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Atração em queda

Escrito por Comunicação UFLA | Publicado: Domingo, 16 Setembro 2007 21:00 | Última Atualização: Domingo, 16 Setembro 2007 21:00

Correio Braziliense, 17/09/07

Priscilla Borges

Estatísticas revelam redução no número dos alunos de escolas públicas que se interessam em ingressar nas universidades federais e estaduais

A universidade pública não faz parte das prioridades dos estudantes que terminam a educação básica na escola pública. Essa é sensação de quem convive no ambiente escolar — professores e alunos —, confirmada pelos números colhidos nos processos seletivos de diversas instituições do país nos últimos dois anos. As estatísticas revelam que a quantidade de jovens que solicitam isenções das taxas de inscrição nos processos seletivos, que são destinados a egressos de escolas públicas e estudantes de baixa renda, caiu. Diminuiu também o número de inscritos que concluíram o ensino médio em colégios da rede.

Das 65 mil isenções de taxa de inscrição oferecidas pela Universidade de São Paulo (USP) em 2007, apenas 31.805 foram preenchidas. Podem fazer essa solicitação os alunos que cursaram o ensino médio em escolas públicas com renda familiar de, no máximo, R$ 456. Dos 41.493 jovens que se encaixavam no perfil, apenas 31 mil se inscreveram no vestibular. A Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) ofereceu, no mesmo período, 32.611 isenções. Desses, 24.122 eram destinadas a alunos do 3º ano do ensino médio da rede estadual. A Unesp firmou um convênio com a Secretaria de Educação de São Paulo e destina duas isenções para cada classe de 3º ano da rede. Ao todo, 21.581 estudantes se interessaram pelo benefício. O restante das isenções foi distribuído entre jovens de baixa renda (5.254) e de cursinhos comunitários (1.723).

A Universidade de Brasília (UnB) também apresentou queda no número de pedidos para o não-pagamento da taxa de inscrição, que custa R$ 80. Para o primeiro vestibular de 2006 e a 3ª etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS), 8.383 candidatos fizeram a solicitação. No ano seguinte, o número caiu para 4.913. Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 5.090 estudantes pediram para não pagar a taxa de inscrição do vestibular de 2007. Para a seleção de 2008, foram apresentados apenas 2.593 pedidos.

A quantidade de egressos da rede pública que se inscreve nos vestibulares das universidades públicas também está menor. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde esses estudantes têm 30 pontos somados à nota final desde 2005, o número de candidatos de colégios públicos subiu de 15.854 (em 2004) para 18.338 (34,1% do total) no ano de criação do programa. No ano seguinte, porém, a participação caiu para 31,3% (15.534 alunos). Em 2007, houve mais uma queda: 14.630 estudantes da rede se candidataram às vagas (29,1%).

Trabalho X estudo

Para os especialistas, é preciso estudar a fundo o que acontece com os jovens brasileiros. Mas eles levantam algumas hipóteses para explicar o desinteresse dos estudantes, como a necessidade de trabalhar, a falta de estímulo e de preparo para encarar vestibulares difíceis e concorridos e a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni). “O ProUni não é solução ideal, mas é importante porque coloca imediatamente mais jovens no ensino superior”, comenta a pró-reitora de graduação da USP, Selma Garrido.

Na opinião do pró-reitor de graduação da Unifesp, Luiz Eugênio Moraes Melo, há jovens que deixam de fazer os vestibulares das públicas porque não acreditam que serão aprovados. Mas, para ele, a maioria dos estudantes não quer mesmo é abrir mão de trabalhar. “O Brasil é um país pobre. Não basta deixar de pagar mensalidades ou a taxa de inscrição. Eles precisam de recursos para viver durante o período de estudo”, avalia.

POR QUE A UNIVERSIDADE PÚBLICA NÃO É MAIS PRIORIDADE PARA VOCÊ?

“Porque vi que é muito difícil passar no vestibular. Depois, os alunos ainda enfrentam muitas greves. Fiz o Enem, mas ainda não estou decidida se tentarei uma vaga no ProUni. Prefiro trabalhar do que estudar porque o retorno é mais rápido. Quero fazer cursinho para prestar um concurso”

Viviane da Silva Ferreira, 19 anos, pretende se dedicar a concursos públicos

“Os vestibulares das faculdades particulares são mais fáceis. Só me inscrevi no PAS por pressão da minha mãe. Há instituições privadas que são boas e não enfrentam greves. Quero montar uma empresa de informática com meus irmãos e só depois de estabilizado é que penso em cursar uma graduação. ”

