Crianças fora da escola
Correio Braziliense, 28/11/07
Érica Montenegro
Pais de cerca de seis mil estudantes na faixa de 4 a 5 anos lutam por vagas em 2008. Secretaria quer fazer parcerias para resolver problema.
Daqui a um mês, os 56 mil brasilienses que buscaram a rede de ensino por meio do sistema de telematrícula saberão se foram contemplados ou não com uma vaga na escola pública. Por lei, o governo local tem de garantir estudo a todos os que querem cursar o ensino fundamental e o médio. Mas os pais de 32.870 crianças com idades entre 4 e 5 anos vivem a incerteza das vagas. O público da educação infantil chegou a 58% dos que procuraram o serviço de telematrícula.
“A procura na faixa etária de 4 a 5 anos foi muito grande, o que nos obrigará a buscar todas as parcerias possíveis”, afirmou o secretário de Educação, José Luiz Valente, ao divulgar o balanço do telematrícula. A maior concentração de crianças pedindo vagas está em áreas de ocupação mais recente que, até pouco tempo, eram invasões, como Estrutural, Itapoã e Arapoanga. “São áreas em que a população chegou primeiro do que o Estado, onde a rede de equipamentos urbanos é deficitária”, afirmou o secretário. “Por isso, nossa dificuldade de atender à demanda”, completou.
Na batalha
Diante das dificuldades, os técnicos da Secretaria de Educação fazem um balanço dos espaços ociosos que podem ser transformados em salas de aula. A secretaria também busca parceria com donos de galpões ou responsáveis por igrejas que possam ser transformados em escolas temporárias. Ainda assim, estima-se que pelo menos 6 mil crianças que tentam vagas ficarão de fora do sistema. O cálculo é feito a partir da quantidade de alunos nessa faixa etária que não foi atendida no ano passado.
A dona-de-casa Maria Silvia da Silva, de 27 anos, espera que não sejam os dela. Moradora do Condomínio Del Lago, na área do Itapoã, e mãe de seis crianças na faixa de 8 anos a três meses de idade, ela procurou o serviço da Secretaria de Educação para matricular Ravel e Lucas — os dois filhos de 4 e 5 anos. “Preciso colocar estes meninos para estudar. Também quero trabalhar fora para ajudar o meu marido”, conta ela, que mora em um barraco de madeirite de apenas um cômodo e tenta levantar uma casa de tijolos há um ano. “Sei que o estudo é a única oportunidade que eles têm de ter uma vida melhor”, afirma a mãe. Os dois filhos maiores de Maria — Felipe, 8 anos, e Raeli, 7 anos — já estão no colégio e causam inveja aos irmãos menores.
Eleição
O processo para a eleição dos diretores das escolas públicas está na fase de análise de currículos. Na tarde de ontem, o Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) divulgou o resultado das provas escritas de diretores e vice-diretores. Das 895 equipes que se candidataram, 712 passaram na prova que avaliava o conhecimento das chapas a respeito de gestão administrativa e financeira. Agora, a comissão que cuida do processo de seleção se encarregará de analisar o currículo dos candidatos.
No próxima sexta-feira, a Secretaria de Educação divulga as chapas que poderão ser votadas pela comunidade. Entusiasta da idéia, o secretário José Luiz Valente explica que, nas escolas onde ninguém se candidatou, a direção será oferecida às chapas melhor pontuadas da regional de ensino. “Vamos indicar os diretores e vices pelo mérito. Acabou o tempo das indicações políticas”. Contrário à maneira de eleição decidida pela Secretaria de Educação, o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) acredita que a eleição deveria ser totalmente direta. “Para acabar com as indicações políticas, só dando todo poder às urnas”, afirmou a coordenadora de Administração do Sinpro, Maria Augusta Ribeiro.
Números e documentos
56.036 alunos procuraram o número 156 do Telematrícula.
Destes, 32.870 querem vagas no ensino infantil que atende a crianças de 4 e 5 anos.
O governo adianta que terá dificuldades para atender a demanda e que, pelo menos, 6 mil crianças ficarão de fora do ensino infantil.
Entre os dias 31 e 5 de janeiro, os pais devem ligar novamente para o 156 para checarem se as crianças conseguiram as vagas.
Entre os dias 7 e 25 de janeiro, os pais devem ir à escola indicada pela Secretaria de Educação para efetivarem a matrícula.
A documentação básica que os pais precisam para fazer a matrícula é certidão de nascimento ou carteira de identidade, duas fotos três por quatro, comprovante de residência ou de trabalho.
No caso da educação infantil, é preciso uma cópia do cartão de vacinas. Para matrículas no ensino fundamental e médio, exige-se histórico escolar.
