Pesquisa da UFLA destaca os impactos ecológicos causados pelas mudanças nas paisagens florestais da Amazônia
![Transições de uso do solo na Amazônia: de florestas para agricultura mecanizada. Créditos: Marizilda Cruppe / Rede Amazônia Sustentável. Foto da floresta e da área agrícola no entorno](/images/noticias/2022/07_JUL/Amazonia_Artigo_Cássio.jpg)
Um estudo sobre as mudanças na paisagem da Amazônia, publicado recentemente na “Proceedings of the National Academy of Sciences –PNAS (Academia Nacional de Ciências do Estados Unidos), destacou os impactos ecológicos e também as oportunidades para ações positivas da floresta tropical mais biodiversa do mundo.
A pesquisa internacional "Linking land-use and land-cover transitions to their ecological impact in the Amazon" ("Associando as transições de uso e cobertura da terra ao seu impacto ecológico na Amazônia") foi liderada por Cássio Alencar Nunes e contou com a participação do professor Jos Barlow, ambos do Instituto de Ciências Naturais da Universidade Federal de Lavras (UFLA), de membros do Departamento de Ecologia e Conservação e de pesquisadores da Lancaster University do Reino Unido. Eles examinaram os impactos ecológicos causados pelas mudanças nas paisagens florestais em duas regiões do estado do Pará – Santarém e Paragominas.
O estudo apontou que o desmatamento para pastagens foi a transição mais prevalente e de alto impacto na Amazônia brasileira, embora outras transições também tenham causado a redução na biodiversidade e nos estoques de carbono, além de terem alterado as propriedades do solo. “As modificações incluem desmatamento e degradação de florestas primárias, por exemplo, através de corte seletivo e fogo; mas até mesmo as paisagens desmatadas estão mudando à medida que o abandono das terras agrícolas leva à regeneração das florestas secundárias. Como resultado, muitas paisagens tropicais hoje são um mosaico de usos do solo não florestais, florestas secundárias regenerando e florestas primárias degradadas”, explica Cássio.
Para a pesquisa, foram coletados dados em 310 locais. Os pesquisadores focaram em como as mudanças afetam a biodiversidade, examinando mais de 2.000 espécies de árvores, cipós, aves e insetos. Eles também avaliaram os estoques de carbono e as propriedades do solo. Também foram utilizados dados publicados sobre o quão rápido a paisagem mudou na última década no período de 2006 a 2019.
Os resultados mostram que as transições de florestas primárias e secundárias para pastagens por meio do desmatamento somaram 24 mil km² por ano, sendo que a riqueza de espécies de quase todos os grupos de biodiversidade diminuiu entre 18% e 100% nos locais em que as florestas primárias e secundárias foram convertidas para pastagens e para agricultura mecanizada. As transições de floresta para agricultura mecanizada tiveram o maior impacto ecológico, mas ocorreram menos frequentemente do que as conversões de floresta para pastagens. “O desmatamento de florestas primárias para criação de pastagens é a mudança de uso do solo mais prejudicial na Amazônia Brasileira; isso ressalta a importância crítica e urgente do combate ao desmatamento, que vem aumentando nos últimos anos”, comenta o pesquisador.
Em contrapartida, o estudo também revelou a importância de proteger as florestas secundárias e permitir que elas amadureçam. Os pesquisadores notaram que a diversidade de árvores grandes em florestas secundárias dobrou e a de árvores pequenas aumentou em 55 % quando essas florestas atingiram mais de 20 anos, trazendo ganhos de biodiversidade e armazenamento de carbono.
Os pesquisadores também descobriram que a mudança entre os tipos de agricultura e de pastagem de gado para agricultura mecanizada mais intensiva diminui a biodiversidade. A diversidade de formigas e pássaros, por exemplo, diminuiu em 30 % e 59 %, respectivamente. “Essas são descobertas importantes, pois mostram que há uma infinidade de ações que podem ser tomadas para proteger e melhorar a ecologia da Amazônia. Nossa análise ajuda a definir e priorizar as ações locais e regionais necessárias para estimular uma Amazônia melhor”, destaca Cássio.
O professor de Ciências da Conservação Jos Barlow lembra que esse estudo tem outras implicações para a conservação e formulação de políticas públicas. “Nossos resultados enfatizam mais uma vez a importância de combater o desmatamento, bem como os benefícios adicionais de evitar a degradação e aumentar a permanência das florestas secundárias. No entanto, alcançar isso exigirá transformar a maneira como a Amazônia é gerenciada atualmente, incluindo uma integração muito maior entre ciência, política e práticas locais. Nós esperamos que a biodiversidade possa ser incluída nas ações de mitigação de mudanças climáticas e que isso possa ser enfatizado na próxima COP15 de Biodiversidade”, completou.