Pesquisa de ex-aluno da UFLA é publicada na revista Biological Conservation
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Árvore sendo cortada dentro da concessão madereira na Amazônia Brasileira, onde o estudo foi realizado, em 2012. Crédito da foto: F. França[/caption]
O ex-aluno do curso de pós-graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Filipe França, teve seu artigo de tese publicado recentemente na revista científica
Biological Conservation.
Filipe cursou o doutorado em programa de
dupla-titulação – fruto da parceria entre a UFLA e a
Lancaster University – sob a orientação dos professores Júlio Louzada (Departamento de Biologia, UFLA) e Jos Barlow (LEC, Lancaster University). A pesquisa
Identifying thresholds of logging intensity on dung beetle communities to improve the sustainable management of Amazonian tropical forests também contou com o apoio da equipe do
Laboratório de Ecologia e Conservação de Invertebrados (UFLA), do
Tropical Group (LEC), do estudante de mestrado da
Memorial University of Newfoundland (Canadá) Fábio Frazão e da ex-aluna da UFLA e professora da Universidade do Estado de Minas Gerais (
UEMG) Vanesca Korasaki.
Mais de 403 milhões de hectares de florestas tropicais em todo o mundo são atualmente destinados para a produção madeireira através do corte seletivo – uma atividade econômica comum na maioria dos países tropicais. Estima-se que cerca de 4.5 bilhões de m
3 de madeira comercial estão presentes apenas na Amazônia brasileira, e o aumento na demanda por essa madeira é esperado à medida que as florestas da Ásia e África estão desaparecendo.
A pesquisa examinou os impactos da intensificação do corte seletivo nos besouros escarabeídeos (conhecidos como ‘
rola-bosta’) e nos processos ecológicos que eles realizam, como, por exemplo, remoção das fezes e movimentação do solo. Eles foram utilizados para identificar as consequências do aumento da intensidade de remoção de madeira sob a biodiversidade e funcionamento das florestas amazônicas, com o objetivo final de aprimorar o manejo sustentável.
Filipe afirma que muita gente acha engraçado e até estranho o uso desses besouros nas pesquisas, "mas poucos sabem que os besouros rola-bosta e os processos que eles realizam na natureza são ótimos indicadores da saúde florestal e muito benéficos para o solo e para as plantas” - ressalta.
As coletas de campo ocorreram em 34 diferentes sítios de coleta apresentando diferentes intensidades de madeira removida, localizados em florestas do Pará – segundo maior estado do Brasil e área foco para esforços de conservação da Amazônia Brasileira. Os pesquisadores coletaram os besouros antes e após a exploração madeireira, permitindo
maior acurácia na avaliação dos impactos desse distúrbio florestal. Essa concessão florestal é a maior da Amazônia brasileira, apresentando cerca de 544.000 hectares de florestas nativas – uma área 3.5 vezes o tamanho de Londres.
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Coprophanaeus lancifer, maior espécie de besouro rola-bosta encontrada na região. Tem hábito crepuscular e é conhecida por apresentar um grande chifre e cavar grandes túneis. Fotografada na Amazônia Brasileira, 2016. Crédito da foto: F. França.[/caption]
No total, cerca de 5000 besouros de 53 espécies foram coletados. O número de espécies, a biomassa e a composição das comunidades de besouros, bem como as taxas de movimentação do solo, reduziram com o aumento da intensidade de corte seletivo.
Como resultado, os pesquisadores descobriram que a remoção de madeira de impacto reduzido, mesmo em baixas intensidades, pode levar a perda da diversidade de besouros e dos processos ecológicos que eles realizam.
“Nossas descobertas evidenciam que as consequências do manejo florestal de impacto reduzido dependem grandemente da escala que ele é aplicado e da intensidade de remoção de madeira que é aplicada” - afirma Vanesca Korasaki.
Para Filipe, alguns resultados foram surpreendentes. “Contrário às nossas expectativas, nós encontramos uma relação côncava entre intensidade do corte seletivo e biodiversidade/processos ecológicos. Isso demonstra que espécies de besouro mais sensíveis e importantes processos ecológicos podem ser perdidos mesmo quando distúrbios de baixa intensidade acontecem nas florestas tropicais”.
De posse dos resultados, o pesquisador pondera que a produção madeireira na Amazônia precisa reconsiderar a escala espacial na qual o corte seletivo é regulado. “O polêmico novo código florestal recomenda que as unidades de planejamento anual da Amazônia devam manter 15% das árvores grandes (ou três grandes indivíduos) para cada 100 hectares como matrizes para a produção de sementes das espécies. Os resultados da pesquisa mostram que limitando o corte seletivo em menor escala (aproximadamente 10 hectares) pode também ser importante para o valor de conservação das florestas e, principalmente, que a manutenção de grandes reservas florestais sem distúrbio é essencial para a conservação da biodiversidade tropical.” - concluiu.
Atualmente, Filipe é pesquisador associado no
Lancaster Environment Centre.
Clique aqui e confira a publicação.
Panmela Oliveira - comunicadora e bolsista Dcom/Fapemig