David Tavares Rodrigues, 19 anos, sonha em montar o próprio negócio

“Não dá trabalhar e estudar quando o curso é em instituição pública e eu preciso trabalhar. Além disso, acho que falta infraestrutura, laboratórios e equipamentos na universidade pública para muitos cursos. Nesse ponto, as particulares são vantajosas”

Mara Camila de Camargos, 18 anos, não vai se inscrever no vestibular da UnB

“Porque quero entrar mais rápido no mercado de trabalho e tenho receio de que as greves me atrapalhem. Penso em fazer um concurso. Vou tentar uma bolsa no ProUni e me inscrevi no PAS, mas não estou estudando. O que a gente aprende na escola é muito diferente do que é cobrado no vestibular”

Orlando Marley Filho, 17 anos, gostaria de poder estudar e trabalhar ao mesmo tempo

“Quero ter minha independência, passar em um concurso público e depois estudar por prazer. Tenho medo de enfrentar a mesma situação que vivo na escola pública: às vezes, venho para a escola e não tenho aulas porque faltam professores. Os alunos da rede pública tem outras opções ”

Murilo Fauth Pereira, 18 anos, quer seguir a carreira militar e só depois cursar uma graduação

Retorno imediato

De fato, os estudantes de escolas públicas se dizem bastante preocupados com o mercado de trabalho. Apesar de estudarem em um colégio bem cuidado e equipado com laboratórios, os alunos do Centro de Ensino Médio 1 de Brazlândia, Viviane da Silva Ferreira, 19, Simone Mendes Muniz, 19, David Tavares Rodrigues, 19, e Orlando Marley Filho, de 17, admitem que a maior preocupação deles é conseguir um emprego quando concluírem o ensino médio. Eles pretendem pagar uma faculdade no futuro, depois que já tiverem independência financeira. Orlando só tentará a UnB por pressão dos pais e não está estudando para o vestibular da instituição. “Prefiro trabalhar do que estudar. O retorno é mais rápido”, garante Viviane, que pensa em fazer concursos públicos.

David acredita que o esforço necessário para garantir uma vaga no vestibular concorrido da UnB não vale a pena. “Há boas faculdades particulares e é mais fácil entrar”, opina. Orlando comenta que grande parte dos conteúdos cobrados nas provas de seleção não são vistos na escola. Para David, o governo precisa investir mais na capacitação dos professores e aumentar os salários da categoria. O coordenador pedagógico do CEM 1 de Brazlândia, Marcelo Brito, lamenta que somente uma pequena parcela dos alunos se interesse pela vida acadêmica. “Estudar na UnB exige muito investimento do estudante, até pela distância geográfica. Eles também não se sentem empenhados em se esforçar para passar no vestibular”, comenta.

Os jovens reclamam que a estrutura da universidade não favorece quem trabalha. “Os horários não deixam que a gente trabalhe e a prioridade é minha independência”, garante Murilo Fauth Pereira, 18. Alunos de um colégio que sempre teve tradição em preparar estudantes para o vestibular, o Centro de Ensino Médio Setor Leste, ele e as colegas Mara Camila de Camargos, 18, e Hannah Leite, 17, também afastaram a universidade pública de seus planos. Os estudantes se mostram desapontados com os problemas vividos pelas instituições públicas. O medo das greves, da falta de professores e de equipamentos os fazem desistir. “Não há laboratórios suficientes em muitos cursos. É só pelo lado financeiro que a gente ainda tenta a UnB”, destaca.

Porém, com a chegada do ProUni, a dificuldade em pagar as mensalidades diminuiu. Murilo destaca que os estudantes de escolas públicas possuem opções melhores hoje. “Para quê fazer um vestibular concorrido, onde a gente precisará se dedicar ainda mais, se é possível tentar o ProUni, que oferece bolsas em boas faculdades?”, questiona.

Instituições apostam na inclusão

Várias universidades federais estão investindo em programas para facilitar o acesso de jovens de baixa renda ou afrodescendentes

Apesar dos dados negativos em relação ao número de candidatos egressos de escolas públicas que tentam uma vaga nas universidades estaduais e federais, é importante ressaltar que muitas delas lançaram programas de inclusão social nos últimos dois anos. As ações promoveram o aumento da presença de jovens da rede pública, de baixa renda e afrodescendentes nessas instituições. Mas os especialistas no assunto reconhecem: ainda é pouco.

