Estudo promove a reconstrução do clima da Amazônia a partir de anéis de crescimento de árvores
As florestas abrigam inúmeras espécies de animais e plantas, que contribuem para uma diversidade de pesquisas. No início do século passado, pesquisadores começaram a traçar um método científico para estabelecer a idade de uma árvore, através dos anéis de crescimento presentes em seu tronco. Esse estudo é chamado de Dendrocronologia, uma ciência em expansão, já que os estudos em florestas tropicais começaram há pouco mais de 30 anos. Na UFLA, pesquisadoras do Departamento de Ciências Florestais, em parceria com o professor David Stahle, da Universidade do Arkansas (University of Arkansas), dos Estados Unidos, e com o pesquisador Jochen Schöngart (INPA, Brasil), iniciaram em 2015, pesquisas a partir de anéis de árvores da Amazônia, com o objetivo de obter um mapeamento histórico jamais visto do clima da floresta.
Conforme explica a professora do Departamento de Ciências Florestais da UFLA Ana Carolina Maioli C. Barbosa, as plantas respondem a estímulos externos; por isso, quando as condições ambientais são adversas, a parte metabólica para e elas entram em dormência, tudo isso fica registrado anualmente em seus anéis de crescimento. “ A largura de um anel para outro é maior quando choveu muito naquele ano, e isso significa que a planta cresceu. Se o espaço entre um anel e outro é estreito quer dizer que ali houve um período de seca”, ilustra a doutoranda Daniela Granato de Souza, que coletou as amostras das árvores na Floresta Estadual do Paru, localizada no Estado do Pará. A exploração econômica sustentável dessa floresta é controlada pelo governo federal, e através de parcerias com empresas privadas, as amostras de discos completos que estão na UFLA puderam ser coletadas.
A dificuldade da dendrocronologia tropical se deve ao fato de a floresta abrigar muitas espécies de árvores com anatomias diferentes; por isso, trabalhos mais aplicados com relação ao crescimento dos anéis surgiram somente por volta do ano 2000. Para esses estudos realizados na universidade, o Cedro foi escolhido pelas pesquisadoras por ser uma espécie diretamente afetada pelas chuvas; além disso, sua disponibilidade no Brasil é ampla, podendo ser encontrado na Amazônia, Mata Atlântica, no Cerrado e na Caatinga. Foram coletadas cerca de 100 amostras de Cedro, das quais 60% foram aproveitadas para as gerar os dados que as pesquisadoras precisavam.
Segundo a orientadora do estudo professora Ana Carolina, os primeiros resultados da pesquisa mostraram-se promissores, já que o registro da variabilidade climática da Amazônia poderá ser usado para saber o histórico do clima e o que esperar das mudanças climáticas futuras “ A gente mostrou com esse trabalho que tivemos eventos de extremos climáticos que não estão registrados nos dados instrumentais, porque são de épocas anteriores aos dados disponíveis.”
O primeiro artigo do projeto intitulado Tree rings and rainfall in the equatorial Amazon foi publicado em abril deste ano na Climate Dynamics. Os resultados obtidos no estudo dessas árvores da bacia Amazônia foram publicados no banco mundial de dados paleoclimáticos e podem ser acessados por pesquisadores de qualquer lugar do mundo. De acordo com a professora, muitos outros estudos ainda serão possíveis “As amostras que coletamos poderão ser utilizadas, por exemplo, para verificar a calibração da curva de carbono, e ainda para estudos sobre isótopos estáveis, que podem ainda fornecer outras informações climáticas dessa região. ”
Reportagem: Karina Mascarenhas- jornalista, bolsista Dcom/Fapemig