UFLA terá nova estrutura para pesquisas a partir de recursos Finep
Recursos conquistados por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) permitirão que a Universidade Federal de Lavras (UFLA) reestruture espaços localizados no Biotério Central. Esses espaços passarão à classificação 3 em biossegurança, ou seja, vão dispor de todas as condições de segurança necessárias para a realização de pesquisas científicas com microrganismos de alto risco biológico.
Estudos sobre o surgimento de doenças e a fabricação de medicações e vacinas para uso humano, por exemplo, dependem de pesquisas com microrganismos patogênicos, como vírus e bactérias. Trabalhos assim só podem ser realizados em laboratórios com nível 3 de biossegurança (NB-3). É o caso, também, de pesquisas que envolvem o novo coronavírus (Sars-CoV-2), causador da Covid-19.
Segundo o reitor, professor João Chrysostomo de Resende Júnior, a conquista, obtida em uma chamada pública, é de mais de 3 milhões de reais para a adequação física e a aquisição de equipamentos, e ocorreu graças ao apoio da Finep. Parte desse recurso permitirá a adequação do Biotério Central para o desenvolvimento de estudos pré-clínicos com agentes biológicos que representam algum risco à saúde humana.
Além disso, o coordenador geral do projeto, Teodorico de Castro Ramalho, afirma que as adequações que serão feitas, em um primeiro momento, serão na ala de roedores. Adequações também acontecerão no laboratório de pesquisa, que, atualmente, é nível 2 e está inserido no espaço físico do Biotério.
Essa conquista é considerada muito importante para a UFLA, porque até então a Universidade estava limitada quanto à possibilidade de pesquisas nas áreas de genética humana e médica. Agora, contudo, a perspectiva é de avanço, pois será possível realizar todas essas pesquisas com microrganismos de alto risco biológico de forma segura, resultando, então, em pesquisas que impactam positivamente tanto a sociedade quanto a comunidade acadêmica.
Esse laboratório possui também o diferencial de ser uma estrutura multiusuária. Esse tipo de estrutura favorece a integração entre diferentes departamentos e, também, a integração entre professores e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, o que é essencial para o desenvolvimento da ciência.
Assim, essa estrutura vai ser compartilhada com vários programas de pós-graduação e cursos de graduação que a UFLA possui. Pretende-se, essencialmente, realizar pesquisas envolvendo as áreas de saúde humana e saúde animal, contemplando atividades dos programas de pós-graduação e os cursos de graduação das áreas de medicina veterinária, medicina, nutrição, química, zootecnia e educação física.
Essa conquista garante, ainda, oportunidades de parceria com outras instituições de pesquisa, que poderão procurar a UFLA, já que laboratórios com esse nível de biossegurança são escassos no Brasil.
As pesquisas
De acordo com o professor Antônio Chalfun Junior, coordenador de um subprojeto, serão desenvolvidas, por exemplo, pesquisas relacionadas à interação parasito-hospedeiro, o que inclui vírus, bactérias e fungos, agentes causadores de doenças. Com a nova estrutura, será possível alcançar um melhor entendimento nessa relação parasito-hospedeiro, focando-se na saúde.
Além disso, o pró-reitor de pesquisa, Luciano José Pereira, garante que a estrutura desse laboratório vai capacitar a estrutura institucional para que se possa fazer pesquisas envolvendo a Covid-19 e também outras doenças e infecções emergentes e reemergentes.
Há, também, a possibilidade de execução de trabalhos pré-clínicos, que são estudos feitos com células ou com animais de laboratório. Esses trabalhos pré-clínicos são, portanto, etapas preliminares feitas antes da realização de pesquisas diretamente em seres humanos.
Com a nova estrutura, poderão ser realizadas tentativas de testar medicamentos e formas alternativas de tratamento em células e em animais de laboratório. O teste desses medicamentos antes de passar para uma fase clínica reduz de forma significativa quaisquer riscos que envolvem pessoas.
Novas possibilidades
A professora Elaine Maria Seles Dorneles, da Faculdade de Zootecnia e Medicina Veterinária (FZMV), trabalha constantemente com microrganismos, principalmente bactérias que causam doenças na população humana e nos animais. Atualmente, a principal linha de pesquisa de Elaine envolve a bactéria Brucella abortus, que causa brucelose nos bovinos, em outras espécies domésticas e no homem. Esse microrganismo só pode ser manipulado em laboratórios com nível de biossegurança 3, e agora será possível desenvolver todos os experimentos no novo laboratório da UFLA.
Elaine também destaca que o trabalho com patógenos que são lesivos e causam prejuízos para a pecuária, as lavouras e os vegetais poderá ser feito na própria Universidade. Isso se deve ao fato de que alguns patógenos exigem esse nível de biossegurança: só se pode trabalhar com eles no nível 3.
Outro ponto importante é que, além de servirem à pesquisa, esses espaços contribuirão para a extensão e o ensino, especialmente para a formação de pós-graduandos. Elaine, por exemplo, possui vários alunos de pós-graduação que desenvolvem esses projetos, mas todos eles têm que fazer a parte experimental em Belo Horizonte ou em Pedro Leopoldo, lugares que possuem laboratórios com nível de biossegurança 3. Agora, isso não será mais necessário.
Trabalhos com testes diagnósticos, avaliação de vacinas e epidemiologia genômica também poderão se desenvolver diretamente no novo laboratório da UFLA.
Assista ao vídeo com essas e outras informações.