A rotina do atleta Youssouf na UFLA é destaque no Portal dos Jogos Olímpicos 2016
[caption id="attachment_112516" align="aligncenter" width="612"]
Youssouf e Fernando: uma dupla de sucesso. Foto: Miriam Jeske/Brasil2016.gov.br publicada na matéria original do Portal Oficial dos Jogos Olímpicos 2016[/caption]
O Portal Oficial dos Jogos Olímpicos 2016 publicou uma matéria de destaque sobre a vinda do atleta
Youssouf Mahamat Goubaye, de Chade (país no centro-norte da África) para a Universidade Federal de Lavras (UFLA), onde iniciou os seus treinamentos com o professor Fernando de Oliveira, técnico do Centro Regional de Atletismo (Cria).
A matéria
“Do Chade para Lavras, a obstinação de Youssouf em busca do sonho olímpico”, de Gabriel Fialho, conta como o corredor africano deixou tudo para trás e desembarcou em Lavras para vencer no atletismo.
Clique aqui e acesse a matéria completa
A matéria também destaca a história do Cria e como são realizados os trabalhos com mais de 1500 alunos de Lavras e região.
Entenda a história de Youssouf e a UFLA
Youssouf vem de um país localizado na parte central do norte da África, cortado pelo deserto do Saara, com temperaturas que ultrapassam a casa dos 45 graus. “Com uma história de milhares de anos, mantém tradições e costumes de seus ancestrais e, como em vários países, há disputas e guerras que se eternizam”, conta o professor de Educação Física da UFLA (DEF) Fernando de Oliveira, responsável pela vinda do atleta para a UFLA.
“A minha história com esse país era inexistente (sem contato com o país nem pelas leituras da filosofia africana ou sobre a diáspora negra), até que viajei em 2015 para o mundial de atletismo sub18, realizado na Colômbia. No meu retorno ao Brasil, passando pela sala de espera do Aeroporto de Cali, encontrei um atleta tchadiano conversando com um treinador português – Luís Heredio – do Sporting Lisboa de Portugal e da Seleção Nacional”, relata o professor.
Fernando conta que nunca tinha visto Youssouf correndo, mas ao conversar com Luís Heredio, soube que o jovem era muito bom, além de muito decidido. “Ele saiu sozinho do seu país e resolveu, também sozinho, todos os problemas encontrados em competições como aquela. Ataquei com o meu francês de baixa qualidade e conversamos rapidamente; então o atleta do Chade demonstrou interesse de vir ao Brasil treinar e estudar. Trocamos e-mails e telefonemas”, comentou Fernando.
Após um tempo, o professor volta a ter contato com o atleta. Assim, resolvem que Youssouf viria para o Brasil. “Primeiro, o visto deveria ser tirado em Yaoundé, Camarões, já que não temos representação consular em N`Djamena, capital de Chade. Depois, o custo da passagem foi outra dificuldade, por ser muito alto para um jovem tchadiano e sua família. Por fim, seu pai conseguiu parte do dinheiro e ele vendeu seu computador e celular para completar a compra. De N´Djamena, na sua vinda, ele foi para a Ethiopia e passou um dia em Addis Abeba; no outro, chegou a São Paulo e veio para Lavras”, diz Fernando.
O professor relata que, logo de início, impressionou-se com as atitudes do jovem de 17 anos. “Chegando aqui, após dormir algumas horas, já estava treinando conosco. Ele me contou das dificuldades de seu país e de seu treinamento. Descobri que o campeonato mundial foi sua quarta competição e que seus treinos pareciam de outro mundo, de tão básicos e incompletos. Havia jogado apenas futebol até 15 meses antes. Ele nos impressionou em suas primeiras corridas em nossa nova pista, parecia ter nascido para correr com suas pernas finas e longas”.
Além das grandes habilidades, o professor Fernando tem admirado, cada vez mais, o caráter de Youssouf. “Outro dia me disse que havia recebido o convite do Canadá para ir treinar por lá. Caí na besteira de perguntar o porquê de não ter aceitado a proposta. Sua resposta: – Meu pai me ensinou que não posso ser duas pessoas – havia assumido um compromisso com o senhor. Naquele momento, vi que estava diante de algo diferente”.
Youssouf já está classificado para o mundial sub 20 neste ano, e a expectativa é de que também participe dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. “Ele é bom demais e corre como um guepardo. É um exemplo para os que vivem reclamando da vida, e demonstra uma segurança em suas decisões que espanta quem está por perto”, complementa Fernando.
Texto: Camila Caetano – jornalista/ bolsista UFLA