Simpósio de Mecanização da Lavoura Cafeeira dá início às atividades da Expocafé 2018
O 9º Simpósio de Mecanização da Lavoura Cafeeira deu início, nessa terça-feira (15/5), à programação da Expocafé 2018, realizada na cidade de Três Pontas/MG. Organizado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), por intermédio do professor do Departamento de Engenharia, Fábio Moreira da Silva, e de equipe técnica da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig/Lavras), o evento permitiu o intercâmbio de informações sobre tecnologias e produção mecanizada, por meio de palestras vinculadas ao tema central “Manejo mecanizado e colheita seletiva visando à qualidade do café”.
O simpósio reuniu pesquisadores, professores, universitários, técnicos e cafeicultores de diversos estados brasileiros. O dispositivo de honra foi composto pelo professor Fábio Moreira da Silva, o diretor de Operações Técnicas da Epamig, Trazilbo José de Paula Júnior, a responsável da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Café), Roseane Vilela, e o coordenador técnico da Expocafé e pesquisador da Epamig, César Elias Botelho.
Idealizador do simpósio em 2010, Fábio Moreira referiu-se à Expocafé como “a maior feira da cafeicultura mundial com foco em manejo de lavoura, colheita e toda a tecnologia destinada à melhoria da produtividade do café no Brasil”. Em sua fala de abertura, o professor ressaltou o avanço da cafeicultura em termos tecnológicos. “A atividade, hoje, está mais moderna e renovada, permitindo que a safra seja mais estável. Temos muito o que comemorar em termos de avanços, mas é preciso que momentos como este aconteça
m para que possamos debater, aprender e crescer sempre mais, sobretudo em um momento em que a demanda por cafés especiais aumentou substancialmente”, destacou. Trazilbo José de Paula Júnior, por sua vez, mencionou a importância do tema cafeicultura para a Epamig, sendo um dos 12 programas de pesquisa da instituição. “Estamos cada vez mais convencidos do importante papel das tecnologias agrícolas e da inovação em todas as etapas, do plantio à pós colheita. O dia de hoje é fundamental para que conheçamos os resultados do que vem sendo realizado, de forma muito proveitosa”, disse.
Palestras
Após os pronunciamentos, foi aberto o ciclo de palestras. A primeira delas, “Tecnologia de preparo do solo e plantio do cafeeiro”, ministrada por Daniel Veigas Soares, da Reagro, trouxe exemplos de lavouras mecanizadas, destacando fatores como o alinhamento de plantio, com maior comprimento de rua em linhas que facilitam a atuação das máquinas. “Buscamos sempre o bom plantio, o preparo adequado do solo e uma carga equilibrada de produtividade ao longo dos anos”, informou.
O palestrante mencionou a necessidade de um planejamento prévio, que envolve, antes da preparação do solo, definição de área, variedade, maturação, espaçamento, época do plantio, entre outras necessidades. Ele também explicou sobre a sistematização do terreno, com o cumprimento de etapas que abrangem a aplicação de calcário, se necessário, a passada de grades pesada e leve, a subsolagem e a detecção do ponto de umidade do solo. Ele ainda trouxe informações relativas a plantadeiras e apresentou um exemplo de dimensionamento de máquinas e mão de obra com vistas à melhor organização da atividade.
O consultor e engenheiro Hélio Casale foi o responsável pela segunda palestra do dia, intitulada “Diferentes manejos para sustentabilidade econômica”. Sua apresentação teve início com a seguinte definição: “O café é uma cultura que dá estabilidade ao proprietário, à economia da região, distribui melhor a renda, ocupa mão de obra na seca, não é perecível e valoriza o solo que ocupa”.
Em termos de manejo, Casale citou quatro tipos. Segundo definiu, o manejo dos matos é feito para manter o solo sempre recoberto de matos mortos ou semimortos, visando reduzir a erosão superficial, regular a temperatura do solo, manter a biodiversidade vegetal e aumentar o teor da matéria orgânica do solo. O manejo das águas é realizado de forma a cuidar para que toda a água de chuvas ou de irrigação fique retida, sendo lentamente cedida para as plantas, evitando estresse que causa a interrupção do crescimento normal. Já o manejo das plantas objetiva manter hastes verticais com desbrotas logo após a colheita e um repasse em fevereiro de cada ano, visando o Índice de Áreas Foliar (IAF) ideal. Por fim, o manejo equilibrado da fertilidade prevê a análise do solo a cada dois anos, assim como das folhas, que deve acontecer antes de cada adubação e da florada principal.
