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SERVIÇO

Após casos de intoxicação no País, produtores de cachaça buscam UFLA para testar qualidade da bebida

Escrito por Ana Eliza Alvim | Publicado: Sexta, 10 Outubro 2025 13:40 | Última Atualização: Sexta, 10 Outubro 2025 15:45

Com os casos de intoxicação por metanol registrados nas últimas semanas, a partir da ingestão de bebidas alcóolicas, pesquisadores do Centro de Referência em Análise de Qualidade de Cachaça da Universidade Federal de Lavras (UFLA) registraram aumento significativo na procura de produtores pelos serviços de testagem de amostras de bebidas e por orientações. A preocupação é garantir e manter a qualidade de seus produtos.

De acordo com a coordenadora do Centro, professora Maria das Graças Cardoso, em um levantamento sobre os mais de 400 laudos emitidos pelo laboratório em 2024 e 2025, foi possível observar que o metanol aparece predominantemente como “não detectado” ou com concentração muito abaixo da máxima permitida. “O máximo que encontramos foi 1,47 mg/100 mL de álcool anidro, quando são aceitos até 20 mg/100 mL. Isso sugere que a cachaça de alambique produzida em Minas Gerais não tem histórico de contaminações, de acordo com nossos registros”.

A professora explica que, no processo de produção da cachaça, o metanol é formado a partir da presença de bagacilhos de cana de açúcar, quando ocorre a filtragem inadequada do caldo de cana. Durante a fermentação pela ação de enzimas pécticas de levedura, os bagacilhos presentes no caldo são transformados no ácido galacturônico e posteriormente em metanol. “A eliminação dessas partículas sólidas pode ser feita filtrando-se o suco em peneiras específicas ou aplicando-se tratamentos químicos e térmicos para floculação, coagulação e sedimentação de colóides”, diz. 

Com esses procedimentos, obtém-se o caldo mais claro, com menor contagem microbiana de contaminantes, ideal para fermentação. “Além disso, o metanol entra em ebulição a uma temperatura mais baixa que o etanol. Por isso, ele é liberado primeiro no processo de destilação, em uma parte inicial chamada de fração cabeça da cachaça. Essa fração é descartada pelos produtores experientes, porque contém substâncias indesejáveis. Quando o corte é feito corretamente e o caldo é bem filtrado, o metanol não permanece na bebida”, explica Maria das Graças.

A presença de metanol é um dos parâmetros avaliados na identidade e qualidade da cachaça, exigido pelo Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa). “Fazemos estas análises desde o ano 2000, por Cromatografia Gasosa por Detecção de Ionização de Chamas (GC/FID), o tipo de teste adotado como método oficial pelo Mapa”, diz a professora.

No caso de dúvidas ou necessidade de realização de testes na cachaça, os interessados podem entrar em contato com o Centro de Referência da Cachaça pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e pelos telefones (35) 99975-3727, (35) 3829-1630, (35) 99883-8471, (35) 999753727, (35) 3829-1202.

Possibilidade de testes rápidos com o equipamento NIR 

Pesquisadores da Esal/UFLA testam NIR como técnica rápida de identificação de metanol
Pesquisadores da Esal/UFLA testam NIR como técnica rápida de identificação de metanol

Pesquisadores da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal/UFLA) que trabalham com a técnica de espectroscopia no infravermelho próximo (NIR) também têm testado o equipamento, geralmente utilizado para outros estudos, para detectar e quantificar a presença de metanol em bebidas destiladas de forma rápida. Os ensaios feitos até o momento utilizaram misturas com diferentes concentrações de metanol em vodka e cachaça, e submeteram-nas às análises com o equipamento, a partir de modelos de calibração programados pela equipe, e à análise multivariada. Os resultados de alto desempenho demonstram que a técnica NIR é uma alternativa rápida, precisa e sustentável para identificar fraudes e garantir a segurança do consumidor. 

Segundo o professor Paulo Ricardo Gherardi Hein, um dos responsáveis pelo estudo, os testes mostram que a técnica é uma alternativa que pode ser utilizada por órgãos fiscalizadores, indústrias e até pequenos produtores. “É uma possibilidade que viabiliza inspeções em campo, reduz custos de análise e acelera o combate a fraudes no setor de bebidas. Além disso, contribui para aumentar a segurança do consumidor, prevenir intoxicações e fortalecer a credibilidade dos produtos brasileiros no mercado nacional e internacional”, argumenta.

O grupo de estudos também está à disposição para realização de testes em bebidas comercializadas em Lavras e região, buscando dar segurança para os consumidores. O contato pode ser feito pelos e-mails Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

Além do professor Paulo, participam da iniciativa os doutorandos do Programa de Pó-Graduação em Ciência e Tecnologia da Madeira (PPGCTM) Luiza Mendonça Bonfim Tavares e Thalles Loiola Dias; a técnica administrativa Vanuzia Rodrigues Fernandes Ferreira; e os docentes do Departamento de Ciências Florestais Thiago de Paula Protásio e Paulo Fernando Trugilho.

Apurações: Claudinei Rezende, Jovana da Paixão Cesar e Ana Eliza Alvim.

 
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