Projeto de extensão da UFLA promove o ensino de matemática para cegos em Lavras
A inclusão de pessoas com necessidades especiais é um dos grandes desafios da educação em nosso país. Na UFLA, um projeto dos estudantes do Núcleo de Estudos em Educação Matemática (Neemat) do curso de Licenciatura em Matemática tem ajudado pessoas com deficiência visual e cegos a resolver operações como adição, subtração, divisão, multiplicação e extração de raízes quadrada e cúbica.
O projeto “EDUMATIN: Educação Especial na perspectiva da Educação Matemática Inclusiva” teve início em 2015, sob a coordenação da professora Rosana Maria Mendes e tem por objetivo “incluir estudantes com deficiência no ensino da Matemática.” A professora explica que, para trabalhar a Matemática com pessoas cegas, é preciso ter materiais manipulativos, uma vez que o processo de aprendizagem deles se dá a partir do tato. Por isso, são usados alguns materiais específicos como o Soroban e o Tangram. O ensino com Surdos se dá através da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
O Soroban é um instrumento utilizado para cálculo que teria origem chinesa e que posteriormente ganhou popularidade no Japão como método de ensino para crianças. Este ábaco é composto de diversas colunas que representam unidades, dezenas, centenas e assim por diante. Cada coluna contém duas partes, sendo lidas da esquerda para a direita. “O Soroban é uma calculadora tátil com a qual o cego ou deficiente visual consegue visualizar as operações básicas, e também as mais avançadas, como raiz quadrada, equações conenciais com apoio tátil. Assim, ele consegue realizar todas essas operações com mais facilidade”, explica o estudante Maycon Clisman Ferreira.
Outro instrumento utilizado no projeto é o Tangram, que foi adaptado: “para os alunos cegos e deficientes visuais colocamos texturas diferentes nas peças e, com isso, eles conseguem sentir tatilmente essas texturas e assim montar o quebra-cabeça”, diz Mycon. O Tangram é um jogo milenar de origem chinesa, seu uso na Matemática ajuda na concepção do conceito de formas geométricas. Ele é formado por um quadrado, cinco triângulos e um paralelogramo que juntos constituem objetos de diversos formatos.
O Edumatin realizava as atividades, até setembro de 2018, no Centro de educação e apoio às necessidades auditivas e visuais, as aulas aconteciam uma vez por semana. Atualmente, o projeto conta com um estudante voluntário. Para a professora Rosana, projetos de extensão com alunos da licenciatura em Matemática são muito importantes para a formação acadêmica dos discentes. “Estes estudantes, que serão professores, tem a oportunidade, com esse projeto, de saber como ensinar as pessoas com deficiência, nesse caso os deficiência visuais e os surdos.” Outros materiais estão sendo adaptados para serem trabalhados com deficientes visuais e cegos, como por exemplo um dominó simples que pode ser adaptado com texturas.
Em 2015, foi publicado o Estatuto da Pessoa com Deficiência que constitui o “direito da pessoa com deficiência à educação, assegurado em sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem”. A coordenadora destaca que o trabalho com pessoas com deficiências visuais e Surdos na educação da Matemática ajuda a comunidade a promover melhor a inclusão mesmo com recursos limitados. “Temos feito trabalhos de adaptação de objetos, para termos o conhecimento dos materiais com os quais será possível ensinar os conteúdos da base nacional comum na Matemática. Assim, as pessoas com estas deficiências podem ter a oportunidade de aprender matemática como qualquer outro estudante.”
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Luíz Felipe Souza Santos - bolsista Dcom/UFLA