UFLA lamenta falecimento do ex-diretor da ESAL, Alysson Paolinelli
A Universidade Federal de Lavras (UFLA) comunica e lamenta o falecimento do ex-diretor da Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL) e ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli. Aos 86 anos, ele estava internado em estado grave em um hospital de Belo Horizonte. O falecimento ocorreu nesta quinta-feira (29/6) e o velório será realizado, segundo o Instituto Fórum do Futuro, no Palácio da Liberdade, das 15h do dia 29/6 às 9h30 do dia 30/6. O corpo será sepultado no cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte, às 11h de sexta-feira (30/6). A UFLA decretou luto oficial simbólico por sete dias em seus câmpus.
"(...) a UFLA foi o primeiro grande desafio brasileiro que eu tive na minha vida". Alysson Paolinelli, 2021.
Nascido em 10 de julho de 1936, na cidade de Bambuí, aos 15 anos Alysson Paolinelli deixou a sua cidade natal para cursar o ensino médio no Instituto Presbiteriano Gammon, em Lavras. Em dezembro de 1955, foi aprovado em 1º lugar no vestibular de Agronomia da Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), atual UFLA. Assim, iniciou sua jornada acadêmica, especializando-se nos estudos sobre o potencial da região do Cerrado para a produção agrícola. Enquanto estudante, Paolinelli já demonstrava seu espírito de liderança, tendo sido presidente do Centro Acadêmico de Agronomia da ESAL entre os anos de 1956 e 1958.
Formou-se engenheiro agrônomo em 1959 com louvor - foi orador da turma e mérito acadêmico. Logo após titulado, foi convidado a lecionar na Instituição. Em entrevista ao Jornal UFLA em 2021, ele relatou os tempos difíceis vividos pela ESAL na década de 1960, quando esteve na iminência de ser fechada. Na época, a quantidade de estudantes não ultrapassava o número de 120, e o número de professores também havia sido reduzido ao seu limite. “Compensávamos as dificuldades com os interesses dos alunos; as aulas práticas, na maioria das vezes, eram lecionadas em fazendas e fábricas da região”, comentou ele.
Paolinelli relembrou quando o diretor e professor John Henry Wheelock o convidou para lecionar na ESAL. “O professor Wheelock também convidou vários especialistas para os cursos que estavam vagos. Muitos colegas não aceitaram, pois não viam futuro na escola de Lavras. Era uma escola que estava fadada ao fechamento”, relatou. Mister Wheelock disse que Paolinelli era capaz de substituí-lo. “Eu tive uma reação muito forte, lembro que falei: se depender de mim para que a escola não seja fechada, está resolvido! Eu aceito. Eu nem sabia qual disciplina iria lecionar, onde eu iria morar, quanto eu iria ganhar. Abandonei todas as projeções que eu tinha feito e fiquei”, comentou. Então professor, lecionou disciplinas de Hidráulica, Irrigação e Drenagem até 1990.
Paolinelli mencionou, ainda, a união dos professores: “Todos fizeram sacrifício pessoal para manter a Escola na sua fase mais crítica. Houve um reconhecimento, não só da sociedade, que sabia que aquela Instituição era de grande importância para Lavras, mas também dos governos estadual e federal, que ajudaram, em parte, no financiamento básico dos projetos, e assim conseguimos vencer essa luta, entre os anos de 1960 e 1963, período que culminou na federalização da Escola”, afirmou ao Jornal UFLA.
Entre os anos de 1966 e 1971, Paolinelli assumiu o cargo de diretor da ESAL, o que possibilitou um ritmo de expansão próprio do dinamismo que era característico do seu perfil. Para Paolinelli, a UFLA representava muitos valores em sua vida. “Considero que me formei como um bom agrônomo, muito bem formado espiritualmente e moralmente. Hoje, só tenho a agradecer à ESAL, pois aprendi muito, aprendi a ser profissional, aprendi a ser homem, aprendi que as coisas não vêm por acaso, a não ser por muita capacidade e competência.”, declarou.
Pela importância de seu trabalho na Instituição, Paolinelli foi agraciado, em 1988, com a honraria acadêmica de Doutor Honoris Causa durante as comemorações dos 80 anos de fundação da ESAL. Em 2006, recebeu a honraria de Professor Emérito pela UFLA.
No relato da própria trajetória, enalteceu a ESAL/UFLA. “Fico muito feliz porque hoje todos reconhecem que a UFLA foi o primeiro grande desafio brasileiro que eu tive na minha vida. Isso me traz um alento, um orgulho muito grande, não pessoal, mas me convenci de que ninguém faz nada sozinho. Hoje, eu tenho a absoluta certeza de que se eu tivesse que nascer e viver tudo o que vivi, eu iria fazer tudo de novo”, disse.
Da UFLA para novas atuações
Em 1974, foi secretário de Estado de Agricultura de Minas Gerais. De 1974 a 1979, o mineiro foi ministro da Agricultura. Quando ministro, modernizou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e ajudou no desenvolvimento do Proálcool. Posteriormente, presidiu a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e elegeu-se deputado federal por Minas Gerais nas eleições de 1986, fazendo parte da Assembleia Nacional Constituinte, de 1987 a 1988.
Foi chefe da Delegação Brasileira na Conferência Mundial de Alimentos da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) e presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior do Brasil. Em 2006, Paolinelli foi laureado com o prêmio World Food Prize, que condecora personalidades que contribuíram significativamente para o aumento da qualidade e da quantidade de alimentos no mundo. Foi também presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e do Instituto Fórum do Futuro, além de embaixador da Boa Vontade do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Em 2021, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz pela contribuição e dedicação à agricultura tropical, segurança alimentar e sustentabilidade que as novas tecnologias trouxeram à produção de grãos no Cerrado brasileiro em larga escala.