Especialistas da Agência de Inovação do Café apresentam os efeitos da estiagem na redução da safra futura
A forte estiagem e as altas temperaturas nos primeiros meses do ano resultaram em prejuízos no volume do café colhido na safra 2014 e especialistas já alertam para seus efeitos na safra 2015. Apesar das lavouras se mostrarem bem enfolhadas e carregadas antes da colheita, o que os cafeicultores estão presenciando, com cerca de 80 a 90% da safra colhida, é o baixo rendimento, com aumento significativo de frutos com grãos chochos, mal formados, com sintomas de coração negro e/ou miúdos, sobretudo nas lavouras mais novas.
Este é o cenário da cafeicultura em Minas Gerais, nas principais regiões produtoras, principalmente no Sul de Minas, responsável por 50% da safra estadual e 25% de todo o café colhido no Brasil. A quebra na estimativa desta safra deverá ser confirmada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que está processando o 3º Levantamento da Safra Nacional de Café para divulgação no mês de setembro.
No dia 14 de agosto, os técnicos de operação da Conab, Sérgio de Lima Starling e Terezinha Vilela de Melo Figueiredo, que compõem a equipe de Levantamento da Safra de Café em Minas Gerais, visitaram a Universidade Federal de Lavras (UFLA), para ouvir especialistas em diferentes áreas do conhecimento sobre o impacto das condições climáticas adversas sobre o comportamento da safra atual e futura.
Os técnicos da Conab estavam acompanhados da jornalista da agência Reuters News, Caroline Stauffer, que está no Brasil para acompanhar o comportamento da safra para elaboração de boletins informativos.
Eles foram recebidos na Agência de Inovação do Café (Inovacafé), com sede na UFLA, onde tiveram a oportunidade de debater os efeitos da seca sob diferentes perspectivas: rendimento e qualidade dos grãos, condições gerais das plantas e do solo, ataque de pragas e doenças e mercado.
Participaram da reunião os professores: Rubens José Guimarães (DAG), José Maria de Lima (DCS), José Donizeti Alves (DBI), Mário Lúcio Vilela Resende (DFP – INCT Café), Luiz Gonzaga de Castro Junior (DAE) e Rosemary Gualberto Pereira (DCA), além do gerente executivo do Polo de Excelência do Café, Edinaldo José Abraão e o gerente da Regional Emater-MG de Lavras, Marcos Fabri Júnior.
Para o coordenador da Inovafé, professor Rubens José Guimarães, a UFLA reúne competências em diferentes áreas do conhecimento, capazes de descrever os cenários que os cafeicultores enfrentam nesta safra e seus efeitos na safra futura.
Sérgio Starling ressaltou que as informações disponibilizadas pela Universidade contribuem muito para amparar o trabalho de campo. Ele disse que o apoio da pesquisa, aliado ao levantamento dos técnicos da Conab, que percorrem as principais regiões produtoras, ajuda a entender melhor o comportamento da safra. O técnico comentou que embora já exista a sinalização de um possível comprometimento da produção da safra 2015, esta previsão ainda é prematura.
Para o professor da UFLA José Donizeti Alves, que atua nas áreas de Fisiologia de Plantas sob Estresse e Fisiologia do Cafeeiro, a quebra na expectativa da safra atual e futura decorre de um conjunto de fatores, entre eles, o baixo crescimento do sistema radicular, menor crescimento dos ramos vegetativos, ausência de tratos culturais e alta incidência de pragas e doenças. Ele adianta que a safra 2015 será certamente menor que a safra 2014 que, em sua avaliação, deverá oscilar entre 24 e 27 milhões de sacas de café arábica.
Os técnicos da Conab e a jornalista da Reuters também visitaram o Laboratório de Estudos e Projetos em Manejo Florestal – Lemaf, no Departamento de Ciências Florestais da UFLA (DCF), responsável por grandes projetos, como o Zoneamento Ecológico Econômico de Minas Gerais e o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar).
Levantamentos de Safra
A Conab realiza quatro levantamentos de campo ao longo do ano safra (mês de dezembro – período pós-florada; mês de abril – período pré-colheita; mês de agosto – período plena colheita; e mês de dezembro – período pós-colheita).
A primeira estimativa para a produção da safra cafeeira (espécies arábica e conilon) em 2014 indicava que o País deveria colher entre 46,53 e 50,15 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado.
Consulte a 1ª estimativa da Conab para a safra 2014 http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/14_01_17_09_29_46_boletim_cafe_-_original_normalizado.pdf
A segunda estimativa indicava uma safra de 44,57 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado, sendo 32,23 milhões de sacas de arábica e 12,33 milhões de sacas de robusta. A produção de café na região do Sul de Minas foi reavaliada para 10.873.552 sacas, revertendo a tendência de ligeiro crescimento projetada à época do primeiro levantamento e sinalizando uma retração de 18,58% comparada à safra 2013 e de 20,83% em relação ao prognóstico inicial da safra 2014.
Confira a 2ª estimativa da Conab para a safra 2014 http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/14_05_20_08_49_17_boletim_maio-2014.pdf