Melhoristas das principais regiões produtoras de café se reúnem na UFLA para debater cafeicultura e biodiversidade
A relação entre biodiversidade e cafeicultura foi o tema de uma das seis planárias do Simpósio Internacional de Biodiversidade, realizado na Universidade Federal de Lavras (UFLA) de 2 a 4 de setembro. Na terça-feira (3), melhoristas renomados das principais regiões produtoras de café apresentaram a aplicação da biodiversidade nos programas de melhoramento genético de café em Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná.
O evento contou com a participação do professor Andre Charrier, da
Ecole Nationale Superieure Agronomique de Montpellier e pesquisador do
Institut de Recherche pour le Développement (IRD). Referência em melhoramento genético do cafeeiro, Charrier apresentou resultados de pesquisas para a descoberta de novas espécies de Coffea, principalmente na África e Madagascar. Citando a existência de 124 espécies de Coffea, comentou que conhecemos ainda pouco de todo o café selvagem existente no mundo.
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Andre Charrier: conhecemos ainda pouco de todo o café selvagem existente no mundo[/caption]
Ao apresentar a variabilidade genética nas espécies cultivadas e selvagens, o pesquisador fez um alerta para o risco de os programas de melhoramento andarem em descompasso com a velocidade com que as florestas que abrigam espécies selvagens são destruídas.
Para ampliar o número de acessos nos bancos de germoplasma brasileiros, Charrier sugere aos pesquisadores identificarem a relevância de determinada espécie para seus programas e a buscarem a associação em grupos de pesquisas interinstitucionais e internacionais. Hoje, o IRD mantém parcerias de pesquisas com instituições como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Embrapa Café.
Biodiversidade nos Estados
O pesquisador do Consórcio Pesquisa Café, Luiz Carlos Fazuoli (pesquisador aposentado do IAC), apresentou a cafeicultura no Estado de São Paulo, reforçando que mais de 90% das lavouras paulistas, dispersas em 200 mil hectares, são da variedade Mundo Novo e Catuaí. Ele destacou que existe uma gama de cultivares promissoras, mas que não são adotadas e não chegam ao campo.
Problema semelhante ao enfrentado em Minas Gerais, como apontou o pesquisador da Epamig e um dos mais conceituados melhoristas do Estado, Antônio Alves Pereira. Coordenador do Banco de Germoplasma de Café da Epamig, em Patrocínio, com 1576 acessos, Tonico, como é conhecido entre seus pares, comenta que depois do Catuaí, que significa “muito bom”, tornou-se difícil atrair a atenção dos cafeicultores para outras cultivares, desenvolvidas por diferentes instituições e ainda pouco aproveitadas.
Já no Estado do Paraná, o uso diversificado de cultivares é questão de sobrevivência. Segundo o pesquisador Tumoru Sera, do Iapar, o programa de melhoramento paranaense utilizou materiais provenientes de outros estados para o desenvolvimento de 14 cultivares que tem atendido de forma satisfatória os cafeicultores. Com problemas de chuva durante a colheita, torna-se necessário o plantio de variedades com diferentes estágios de maturação para reduzir o risco e o custo de produção com infraestrutura e mão de obra.
Café robusta de qualidade
Contrário ao pensamento de que todo café robusta tem baixa qualidade de bebida, o pesquisador Romário Gava Ferrão, do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), apresentou as especificidades do programa de melhoramento no Espírito Santo que, em apenas 28 anos, foi capaz de promover um aumento de mais de 300% na produtividade das lavouras, saindo de 8 para 34 sacas/ha.
Vencido o desafio da produtividade, o programa de melhoramento agora tem como foco o uso da variabilidade genética para a identificação de materiais promissores no quesito qualidade e em compasso com as demandas da indústria. Entre os desafios do estado, está o desenvolvimento de tecnologias para aprimorar o manejo da irrigação e de maquinários que permitam a colheita mecanizada.
Biodiversidade e sistemas de produção
O pesquisador do IAC, Oliveiro Guerreiro Filho apresentou um modelo de aplicação e uso da biodiversidade no desenvolvimento de novas variedades de café, em especial, no manejo de pragas como o bicho mineiro. Questionado sobre novas variedades, Guerreiro disse que existe a previsão de uma variedade com baixo teor de cafeína estar disponível para o plantio comercial em 2015.
O coordenador técnico estadual da Emater-MG, Julian Silva Carvalho, apresentou a biodiversidade em sistemas de produção integrados de café no Brasil, com ênfase no Programa Certifica Minas Café, que promove e incentiva a sustentabilidade da produção no Estado.
A planária Cafeicultura e Biodiversidade teve a coordenação dos professores de cafeicultura da UFLA Antônio Nazareno Guimarães Mendes e Rubens José Guimarães, com o apoio do Núcleo de Estudos em Cafeicultura – Necaf.
Na quarta-feira (4), os participantes da Plenária fizeram uma visita técnica à Fundação Procafé, em Varginha, e em uma grande fazenda de café de Alfenas. Na quinta-feira (5), o grupo visitou mais quatro fazendas de café na região.
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