de formação, a falta de instrumentos fazia com que o ritmo fosse produzido pelos integrantes com batidas no próprio corpo. De acordo com Roberta, havia um desejo dos estudantes por fortalecer a diversidade cultural na Universidade – e o Baque do Morro chegou como resposta a essa demanda. Trata-se de uma recriação do Maracatu, pois não tem todos os elementos originais dessa prática cultural. O Grupo se organiza com base no método pedagógico do Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), sendo marcado principalmente pela autogestão e pelo propósito educativo.
Atualmente, oferece oficinas gratuitas e abertas a toda a comunidade. Elas ocorrem no Centro de Integração Universitária (Ciuni), às terças-feiras e sextas-feiras, das 17h às 19h.
O maracatu mescla, em música e dança, os elementos da cultura africana aos da cultura indígena e portuguesa. Há um componente religioso e uma origem mística em sua prática, que, muitas das vezes, são ligados ao Candomblé. Essa manifestação surgiu em Recife (PE) no século XVIII e incorporou-se ao folclore brasileiro, tornando-se conhecido e praticado nas diferentes regiões do país. O maracatu faz parte da história de resistência do povo negro brasileiro, que sofreu com a escravidão e permanece, ainda hoje, lutando contra o preconceito.