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Educação

Estudo aponta como a educação modifica a relação entre infância e necropolítica

Escrito por Comunicação UFLA | Publicado: Quarta, 15 Setembro 2021 09:00 | Última Atualização: Sexta, 19 Novembro 2021 08:19

Necropolítica é um conceito apresentado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, que faz referência ao uso do poder social e político para decretar como algumas pessoas podem viver e outras devem morrer; ou seja, é instrumento analítico-teórico que considera como a sociedade contemporânea está atravessada pela normalização da morte violenta, sobretudo a das pessoas pertencentes a grupos minoritários. 

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Ao levar em consideração o amplo espectro da necropolítica no contexto da educação infantil, um estudo realizado por pesquisadores nacionais e estrangeiros resultou no dossiê “Infâncias e Necropolítica: outros possíveis”, publicado na Revista Internacional Childhood & Philosophy, referência em divulgação científica na área da Educação Infantil e outras questões contemporâneas. 

O conjunto do dossiê revela a centralidade das infâncias, pois, historicamente, as crianças ficaram à margem das pesquisas acadêmicas; logo, buscou-se inverter a margem e o centro desse enfoque. Dessa maneira, contribui-se com as intervenções a anunciar um compromisso social e acadêmico com a justiça cognitiva e social. 

O professor Alexandre Filordi, da Faculdade de Educação, Linguagens e Ciências Humanas da Universidade Federal de Lavras (Faelch/UFLA), e a professora Ellen Lima Souza, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), organizadores do dossiê, explicam que o intuito do trabalho é pensar a formação de estratégias de tensão e modificação nos quadros micropolíticos, pois se as crianças aprendem a ser racistas na ampla lógica necropolítica, desde a mais precípua socialização, também podem aprender a não ser racistas. 

“Indagar por outros possíveis, tomando por centralidade as crianças, é atentar-se para toda experimentação que as crianças são capazes de empreender como desterritorialização necropolítica.  Para tanto, os artigos sustentam que outros possíveis para uma comunidade de vida - movida por políticas de afetos, sensíveis às singularidades e diferenças humanas, produzindo valores para além da cova profunda da herança maldita colonial - não se fazem sem a educação”, ressalta o professor Alexandre Filordi. 

Fazem parte do estudo o Grupo de Investigação e Invenção de Teorias Transversais para a Educação (Gritte/UFLA/CNPq) e o Grupo de Pesquisa Laroyê Culturas Infantis e Pedagogias Descolonizadoras (Laroyê/Unifesp/CNPq) que há muito se debruçam sobre a temática da exclusão escolar, da educação étnico-racial, das questões em torno da produção de diferenças e da subjetividade na sociedade contemporânea, além de temas como gênero, inclusão social, orientação sexual, movimentos sociais, entre outros. Essas pesquisas contam com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além de integrar Redes Internacionais de Pesquisa.

Na prática

Para compreender como a política determina quem deve morrer de maneira violenta no Brasil, os pesquisadores apontam dados do relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), denominado ‘Situação dos Direitos Humanos no Brasil’. Entre 2007 e 2017, o Brasil registrou 618 mil homicídios. É uma média de quase 62 mil homicídios por ano. 73,1% das mortes são de homens e mulheres negras. 

“A morte violenta no contexto da população negra no Brasil é aceita por uma necropolítica, que acaba sendo a recepção “normal” de que há vidas que não importam ser vividas. O problema é que isso começa com a criança negra e no seu entorno de vulnerabilidade. Casos de mortes violentas na favela do Jacarezinho (RJ) é um exemplo também; assim como o registro de morte de várias crianças por balas “perdidas””, aponta o pesquisador. 







 
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