Dando sequência às palestras, o engenheiro agrônomo da UTZ-Certified, Eduardo Sampaio, trouxe a temática “Desafios e soluções para a cafeicultura do Brasil em relação às variabilidades climáticas”. Segundo ele, ao produzir cafés é preciso levar em consideração pontos como fraquezas, fortalezas, ameaças e oportunidades. “Como fraquezas ressalto a questão da união, o pouco conhecimento dos concorrentes e das tarifas internacionais e a desconexão entre urbano e rural”, disse. Como fortalezas, foram citados fatores como tradição, pesquisa, clima, cadeira organizada, maquinário, produção e processamento e mercado interno.
Já em relação às ameaças, Sampaio mencionou o uso intensivo de insumos, temperaturas extremas, radiação excessiva, legislação trabalhista não atualizada, qualidade de mão de obra e custo da terra. Quanto às oportunidades, teve especial menção a demanda por cafés especiais. Como adequações à variabilidade climática, foram destacados o melhoramento genético e plantas modificadas, novas metodologias de implantação/manejo e melhoria da condição climática para o café, independentemente da variedade.
Outras contribuições
O professor do Instituto Federal do Sul de Minas, José Marcos Angélico de Mendonça, abordou o tema “Inovações na pós-colheita e qualidade do café”. Ele trouxe questões como a fermentação do café, processo de alta complexidade com fatores de ampla variação. “Quando conseguimos atingir o equilíbrio, as condições e o tempo adequado, criamos uma nova roupagem para um café que era tido como defeituoso”, ressaltou. Sobre a secagem, Mendonça reforçou que o limite máximo para que ela ocorra é de 40º. A palestra também trouxe informações sobre as metodologias de avaliação de café utilizadas no Brasil e a descrição de padrões sensoriais, conforme instruções normativas.
O engenheiro agrícola da Penagos, Ezequiel de Oliveira, deu prosseguimento às atividades, abordando o tema “Novas tecnologias de pós colheita e secagem do café”. Para ele, é preciso atuar na redução da “janela” de colheita do café, por meio de investimentos em tecnologias e máquinas, a fim de processar maior volume em um período mais curto. Promovendo a redução, diminui-se a incidência de café no chão, colhe-se mais cedo e mais rápido, reduz-se os custos de colheita e pós colheita e melhora-se os resultados de bebida da propriedade.
O tema subsequente, “Estratégias para maior uniformidade de maturação e qualidade de bebida”, foi conduzido pelo agrônomo e suporte técnico da Satis, César Pirajá. Ele trouxe como exemplo de inovação de um produto que promove um ganho na quantidade de frutos cereja e um menor índice de café de chão, por meio de aplicação via folha. Como aconselhamento aos produtores, Pirajá destacou a procura por informações advindas de universidades e centros de pesquisas, assim como novas tecnologias disponíveis, que podem apresentar uma boa relação custo/benefício.
Por sua vez, a palestra “Gestão da qualidade na produção de café” foi ministrada pela cafeicultora e presidente da Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), Carmen Lúcia Chaves de Brito. Ela tratou da importância dos processos de gestão na produção de cafés especiais, dando um testemunho do que ocorre em sua propriedade. Segundo acredita, a construção de uma equipe comprometida e sensibilizada com a produção irá garantir a qualidade do resultado final. Ela também mencionou questões estratégicas do negócio, como investimentos e a constante busca por inovações e melhoramentos genéticos visando resultados qualitativos.
Encerrando as contribuições do dia, foi ministrada pelo professor Fábio Moreira (DEG/UFLA) a palestra “Avanços tecnológicos na colheita seletiva visando à qualidade do café”. Ele dissertou sobre os parâmetros necessários para realizar a colheita seletiva, como regulagem de máquinas e indicações de duas e até 3 passadas de colhedora, o que tem aumentado a possibilidade de o Brasil fornecer cafés especiais. Ele explicou, ainda, como calcular o índice de colheita, que correlaciona a velocidade com a vibração da máquina, visando a maior eficiência do processo.
Ascom InovaCafé