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Professora da UFLA é eleita para a Academia Brasileira de Ciência

Escrito por Camila Caetano | Publicado: Terça, 07 Dezembro 2021 09:56 | Última Atualização: Terça, 19 Março 2024 10:32
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A Academia Brasileira de Ciência (ABC) anunciou os seus novos membros titulares, entre eles está presente a professora Fatima Maria de Souza Moreira da Universidade Federal de Lavras (UFLA), na área de Ciências Agrárias.

Todos os eleitos tomam posse no dia 1o de janeiro. Os membros titulares e correspondentes receberão os seus diplomas em maio de 2022, durante a Reunião Magna da ABC.

Uma das missões da ABC é reconhecer e estimular – por meio de um rigoroso processo de seleção entre os pares – o ingresso em seus quadros dos mais importantes pesquisadores brasileiros que, pela liderança que exercem no avanço das atividades científicas e tecnológicas do País, podem ser considerados os representantes mais legítimos da comunidade científica nacional.

As categorias de membros permanentes da ABC abrangem Titulares; Estrangeiros e Colaboradores. Os membros titulares são cientistas brasileiros de consagrado merecimento. Os membros estrangeiros são cientistas de reconhecido mérito científico que tenham prestado efetiva colaboração ao desenvolvimento da ciência no Brasil. Os membros colaboradores são pessoas que tenham prestado relevantes serviços à Academia ou ao desenvolvimento científico nacional. O título de Membro Colaborador é concedido por proposta fundamentada da Diretoria, submetida à aprovação da Assembléia Geral.

A cada ano, os membros titulares propõem novos candidatos a membros, titulares e estrangeiros, que são eleitos pela Assembléia-Geral – instância máxima da Academia -, considerando as recomendações da Comissão de Seleção.

Academia Brasileira de Ciência

Fundada em 1916, a ABC é uma entidade independente, não governamental e sem fins lucrativos, que atua como sociedade científica honorífica e contribui para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade, visando a dar subsídios científicos para a formulação de políticas públicas. Seu foco é o desenvolvimento científico do País, a interação entre os cientistas brasileiros e desses com pesquisadores de outras nações.

A ABC recebe contribuições de seus membros individuais e corporativos e apoio financeiro de agências governamentais. Com um quadro atual de mais de 900 membros no total, a Academia Brasileira de Ciências é uma das mais antigas associações de cientistas no país e reconhecidamente a mais prestigiosa dessas entidades.

Fátima Moreira: a doutora dos solos

Nascida e criada na cidade do Rio de Janeiro, a professora do Departamento de Ciência do Solo (DCS) Fatima Maria de Souza Moreira é a filha primogênita de Manuel Gomes Moreira e Maria Alice de Souza Moreira, imigrantes portugueses que vieram ganhar a vida no Brasil, sendo o pai  comerciante e a mãe dedicada aos serviços do lar. A pouca oportunidade de estudos de seus pais fez com que ambos incentivassem a educação de seus filhos. Além dos estudos, os pais deixaram dois valores muito importantes: honestidade e trabalho. “Esses valores eu carrego até hoje. Eu gosto de trabalhar e sou meio workaholic”.

Aos 19 anos, Fátima achava que o seu futuro estava encaminhado. Ingressou no curso de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e, aos 20 anos, prestou concurso público: foi aprovada e entrou para o Banco do Brasil (CACEX-Setor de Importação, agência do Edifício Visconde de Mauá). Porém, não se sentia realizada.  Após o 1° ano de curso na PUC-RJ, ouviu falar do curso de Agronomia da Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ficou então fascinada tanto pelo curso, como pela universidade.  Como não conseguia conciliar o trabalho no banco com a nova escolha de curso, Fatima tomou a decisão que mudaria para sempre a sua vida: deixou o emprego no banco e o curso de engenharia, e ingressou em Agronomia, enfrentando a tensão com os pais, já que a decisão causaria uma grande decepção para ambos, que a consideravam encaminhada na vida. Hoje, como uma das pesquisadoras mais renomadas em sua área, Fatima tem a plena certeza de que não poderia ter tomado decisão melhor.Fatima Moreira Perfil

Ainda na graduação, já se mostrava bastante ativa. A partir do 3° período, passou a desenvolver várias atividades extracurriculares, de modo geral ligadas a trabalhos de laboratório e/ou de pesquisa. Estagiou no Departamento de Ciência do Solo, foi monitora da disciplina de Química Analítica (DCCA), fez um curso noturno audiovisual intensivo de francês de dois anos no Departamento de Letras Sociais. Em 1977, formou-se em Engenharia Agronômica.  Após a conclusão do curso de Agronomia, fez um estágio de aperfeiçoamento no Programa de Fixação Biológica de N2. “Enquanto aguardava meu então marido concluir o curso de graduação, desenvolvi as atividades que resultaram na apresentação de dois trabalhos em eventos e na publicação de um trabalho”.

