Parceria entre UFLA e ONG congolesa gera impactos socioambientais e de segurança alimentar
Segundo maior país da África, a República Democrática do Congo (RDC) enfrenta desafios socioeconômicos extremos, conflitos internos e instabilidade política. A agricultura é a principal fonte de subsistência para a maioria da população. Desde 2007, a Universidade Federal de Lavras (UFLA) desenvolve o projeto Vozes da África, que continua expandindo sua proposta de paz para todas as regiões do planeta, pela produção de alimentos básicos e fundamentais para todas as populações. O impacto dessas ações é frequentemente registrado por meio de indicadores quantitativos e qualitativos, sendo o nome da UFLA muitas vezes citado como impulsionador de grandes transformações.
O Projeto Vozes da África, coordenado pelo professor emérito da UFLA Gilmar Tavares, conta com o apoio da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), assim como dos núcleos Agroecologia, Permacultura e Extensão Universitária Inovadora (Neape - DEA/DEG) e Alimentando Conhecimento (DCA), na área de segurança alimentar e nutricional de populações carentes.
Em 2023, o projeto de extensão Alimentando Conhecimentos, coordenado pela professora Ellen Cristina de Souza, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal), teve como uma das ações o oferecimento de dois minicursos sobre alimentação alternativa para a Organização Não Governamental (ONG) Chemin de la Victoire (CV-RDC), da região de Beni e North Kivu. De acordo com a professora, os cursos buscaram incluir boas fontes energéticas com os alimentos que eles produzem, como cascas de banana, mandioca e milho.
Mas o que uma ação de extensão, ministrada de forma on-line, pode impactar a vida dos participantes? Em relatório encaminhado ao professor Gilmar Tavares, o coordenador da ONG, Iteni Kasali, relata os impactos da parceria.
Impactos sociais e ambientais:
- Capacitação em agroecologia, compostagem, biofertilização, etc.
- Melhoria das técnicas e sistemas de produção agrícola dos agricultores familiares, seguindo os princípios da agroecologia sustentável;
- Aumento da renda dos agricultores familiares ao utilizar técnicas de agroecologia sustentável;
- Domínio na preparação de receitas alternativas com base em casca de banana, mandioca e milho;
- Organização de duas cooperativas de pequenos produtores familiares;
- Utilização de adubos naturais por vários agricultores familiares;
- Proteção do meio ambiente e redução da degradação das terras agrícolas devido ao respeito às normas da agroecologia sustentável.
No âmbito da Segurança Alimentar, Agricultura Familiar e Cantina Escolar, foram realizadas várias atividades no âmbito da parceria, com os seguintes impactos:
- Capacitação sobre novas abordagens alimentares no complexo escolar La Pépinière;
- Formação de uma equipe escolar para capacitar os interessados em novas abordagens sobre segurança alimentar, como a participação de agricultores familiares e pequenos produtores;
- Adoção de adubos naturais que favorecem a produtividade, impulsionando as atividades da cantina escolar no complexo escolar La Pépinière;
- Divulgação de receitas alternativas com base em alimentos locais;
- Aumento do número de alunos e melhora no desempenho escolar, promovendo a retenção das crianças no complexo escolar La Pépinière;
Para o ano de 2024, a ONG pretende promover novos cursos de capacitação em diferentes áreas, apoiar as atividades da cantina escolar no complexo escolar La Pépinière, sensibilizar a população para o uso de fertilizantes orgânicos e cultivar um campo de milho, mandioca e banana. Todo o conhecimento compartilhado no âmbito da parceria também serve como fonte para a criação e transmissão de programas de rádio, voltados para alcançar a população da comunidade. Para Iteni Kasali, a dificuldade para essas ações está na ausência de fontes de financiamento.
Atenção humanitária
Na região de Beni, no leste da RDC, a situação de segurança e direitos humanos é um desafio constante. A população precisa de abrigo, suprimentos básicos de ajuda humanitária, água potável e acesso a cuidados primários de saúde e educação. As pessoas enfrentam dificuldades para a produção de alimentos e os preços muitas vezes são inacessíveis. A CV-RDC é uma ONG de ajuda humanitária e recuperação comunitária, que proporciona às populações vítimas de conflitos ou catástrofes assistência de emergência, combate às alterações climáticas, agricultura e apoio ao autocuidado.
Projeto Vozes da África
Desde sua criação em 2007, o Projeto Vozes da África tem registrado impactos positivos na capacitação e melhoria das condições socioeconômicas da população das regiões de atuação. O professor Gilmar Tavares estima que cerca de 3500 agricultores familiares foram capacitados em Agroecologia no North Kivu e no entorno de Kinshasa. No Repositório Institucional da UFLA (RI UFLA) estão disponibilizadas publicações com com orientações extensionistas, alguns conteúdos publicados nos idiomas pátrios: swahili, lingala, kikongo e kiswahili. Além da África, o projeto ampliou as ações para o Afeganistão, Paquistão, Myanmar e Rússia, com o nome de Projeto Vozes da Ásia.
As imagens da RDC são da ONG Chemin de la Victoire (CV-RDC)