Mulheres na UFLA: primeira servidora do quadro ingressou em 1968
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Vanilda mostra a lamparina utilizada por ela durante os trabalhos no novo câmpus da UFLA, em sua fase inicial.[/caption]
Em meio a lutas, conquistas e desafios que marcam o percurso das mulheres na Universidade Federal de Lavras (UFLA), emergem histórias que merecem ser recordadas na semana em que foi celebrado o Dia Internacional da Mulher. Uma delas é do ano de 1968, quando chegou à instituição a primeira servidora a pertencer ao quadro. A contadora Vanilda Amâncio Bezerra de Sequeira Costa trabalhava, à época, no prédio onde hoje funciona o Museu Bi Moreira (MBM), Câmpus Histórico. Além dela, atuavam na então Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL) mais 21 servidores – todos homens.
Vanilda lembra com saudade do período posterior à federalização da ESAL. “Trabalhamos muito, em um esforço sem medida, embasados pela esperança, pelo sonho de que a instituição pudesse crescer e resultar em uma história de sucesso – e foi o que aconteceu”. Ela conta que, quando os primeiros prédios foram construídos no “câmpus novo”, os servidores mudaram o local de trabalho, mas ainda não havia energia elétrica. “Era muito serviço a ser feito. Para ficarmos à noite, utilizávamos uma lamparina”. A ferramenta de trabalho que servia para iluminar os cálculos e trabalhos administrativos realizados pelo grupo está hoje no Pró-Memória do Instituto Presbiteriano Gammon, onde Vanilda atua como voluntária, ajudando a preservar a história das duas instituições.
Entre as recordações, está também o período difícil pelo qual a ESAL passou no fim da década de 1960, quando os servidores ficaram dois anos sem receber salários. “Trabalhávamos com pouquíssimos recursos. E, mesmo sem salário, perseveramos na luta, acreditando que algo de bom ainda viria. Mas valeu a pena. Quando os salários atrasados chegaram, em caixas de papelão e trazidos no velho jipe que a instituição possuía, houve festa em Lavras. Os comerciantes do município também comemoraram, porque nos vendiam os produtos com a promessa de que um dia receberiam por eles”.
Mesmo tendo sido, por algum tempo, a única servidora mulher no quadro, Vanilda afirma que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito. “O que tenho a ressaltar é que sempre imperaram a amizade, o carinho e o respeito de professores, estudantes e técnicos administrativos. O espírito de amizade gammonense era parte de todos”. A trajetória profissional de Vanilda foi de esforço, fato que costuma marcar a história de grande parte das mulheres. “Na década de 1970 eu tinha três filhos pequenos e mesmo assim assumi o desafio de cursar a graduação. Éramos um grupo de 11 servidores da UFLA; íamos aos fins de semana para Três Corações (MG), onde assistíamos às aulas.”
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A coordenadora do Pró-Memória e supervisora do Ensino Fundamental II do Gammon, à direita, é irmã de Vanilda e testemunhou toda a história. Para ela, em Lavras, "cidade tão marcada por um ambiente cultural diferenciado", as mulheres chegaram cedo ao mercado de trabalho, sem tantos preconceitos. Ela também tem uma vida de dedicação ao Gammon e acompanhou todo processo que deu origem à ESAL/UFLA.[/caption]
Depois de formada em Ciências Contábeis, ela assumiu a direção do setor em que sempre atuou na ESAL/UFLA, trabalhando com as atividades de contabilidade, administração, finanças e orçamento. Ela também prestou concurso público em 1972, ingressando em definitivo no quadro da UFLA, tendo se aposentado apenas em 1991.
Hoje, a emoção toma conta de Vanilda quando ela passa pela UFLA. “Fico maravilhada com todo o crescimento; a alegria chega a apertar o peito quando vejo o câmpus e tudo de novo que surge nele. Sinto muito orgulho por ter feito parte dessa história em um momento em que os desafios eram tantos”.
Servidoras na UFLA
Dados da Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (PRGDP) mostram que atualmente a UFLA possui 481 servidoras (professoras e técnicas administrativas), o que equivale a 39% do total. A tendência, no entanto, é de que a proporção entre homens e mulheres se torne ainda mais próxima. Se consideradas as posses concedidas nos últimos três anos e meio, observa-se que 48,5% delas foram de mulheres. Foram 669 posses, sendo 325 novas mulheres no quadro.
Com colaboração de Camila Caetano e Cibele Aguiar.