Nessa fase, dois pontos foram importantes para o seu aprendizado: o conhecimento de técnicas básicas em microbiologia e o interesse pela pesquisa científica, sendo esse último decisivamente despertado pelo entusiasmo de Johanna Döbereiner, cientista que revolucionou a agricultura e precursora nos estudos com fixação biológica de nitrogênio (FBN) em gramíneas. Após o estágio de aperfeiçoamento, foi oferecido a ela um contrato de trabalho na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Mas queríamos ampliar nossos horizontes, principalmente em direção ao norte do País. Então recusamos a proposta da Embrapa e, sob recomendação de Johanna, após aprovação de currículos por uma comissão técnico-científica, eu e meu então marido ingressamos ao Instituto Nacional de Pesquisas  da Amazônia (Inpa), em 1978”.  Os resultados das pesquisas realizadas no Inpa, em 1979, foram apresentados no “International Workshop on Associative N2-fixation” e publicados posteriormente como capítulo do livro “Associative N2 fixation”, em 1981. 

Nesse mesmo ano, a pesquisadora  aceitou um convite do curso de agronomia da Fundação Universidade do Amazonas (FUA) para lecionar como professora colaboradora.  

O curso de mestrado na área de Botânica no convênio Inpa/FUA veio em 1980 e, nesse mesmo ano, nascia a sua primeira filha, Juliana. “Fiz o curso em três anos e meio. Três anos após o início do curso, tive a minha segunda filha, Aline”. Segundo Fatima, o  trabalho mais citado foi  sobre a sua tese de mestrado - “Caracterização e distribuição de uma nova espécie de bactéria fixadora de nitrogênio”-, orientado por Johanna  Döbereiner, a distância.

Em 1987, ela iniciou o doutorado no Departamento de Solos da UFRRJ, com a pesquisa intitulada “Caracterização de estirpes de rizóbio isoladas de espécies florestais pertencentes a diversos grupos de divergência de Leguminosae introduzidas ou nativas da Amazônia ou Mata Atlântica”.

Em 1991, voltou para o Inpa, onde permaneceu até maio de 1993. Nesse mesmo ano, nasceu a sua terceira filha, Camila, e conseguiu a sua primeira bolsa de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Durante os 15 anos em que permaneceu no Inpa, Fatima teve a oportunidade de publicar com todos os pesquisadores do setor, de outros departamentos, de outras instituições da Amazônia e do exterior, além de manter vínculo com a instituição de origem (atual Embrapa Agrobiologia), e estabelecer parcerias internacionais que duram até hoje.

Após atingir o topo da carreira na instituição, Fatima decidiu fazer o concurso para a vaga de professor no Departamento de Ciência do Solo da UFLA, onde se encontra até hoje. “Os primeiros dois anos na UFLA foram dedicados ao ensino e também à redação e publicação de dados coletados ainda no Inpa- Amazônia, principalmente alguns resultantes do projeto financiado pela Finep, que tinham ficado em segundo plano devido à prioridade dos trabalhos de tese e outros que surgiram durante o doutorado”.

Hoje, aos 66 anos, Fatima revê a sua trajetória e cogita a hipótese de escrever um livro sobre as situações que enfrentou, principalmente por ser mulher em uma área considerada masculina nos anos de 1970.

A pesquisadora, que possui três pós-doutorados, viaja o Brasil e o mundo como palestrante e já ganhou diversos prêmios. Adora novos desafios e diz amar o que faz. Segundo ela, na vida é preciso ter persistência. “Eu acho que na vida você tem que ter foco, personalidade forte, pois muita gente vai colocar em cheque a sua autoestima; por isso, você tem que acreditar em você, não há ninguém pior ou melhor que você.” Outra motivação de Fátima em seu trabalho são os vários estudantes que ela orienta e que chama carinhosamente de “filhos científicos”.

Texto com a colaboração de Melissa Vilas Boas

 
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