Dinâmica da Covid-19 em Lavras é tema da primeira dissertação da UFLA sobre a pandemia
A expansão da Covid-19 no município de Lavras é tema da primeira dissertação de mestrado sobre a pandemia defendida na Universidade Federal de Lavras (UFLA). A pesquisa analisa dados sobre a doença no período de 30 de março de 2020 a 30 de abril de 2021, com o propósito de compreender a dinâmica de transmissão e contribuir para seu enfrentamento.
O estudo baseia-se no acompanhamento da incidência de casos e óbitos por Covid-19, seguido de georreferenciamento. Os dados utilizados foram obtidos em bancos da Vigilância Epidemiológica do município de Lavras, do Ministério da Saúde, da Universidade Federal de Juiz de Fora, da Universidade Federal de Lavras ou em documentos públicos. A pesquisa foi realizada pela pós-graduanda Mariana Almeida Torquete, com a orientação da professora Joziana Barçante
Entre os principais resultados, a pesquisa evidencia que a epidemia em Lavras não surgiu em um ponto focal, mas a partir de vários casos isolados, que provocaram sua dispersão. As primeiras notificações ocorreram em regiões centrais da cidade, entre a população com maior poder aquisitivo. Em seguida, ocorreu o aumento de casos na periferia e nos bairros com maior número de trabalhadores informais, ligados às atividades domésticas e/ou comerciais.
“Esse padrão de distribuição dos casos no município corrobora o padrão descrito por pesquisas que constataram o registro primário do maior número de casos de Covid-19 nas maiores e mais desenvolvidas metrópoles nacionais, com posterior dispersão para os bairros mais pobres da cidade”, observa Mariana.
A maior concentração de casos foi registrada na área urbana, com ocorrências espaçadas na região rural. A distribuição ao longo do tempo foi heterogênea, sem um padrão fixo de densidade: no período, foram observadas mudanças de pontos de maior densidade, em diferentes bairros da cidade.
A pesquisadora afirma que, no início da pandemia, foram adotadas medidas de restrição mais rigorosas, que contribuíram para desacelerar a velocidade de infecção e reduzir a taxa de crescimento da doença. Contudo, a perda de capacidade econômica de indivíduos e empresas conduziu à flexibilização das atividades e à adesão ao programa estadual Minas Consciente de retomada das atividades econômicas.
A análise da série temporal demonstrou uma curva ascendente desde o registro do primeiro caso, em março de 2020. Observou-se um padrão relativamente estável ao longo de todo o ano de 2020, com algumas elevações discretas em períodos específicos. Em janeiro de 2021, a elevação tornou-se mais acentuada, com uma queda significativa do número de casos diários em fevereiro, seguida de um novo aumento nos meses seguintes. De janeiro a dezembro de 2020, foram notificados 876 casos, ao passo que nos quatro primeiros meses de 2021 foram 3.140 casos.
“O decréscimo de fevereiro foi acompanhado da queda no percentual de ocupação de leitos clínicos e de terapia intensiva, seguindo os dados já apontados na literatura mundial, na qual se evidencia que a ocupação de leitos tem relação direta com o número de casos de indivíduos infectados”.
Entretanto, dados divulgados pela Prefeitura Municipal de Lavras também apontaram uma redução na testagem nas unidades de saúde e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no mês de fevereiro, “fato que pode ter reflexo direto no número de indivíduos positivos, uma vez que eles deixam de ser detectados”, observa Mariana.
No que diz respeito ao perfil dos infectados, entre os que declararam o sexo biológico, 47,7% eram do sexo masculino e 52,3% do feminino. A média de idade dos acometidos em 2020 (42,9 anos) foi ligeiramente maior do que em 2021 (37,1 anos). A faixa etária de 20 a 52 anos foi a mais acometida no período.
Apesar disso, o maior número de óbitos do período foi registrado entre os idosos. Do total de 87 mortes de moradores de Lavras no período, 83 ocorreram na cidade, acometendo 62 pessoas com idade entre 60 e 88 anos e 21 na faixa etária de 34 a 59 anos. Diferentemente da incidência de casos, os óbitos apresentaram uma tendência de concentração em três regiões, localizadas no centro e centro-sul do município.
Na análise das comorbidades, constatou-se que 15,6% das fichas de notificação não apresentavam menção à ocorrência de comorbidades, 72,29% das pessoas levadas a óbito possuíam uma ou duas comorbidades; 13,25% apresentaram três ou quatro e um paciente (1,2%) apresentou cinco. A doença cardiovascular foi a comorbidade mais frequente, presente em 45,8% dos pacientes, seguida de diabetes mellitus, com 22,6%.
“Os dados corroboram outros estudos, que verificaram mais de 80% da mortalidade de adultos em idosos acima de 65 anos. No Brasil, a maioria dos casos fatais também foram de idosos com comorbidades, o que também se relaciona com os dados do presente estudo, no qual foi constatada a presença de pelo menos uma comorbidade nos pacientes que foram a óbito”, afirma.
A orientadora da pesquisa, professora Joziana, afirma os resultados ajudam a entender a dinâmica da infecção, os grupos vulneráveis e a causa da letalidade no município de Lavras. Com os resultados obtidos, é possível identificar as zonas de maior risco de transmissão e subsidiar ações da vigilância, monitoramento e controle da doença”.
A dissertação foi defendida na quarta-feira (26/5), no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFLA. Além da orientadora, participaram da banca o professor da Unilavras Cássio Vicente Pereira, o doutor em Ciências Fisiológicas vinculado ao Instituto de Ciências Naturais UFLA Dirceu de Sousa Melo e a doutora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias Karla Silva Teixeira Souza.