Pesquisadora da UFLA participa de estudo global sobre o crescimento de árvores tropicais publicado na Nature Geoscience
O crescimento do tronco das árvores tropicais é menor nos anos em que a estação seca é mais intensa e quente do que o normal. Essa é a principal descoberta de um estudo global sobre os anéis de crescimento de árvores tropicais publicado na revista científica Nature Geoscience. O artigo “Tropical tree growth driven by dry-season climate variability”, liderado por pesquisadores da Wageningen University & Research, Universidade Estadual de Campinas e University of Arizona, contou com a participação da professora Ana Carolina Maioli Campos Barbosa, da Escola de Ciências Agrárias (Esal) da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Conforme a docente, o artigo é uma parceria entre pesquisadores de diversas partes do mundo que trabalham desenvolvendo cronologias baseadas em anéis de árvores. “Isso permitiu uma visão macro do que aconteceu nos anos passados em relação ao clima”, explica Ana Carolina.
As cronologias derivam de 99 espécies de árvores de 30 países tropicais e subtropicais, de cinco continentes. Foram obtidas mais de 14.000 séries de dados de crescimento anual de árvores de 350 localidades nos trópicos. Os pesquisadores observaram que, em regiões mais áridas ou mais quentes, o efeito negativo no crescimento é mais acentuado em anos mais secos e mais quentes. Esses resultados sugerem que as mudanças climáticas podem aumentar a sensibilidade das árvores tropicais a flutuações climáticas.
Os resultados do estudo ajudam a compreender as grandes flutuações na absorção de carbono pela vegetação tropical, em nível mundial. De acordo com o primeiro autor, professor Pieter Zuidema, da Wageningen Univeristy & Research, "simulações de modelos de dinâmica de vegetação mostram que, durante anos mais quentes ou mais secos, a vegetação tropical cresce menos e, portanto, absorve menos CO2 da atmosfera. Mas, até agora, faltavam medições reais do crescimento dessa vegetação. Nossos resultados fornecem, assim, uma base empírica a esses modelos globais".
Outra descoberta da pesquisa foi em relação ao desenvolvimento das árvores durante o clima seco: nesse período, houve um efeito mais forte no crescimento das árvores do que durante a estação chuvosa. A hipótese dos pesquisadores é de que isso ocorra porque a água está disponível por mais tempo durante anos com estações secas mais úmidas ou com temperaturas mais amenas; dessa forma a estação de crescimento é mais longa, levando a um maior crescimento das árvores.
O estudo aponta ainda que, com o aquecimento global, é esperado que a temperatura nas localidades de onde foram coletadas as amostras aumente meio grau a cada década no futuro. Por isso, os autores esperam que as estações secas mais quentes e áridas terão um efeito negativo no crescimento das árvores tropicais. Caso o crescimento mais lento aumente a probabilidade de mortalidade das árvores, as vegetações tropicais podem tornar-se mais frequentemente uma fonte de CO2 em vez de um sumidouro deste gás de efeito de estufa.
Nova rede global
Com a formação da nova rede global de anéis de crescimento, o estudo preenche uma importante lacuna, segundo explica o professor Pieter: "em mapas globais mostrando os locais de estudos com anéis de crescimento, tipicamente há um buraco no meio, nos trópicos. A nossa rede preenche essa lacuna de dados tropicais". Juntamente com a publicação do estudo, os dados de crescimento de árvores de mais de 100 novas localidades de estudo serão disponibilizados gratuitamente na base de dados internacional de anéis de crescimento, o International Tree-ring Databank (ITRDB).
Anéis de crescimento
Os anéis de crescimento são círculos observados no tronco de algumas plantas, principalmente nas de clima temperado. A espessura desses anéis pode ser afetada por fatores ambientais; portanto, a largura de um anel para outro é maior devido a uma maior quantidade de chuvas durante um ano, mostrando que a árvore cresceu. Se o espaço entre um anel e outro é estreito, quer dizer que houve um período de seca. A Dendrocronologia é a ciência capaz de estabelecer a idade de uma árvore, por meio dos anéis de crescimento presentes em seu tronco. Porém, os estudos em florestas tropicais começaram há pouco mais de 30 anos. Na UFLA, as pesquisas nessa área tiveram início em 2015, em parceria com a Universidade do Arkansas (University of Arkansas), dos Estados Unidos.