Nome do Museu de História Natural passa a homenagear sua idealizadora, professora Léa Rosa Mourgués Schurter
No ano em que completa duas décadas de existência, o Museu de História Natural da Universidade Federal de Lavras (MHN/UFLA) recebe uma justa homenagem: passa a agregar ao seu nome o da professora do Departamento de Biologia Léa Rosa Mourgués Schurter, que atuou de forma decisiva em sua concepção e criação. A homenagem foi proposta pela Congregação do Instituto de Ciências Naturais (ICN) e aprovada pelo Conselho Universitário (CUNI), por meio da Resolução n° 45, de 15 de julho de 2021.
A professora Léa nasceu na cidade de Talca, no Chile, em 1942. Formou-se na Escuela Normal de Talca e graduou-se em Ciências Biológicas na Universidad de Concepción. Em 1977, chegou ao Brasil por intermédio de um programa de atração de profissionais estrangeiros, mas sem a garantia de emprego. Conseguiu ingressar no mestrado em Entomologia da Universidade de São Paulo (USP), onde também cursou o doutorado. Tornou-se uma das poucas especialistas do mundo na família das pequenas moscas sphaeroceridaes.
Durante sua passagem pela USP, a professora Léa trabalhou no Museu de Zoologia, no bairro Ipiranga. A experiência é destacada por seu filho, Ricardo Andrés Neumann Mourgues, como fundamental para a concepção do Museu de História Natural da UFLA. “O ambiente de trabalho e a exposição desse museu foram fundamentais como inspiração para levar adiante a ideia de criação de um museu, ainda que em menor escala”, conta.
O ingresso na antiga Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), que se transformou em UFLA, ocorreu em 1985, como professora de Zoologia do Departamento de Biologia. Léa integrou o corpo docente da Instituição até 2011, com atuação nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Desde os primeiros anos na Universidade, trabalhou na coleta e preparação de uma coleção de espécimes, amplamente utilizada como material didático e eventos de extensão, que viria a se integrar ao acervo do novo museu.
Admiradora da biodiversidade brasileira, a docente idealizou um espaço de divulgação de conhecimentos que ajudasse estudantes e toda a comunidade a compreender o ambiente natural local e global, além de ser um meio de divulgação da ciência. O local escolhido para a instalação foi o prédio Odilon Braga, localizado no Câmpus Histórico da UFLA. Da idealização à implementação do museu, todos os processos contaram com a participação ativa da professora.
MHN, 20 anos de história
A proposta de criação do museu começou a ser discutida no âmbito do Departamento de Biologia na década de 1990. Foram anos de muito trabalho e percalços até implantar toda a estrutura, programar a exposição e selecionar o acervo. A conclusão do trabalho só foi possível graças ao empenho e dedicação de muitas pessoas.
O filho de Léa se recorda da confecção dos painéis das janelas, da qual participou diretamente. Considerada uma das atrações do museu, a criação partiu da necessidade prática de reduzir a radiação solar pra ajudar a preservar os materiais expostos. “Tiramos inspiração dos vitrais do Museu de Zoologia de São Paulo. Em vez de retratar os bichos coloridos, decidimos fazer silhuetas, para que ficasse como se os cenários projetassem sombras no painel, como se os bichos estivessem "logo ali atrás". A cobertura teria uma relação com a exposição”, conta.
Ricardo e sua companheira, Silvana, trabalharam na confecção dos painéis do Museu de História Natural da UFLA
Em sua tese de doutorado, a museóloga da UFLA Patrícia Muniz Mendes afirma que o acervo do museu priorizou sobretudo coleções de ensino, formadas a partir dos exemplares coletados nas aulas práticas da professora Léa. “Embora a proposta do Museu tenha sido iniciada no Departamento de Biologia, desde o início apresentou um aspecto extensionista, haja vista que a expografia do espaço foi orientada para os estudantes de 1º e 2º graus, ou seja, o público escolar”, afirma.
Embora não tenha sido localizada nos arquivos da UFLA uma portaria de criação, a inauguração do Museu de História Natural da UFLA ocorreu em 8 de maio de 2001. Dessa data até o início de 2006, o espaço foi dirigido pela professora Léa. Quando deixou a direção, a docente já enfrentava um problema neurológico, que só foi corretamente diagnosticado no início de 2020 como Paralisia Supranuclear Progressiva.
Inauguração do museu, no dia 8 de maio de 2001
A doença obrigou-a antecipar sua aposentadoria, ocorrida em 2012, e impediu-a de realizar seu sonho de, mesmo após aposentada, continuar a trabalhar no museu. Em 12 de outubro de 2020, a professora Léa faleceu.