Além das políticas de cotas, as instituições de ensino superior adotaram programas de incentivo aos estudantes que contemplam bônus nas notas para os egressos de escolas públicas — caso da USP e da Unicamp, por exemplo —, aumento da concessão de isenções de taxas de inscrição, promoção de cursos de formação continuada para professores da rede de educação básica de ensino e programas de apoio à permanência dos aprovados na universidade.

A Universidade de Brasília (UnB) e o Governo do Distrito Federal anunciaram na semana passada que todos os estudantes da rede pública de ensino do DF receberão isenção das inscrições do Programa de Avaliação Seriada (PAS) e dos vestibulares a partir de 2008. Segundo o reitor da UnB, Timothy Mulholland, o objetivo do projeto é estimular esses alunos a tentar uma vaga na instituição. “Há muitos jovens que nunca sonharam com a UnB. Queremos que eles sonhem com isso”, afirma.

Timothy reconhece que isentá-los de pagar as taxas de inscrição não é suficiente. Ele destaca que é preciso investir em políticas de manutenção do jovem na universidade e, especialmente, ampliar as vagas em cursos noturnos. Essa é uma das principais demandas dos estudantes, que desejam trabalhar e estudar ao mesmo tempo, mas ainda pouco contemplada pelas estaduais e federais.

Na USP, 85 cursos são oferecidos também no período da noite. Na Unicamp, eles são 20. Na UnB, são 15. A Unifesp promoveu uma grande expansão das vagas. Em três anos, a quantidade aumentou de 300 para 1.150 neste ano, distribuídas em três unidades e, especialmente, foram abertas vagas noturnas. “Elas foram as mais concorridas, isso mostra que é onde precisamos investir”, destaca o pró-reitor da Unifesp, Luiz Eugênio Moraes Melo.

Na opinião da professora de pedagogia da Unicamp, Maria Márcia Malavasi, existem muitos fatores que afastam os estudantes da rede pública das instituições federais e estaduais. A primeira é que muitos não conseguem levar o curso sem um trabalho, já que precisam comprar livros, custear alimentação e transporte (por muitas vezes, até a própria família). “Uma pequena parcela da população enxerga no ensino superior um horizonte para a própria vida”, pondera.

Para Jaqueline Santos Querino, 18, e João Pedro Lopes Pinto, 19, estudar é importante, mas a universidade deixou de ser a preocupação principal. Os dois ainda tentarão vagas em instituições públicas, mas garantem que não ficarão chateados se não forem aprovados. “A concorrência para entrar em uma federal é muito grande. A particular é mais fácil e a estrutura física é melhor. Ser um bom profissional depende da gente”, comenta João. “Onde eu for aprovada, está bom”, emenda Jaqueline. A jovem também pretende trabalhar o quanto antes. “Quero minha independência”, afirma a estudante.

Bolsas nas particulares

Para o coordenador adjunto do vestibular da Unicamp, Renato Pedrosa, o Programa Universidade para Todos (ProUni) teve um grande impacto na procura dos estudantes de escolas públicas pelas vagas das federais e estaduais. “Acho que só não perdemos mais candidatos por conta do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) que iniciamos em 2005”, comenta. Os estudantes de colégios públicos passaram a ganhar 30 pontos a mais na nota final e a aprovação deles aumentou. Em 2004, foram aprovados 831 alunos (28%). Em 2005, o número pulou para 1.021 (34,1%); em 2006, voltou a cair para 969 (32%) e, em 2007, chegou a 991 (32,4%). Para os organizadores, o número tende a se estabilizar.

O mais interessante é que o número de estudantes egressos de escolas públicas aumentou em 39 dos 56 cursos da Unicamp. Em graduações como história, medicina, letras, música e ciências sociais, a quantidade dobrou. “Um dos pontos importantes para o sucesso do programa foi a divulgação feita nas escolas. No primeiro ano, havia uma demanda reprimida e por isso aumentamos o número de participantes e aprovados. Agora, a tendência é no sentido da estabilização”, analisa Pedrosa.

A Universidade de São Paulo (USP) também lançou um programa para incluir alunos de escolas públicas na instituição neste ano. Eles ganham um bônus de 3% na nota do vestibular. Com o benefício, conseguiram atingir o objetivo de colocar mais alunos com esse perfil na instituição. Em 2006, entraram 2.448 estudantes com esse perfil. Neste ano, foram 2.719. “Tenho certeza de que estamos no caminho certo. Precisamos acabar com a cultura de auto-exclusão e mostrar a esses jovens que eles podem sim entrar na universidade pública”, destaca Selma Garrido, pró-reitora de graduação da USP.

 

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