Encontro promovido pelo Nedi traz reflexões sobre a docência na Educação Infantil
No dia 14/7, foi realizado o quinto encontro virtual do Projeto de Extensão “Escola de famílias: saberes escolares e práticas familiares, uma relação possível”. O evento, nomeado como “Tia ou Professora? A docência na Educação Infantil”, foi transmitido pelo canal do Núcleo de Educação da Infância (Nedi/UFLA) no Youtube e apresentado pelas professoras Franciane Sousa Ladeira Aires e Apolliane Xavier Moreira dos Santos, que contaram com a mediação da professora Ana Paula Coelho Silva. O encontro teve a participação de famílias, estudantes, professoras e bolsistas.
Durante a apresentação, a professora Franciane apresentou os diferentes sentidos atribuídos à palavra "tia", introduzindo os motivos pelos quais as docentes da educação infantil costumam ser assim denominadas por crianças e por seus familiares. Segundo a docente, com base na teoria elaborada por Paulo Freire, o apelido atribuído à professora da Educação Infantil é uma “inocente armadilha”, já que a palavra carrega um sentido que tenta amenizar a capacidade de luta das professoras.
Outro ponto importante observado pela palestrante revela que a tia pode ser tia sem, necessariamente, gostar de ser; porém, uma professora não pode exercer sua profissão sem amar as crianças, o seu fazer pedagógico e a escolha feita ao se dedicar à docência. A professora ainda destacou que a recusa em ser chamada de “tia” não significa que não haja um vínculo afetivo da professora com as crianças. “Pelo contrário, há muito amor e carinho envolvido na Educação Infantil, porém é fundamental que as crianças compreendam que a professora não faz parte das famílias delas e que não é uma segunda mãe.”
Além disso, pautada na autora Alessandra Arce, Franciane destacou que algumas expressões como “dom” e “jeitinho de gostar de crianças” carregam o sentido de que para exercer a docência na Educação Infantil não é exigida formação. Por isso, foi ressaltada a importância do reconhecimento da identidade profissional do professor, além das observações de como o magistério é, na verdade, uma profissão que exige uma sólida formação pedagógica e de que não é o fato de as professoras serem mulheres que as convoca a atuar com as crianças.
Em seguida, a professora Apolliane reforçou alguns pontos abordados por Franciane, inclusive sobre a necessidade de se ter uma formação para ser professora. Segundo a literatura que trata da formação docente, o percurso formativo desses profissionais vai se consolidando por meio de experiências e da formação continuada. Foi destacado, ainda, como as professoras têm responsabilidades diversas, já que precisam estar nas escolas em horários marcados e, se faltam a algum compromisso, é preciso se justificar, o que não é exigido para a função de tia, que é mais flexível.
Em uma reflexão com os presentes, Apolliane sugeriu que eles pensassem na qualificação profissional das pessoas que atendem seus filhos na educação infantil, nas condições de trabalho delas dentro do ambiente escolar, se esses profissionais estão na profissão sem gostar e se são bem cuidados nesses espaços. De acordo com Apolliane, para que as famílias se sintam seguras em deixar suas crianças na educação infantil, é preciso pensar também nessas questões.
Ao final do evento, a mediadora do encontro direcionou algumas perguntas destinadas às palestrantes, entre elas uma que se referia a como fazer intervenções quando a criança chamar a professora de “tia”. As professoras responderam que não é de forma impositiva e que não se trata de ficar corrigindo as crianças, mas que, na verdade, essa correção deve ocorrer no dia a dia, dando exemplos, utilizando e reforçando o uso da palavra professora para se referir às colegas de trabalho perto das crianças, pois elas constroem seus conhecimentos por meio da fala da profissional. Além disso, é possível trabalhar com fotografias das famílias das crianças, o que fará com que elas comecem a notar que a professora não está presente nelas e que, portanto, não possui vínculo parental para ser chamada de “tia”.
Uma outra pergunta destinada às palestrantes foi relacionada à pandemia e às dificuldades enfrentadas pelas famílias durante as tentativas de se trabalhar pedagogicamente com as crianças em casa. As professoras aproveitaram para ponderar que, para atuar na educação infantil, não se trata apenas de “gostar” ou de “ter jeito”, mas sim da necessidade de uma formação profissional e continuada.
Acesse a gravação do quinto encontro.
Próximo encontro
No dia 24/8, a partir das 19h, será realizado o sexto encontro do Projeto, que abordará a recusa alimentar nos primeiros anos da infância. A transmissão será pela página do NEDI/UFLA no Youtube.